terça-feira, 18 de junho de 2024

A família Farnésio e o Ducado de Parma e Placência



A família Farnésio foi uma influente família italiana da aristocracia que ostentou o Ducado de Castro entre 1537 e 1649 e o Ducado de Parma e Placência entre 1545 e 1731. Os seus importantes membros incluíram o papa Paulo III e os duques de Parma e de Placência. O poderio dos Farnésio e a sua ligação com as mais ilustres famílias romanas teve lugar desde tempos de Rainúncio Farnésio, o Velho [1390-1450]. Era um protegido do papa Eugénio IV. Rainúncio casou o seu filho Gabriel Francisco com Isabel Orsini. O filho Pedro Luís foi o continuador com Joana Caetani. Foi desse casamento que nasceram: Paulo III, o papa; e Júlia Farnésio.

Entre os séculos XVI e XVII os Farnésio distinguiram-se pela sua protecção às artes. A eles se deve a construção do Palácio Farnésio em Roma, da Villa Farnese, em Caprarola, da Igreja de Jesus em Roma e do Palácio della Pilotta em Parma, atualmente a Galeria Nacional de Parma. O último Farnésio soberano de Parma foi António Farnésio [1679-1731]; ao morrer sem sucessão direta, o ducado passou para o filho da sua sobrinha Isabel Farnésio e do monarca espanhol Filipe V, o terceiro filho varão infante Filipe de Bourbon, que fundou a Casa de Bourbon-Parma.



Palácio Caprarola - Villa Farnese

Portanto, o Ducado de Parma e Placência foi um Estado que existiu na Península da Itália, de 1545 a 1859. Paulo III passou-o ao filho Pedro Luís Farnésio, cujos descendentes, por via masculina, o governaram até 1731. Ocupava o território das atuais províncias de Parma e Placência, na atual região italiana de Emília-Romanha. Durante o período ducal, conheceu uma fama particular pela sua escola de pintura, com artistas do nível de Correggio. O apoio dos duques favoreceu a realização de obras arquitetónicas que transformaram Parma de capital de um pequeno ducado, nascido sob o nepotismo papal, a uma grande cidade.


Em 1731, o duque António Farnésio morreu sem deixar descendentes. O ducado passou assim à sobrinha Isabel Farnésio a qual, tendo desposado em 1714 Filipe V de Espanha, o transmitiu aos Bourbons. Este período durou até ao fim do ducado, mas foi interrompido por dois períodos de regência dos Habsburgos e uma anexação ao Império Francês de 1808 a 1814.



Isabel Farnésio com Filipe V de Espanha
por Louis-Michel van Loo

Pedro Luís Farnésio tomou posse de seu estado em 23 de setembro de 1545, permaneceu em Parma uns poucos meses e depois transferiu-se para Placência, escolhendo-a como capital e sede da corte. Não mostrou nenhuma gratidão ao Papa, considerando a formação do ducado como mérito totalmente seu, e buscou deixar de ser vassalo dos Estados Pontifícios e tornar-se vassalo do Sacro Império Romano-Germânico, coisa que o imperador Carlos V o recusou. 

Os primeiros empreendimentos constam da abertura de numerosas escolas (onde se ensinavam a medicina, o direito, a literatura grega e latina); a construção de novas vias de comunicação para favorecer o comércio; a reforma do sistema administrativo seguindo o modelo milanês; a reforma do sistema judiciário e deu forte avanço à agricultura, abolindo a taxa sobre os animais, reparando estradas rurais, reconstruindo ou restaurando pontes e melhorando o regime de águas. Para a indústria e o comércio, melhorou as comunicações entre as várias regiões do ducado e desenvolveu o serviço postal.

Para garantir a segurança do Estado, Pedro Luís criou as legiões compostas de cinco companhias de 200 infantes cada, e uma guarda pessoal. Pedro Luís sabia bem que os nobres o odiavam e que o povo não tinha por ele grande simpatia. Assim, para melhor controlar a situação, decidiu que quem tivesse uma renda superior a 200 escudos devia residir na cidade, sob pena de perda dos bens. Todas estas precauções eram necessárias porque Carlos V, que entretanto se havia tornado hostil ao papa, não tinha gratidão pela cessão do ducado a Pedro Luís. Devido a esta hostilidade, havia recomeçado a formação da facção dos guelfos com o papa, a França, Veneza, Parma e Ferrara e da facção gibelina com o imperador, Espanha, Génova, os Médici e os Gonzaga. Foi Ferrante I Gonzaga, governante de Milão que, tendo descoberto que o imperador queria apoderar-se do ducado de Parma e Placência com a morte do papa, decidiu atacar os Farnese aos quais dedicava um ódio mortal.

No tempo das campanhas de Itália, Napoleão pagou às suas tropas à custa da riqueza do Piemonte. Assim conquistou a Lombardia expulsando os austríacos de Itália. Beaulieu tinha disposto as suas tropas numa frente de quase 100 Km de extensão que, na margem norte do rio Pó, cobria todos os possíveis locais em que era possível atravessar aquele rio. Napoleão chegou no dia 6 de maio de 1796 a Castel San Giovanni e, no dia seguinte iniciou a travessia do rio Pó em Placência.

Os Franceses tinham recebido reforços e eram agora mais numerosos que as tropas de Beaulieu. No dia 3 de maio, os Franceses reuniram uma força formada por seis batalhões de granadeiros e fuzileiros, sob o comando do general de brigada Dallemagne. Durante os dias 5 e 6, esta força percorreu quase 90 Km até à ponte em Placência. O Major de Artilharia Antoine-François Andréossy, conseguiu reunir um conjunto de barcaças. A operação de travessia foi executada sob comando do coronel Jean Lannes. Encontraram uma resistência muito ligeira e a operação foi um sucesso. No dia seguinte entraram em contacto com o flanco esquerdo de Beaulieu e registaram-se alguns combates.

No dia 9, todo o exército de Napoleão tinha atravessado o rio Pó. Nesta operação, durante a noite, o general Laharpe foi mortalmente atingido por um atirador francês da sua própria unidade. Placência, onde foi feita a travessia do rio Pó, pertencia ao Ducado de Parma e era uma cidade neutral. Napoleão não só infringiu a neutralidade de Parma como ainda cobrou ao duque 80 000 libras a fim de pagar às tropas francesas. Também fez grandes requisições de abastecimentos e enviou para Paris vinte pinturas de Miguel Ângelo e Correggio. No Ducado de Módena, procedeu de igual forma. Na realidade, estava a cumprir ordens do Diretório.

Em 9 de junho de 1859, Luísa de Bourbon, duquesa regente, e seu filho, o duque Roberto I, foram obrigados a abandonar o ducado não antes de ter escrito uma carta de protesto. Em 15 de setembro de 1859, foi declarado fim da dinastia dos Bourbon-Parma e o território passou a fazer parte da então província de Emília (hoje região da Emília-Romanha). Em 5 de março de 1860 o ducado passou, mediante plebiscito, ao Reino da Sardenha, e depois ao Reino de Itália. Atualmente, embora o ducado não exista há mais de um século, continua ainda a existir um duque simbólico. De 7 de maio de 1977 a 18 de agosto de 2010 este título simbólico estve a cargo de Carlo Ugo, descendente dos Bourbon-Parma, até falecer em 2010 com 80 anos.

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