quinta-feira, 6 de junho de 2024

O império Ashanti




O império Ashanti (sec. XVII-XIX) foi uma complexa forma de organização política centralizada que se estabeleceu na região conhecida como “Costa do Ouro”, em um território que atualmente englobaria os países de Togo e Gana. O aparelho estatal Asante trouxe uma série de novidades em relação a outros reinos africanos que se haviam estabelecido na região, como uma modalidade de burocracia pública até então desconhecida nas sociedades africanas, em consequência da sua força mobolizadora expansiva. Nos debates historiográficos sobre a ascensão e queda do Império identifica-se, frequentemente, o argumento de que os britânicos, através de seu aparato militar, foram os principais responsáveis por sua desestruturação. Porém, com base em um recorte histórico focado nas dinâmicas internas das sociedades africanas, vemos que as respostas para a sua ascensão e dissolução são duas faces da mesma moeda. A forma como a balança de poder africana se apresentava no período pré colonial, assim como as consequências diretas e indiretas relacionadas com a integração económica com o mundo atlântico por via do tráfico de escravos, indiciam as estruturas políticas, económicas e sociais do Império.




A relação do império Ashanti com outros poderes que se encontravam em atividade na costa da África Ocidental levou a diversas consequências, sendo uma das mais importantes a inversão da ordem “Guerra como objetivo / escravos como consequência” para “Aquisição de escravos como objetivos / guerra como consequência”. Este acontecimento foi um reflexo de um processo económico, gradual, que fez com que a escravidão se tornasse a base do poder político e económico regional. As forças do mercado global cada vez mais incorporavam os agentes africanos dentro das suas estruturas. Ao mesmo tempo centrifugavam a região através do condicionamento dos seus líderes. O litoral da África Ocidental funcionava como placa giratória da transação de bens. Era daí que resultava o poder dos axantes, um importante grupo étnico do Gana. Eles foram um povo poderoso, militarista e altamente disciplinado da África Ocidental. Os antigos axantes migraram das imediações da região noroeste do Rio Níger após a queda do Império do Gana no século XIII. Evidência disto está nas cortes reais dos reis acãs, refletida pela dos reis axantes cujas procissões e cerimónias mostram resquícios de antigas cerimónias do Gana. Etnolinguistas têm comprovado a migração pelo uso das palavras e pelo padrão de fala ao longo da África Ocidental.




Por volta do século XIII, os axantes e vários outros acãs migraram para o cinturão da floresta do Gana atual e estabeleceram pequenos estados na região montanhosa em volta da atual cidade de Cumasi. No auge do império do Mali, os axantes e o povo acã em geral enriqueceram com o comércio do ouro extraído do seu território. No início da história axante, este ouro foi negociado com os importantes impérios do Gana e Mali.

Uma confederação axante surgiu graças ao esforço de Osei Tutu I com alianças com povos vizinhos por política matrimonial e pressão diplomática. De acordo com as tradições orais, o sacerdote Okomfo Anokye teria feito descer do céu um assento de ouro (sikadwa) que pousou em cima dos joelhos de Osei Tutu I. Esse seria o símbolo da confederação axante, o qual se destruído, ou capturado por outros inimigos, todo o reino cairia no caos de acordo com Okomfo Anokye.

A organização política acã era centrada em vários clãs, cada uma chefiada por um Chefe Supremo ou Amanhene. Um desses clãs, os Oiocos, assentados na sub-região de floresta tropical do Gana, estabeleceu um centro em Cumasi. Durante a elevação de outro Estado acã conhecido como Denquiera, axante tornou-se tributário. Mais tarde em meados de 1600, o clã Oioco sob a chefia de Oti Akenten começou a consolidar outros clãs axantes em uma confederação livre que ocorreram sem destruir a autoridade suprema de cada chefe sobre seu clã. Isto foi feito em parte por agressão militar, mas em grande parte por uni-los contra Denquiera, que anteriormente haviam dominado a região.



Com base em relatos orais e fontes primárias podemos estabelecer o povo Ashante como um amalgama de 5 grupos étnicos: Akans, Ga, Ewe, Guan e Mole-Dagnabi. A partir do século XVIII os Ashantes, como povo, estavam dispersos ao longo da Costa do Ouro, em 3 regiões principais. Os Akans, cuja tradição oral estabelece os princípios dos mitos fundadores, possuíam duas subdivisões importantes entre seus clãs: A primeira categoria, Akan Fo, que abrangia os Ashanti era considerada como oriunda de povos autóctones que surgiram nas florestas. A segunda subdivisão dos akan, Epeto-Fo, abrangia povos como os Fante que possuíam algumas diferenciações culturais vistas na própria denominação que pode ser traduzida como “povo estrangeiro”. 

A diferenciação étnica, que se foi acentuando ao longo dos anos por pressões geográficas, e pressões económicas. Esse processo de emigração dos Akan havia-se iniciado em torno de 1500. Kumasi (a futura capital do Império) foi uma das primeiras regiões a serem ocupadas, e depois se dispersou ao longo de toda a região. Os motivos para tais processos eram não paenas políticos, mas envolviam conflitos e projeção de poder económico. Era a exploração das reservas auríferas e de produtos agrícolas. A pressão demogr´fica fazia o resto, que era inerente à “subsistência” da comunidade. Esse processo de emigração também pode ser explicado pela pressão que Impérios e Reinos, no entorno e interior da África Ocidental, fizeram sobre estes povos. De maneira a não serem incorporados, os tributados, os povos da região, precisaram de se estabelecer num local que tanto lhes garantisse meios de sobrevivência como proporcionasse uma base material capaz de garantir acesso às principais rotas de comércio. 

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