quinta-feira, 4 de julho de 2024

O século XIX e o tempo dos autocratas




Nicolau I da Rússia

Nicolau I da Rússia, irmão de Alexandre I, foi conhecido por consolidar o poder autocrático na Rússia durante o século XIX. Ele reforçou o controlo do governo sobre a sociedade e implementou políticas conservadoras que limitavam a liberdade individual. Nicolau I abraçou uma missão imperial. Nicolau I acreditava firmemente no conceito de "autocracia iluminada", onde ele via o seu papel como imperador como uma missão divina para governar e modernizar o império russo. Ele buscava promover o poder imperial e expandir a influência russa tanto a nível interno como no cenário internacional.

Nicolau I esmagou a revolta polaca em 1830. Nicolau I enfrentou uma grande revolta na Polónia em 1830, que buscava a independência do domínio russo. Ele reprimiu brutalmente essa revolta, demonstrando sua determinação em manter o controlo sobre as regiões sob o domínio russo. É verdade que durante o reinado de Nicolau I da Rússia, houve expansão russa no Cáucaso, incluindo a região que é hoje a Chechénia. A área estava sob domínio persa, e a Rússia gradualmente a anexou ao longo do século XIX, culminando no Tratado de Turkmenchay de 1828, que formalizou a cedência da região à Rússia por parte do Império Persa. Este foi parte do processo de expansão russa no Cáucaso, que teve implicações significativas para as populações locais e para a geopolítica da região.



Luís Filipe de França

Em 1830, houve a Revolução de Julho na França, que resultou na queda do regime monárquico de Carlos X e na ascensão de Luís Filipe. Esse evento marcou o fim da Restauração Bourbon na França e o início do período conhecido como Monarquia de Julho, que durou até à Revolução de 1848. Luís Filipe governou como um monarca constitucional, tentando equilibrar as demandas da classe média com os interesses da aristocracia. Luis Filipe era conhecido por promover uma imagem de "rei-cidadão", tentando se retratar como um monarca próximo do povo.



James Rothschild
fundador do ramo francês dos Rothschild

A família Rothschild, em particular James Rothschild, desempenhou um papel significativo no financiamento e desenvolvimento da indústria ferroviária na França durante o século XIX. Eles investiram em várias empresas ferroviárias e foram importantes impulsionadores do crescimento desse setor. Além disso, é conhecido que a família Rothschild tinha interesse na produção de vinhos, incluindo os vinhos Château Lafite, que eram altamente valorizados. Suas conexões financeiras e investimentos em diferentes setores frequentemente se entrelaçavam.

Houve especulações de que o personagem Vautrin em "Le Père Goriot" de Balzac foi inspirado em James Rothschild. Vautrin é retratado como um homem influente e astuto, cujas origens e riqueza são misteriosas, características que alguns associaram com James Rothschild. No entanto, Balzac nunca confirmou oficialmente essa inspiração, e é difícil afirmar com certeza.



Leopoldo
por Samuel William Reynolds


Leopoldo I foi o primeiro rei que se deve dizer dos Belgas, e não da Bélgica. Ele reinou de 1831 até à sua abdicação em 1865. O título de "rei dos Belgas" foi escolhido para indicar a natureza constitucional e limitada de sua autoridade, em contraste com os monarcas absolutos de outras épocas. Tanto Luís Filipe, como rei dos franceses durante a Monarquia de Julho na França, como Leopoldo I desempenharam papéis importantes na estabilização de seus países durante seus reinados. Eles trabalharam para promover o desenvolvimento económico, político e social, contribuindo para a estabilidade interna de suas nações.

Leopoldo era da família de Saxe-Coburgo e Gotha, uma casa nobre europeia com fortes laços históricos com várias monarquias, incluindo a família real britânica e portuguesa. Fernando II (nome completo em alemão: Ferdinand August Franz Anton Koháry von Sachsen-Coburg-Goth [Viena, 29 de outubro de 1816 – Lisboa, 15 de dezembro de 1885) foi o segundo marido da rainha D. Maria II e Príncipe Consorte de Portugal, de 1836 até 1837, altura em que se tornou Rei de Portugal e Algarves por direito de sua esposa. Era o filho mais velho do príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gota e da sua esposa, a princesa Maria Antónia de Koháry.


Fernando II de Portugal

Durante esse período, em que a Grécia estava sob o domínio otomano, houve vários levantamentos e revoltas gregas contra o domínio turco. O sultão Mahmud II foi obrigado a suprimir essas revoltas para manter o controlo sobre a região. Esses eventos foram parte do movimento pela independência grega, que eventualmente levou à guerra de independência grega no século XIX. Durante a guerra de independência grega, os gregos buscaram apoio internacional para combater o domínio otomano. Eles receberam ajuda significativa da Rússia, França e Inglaterra, que viram a oportunidade de enfraquecer o Império Otomano e expandir a sua influência na região. Essas potências forneceram apoio militar, diplomático e, em alguns casos financeiro, que permitiu aos gregos aguentar a guerra na sua luta pela independência.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Kit Carson

 



Kit Carson[1809-1868] nascido no Condado de Madison, Kentucky de uma família de origem irlandesa, Kit transfere-se já em 1811 para Missouri, ainda um território semisselvagem. Em agosto de 1826, cansado do trabalho de aprendiz de seleiro, foge para agregar-se a uma caravana, indo direto para o Novo México. Carson torna-se general e dá baixa em 1867. No ano seguinte é superintendente para os negócios indígenas no Colorado. Morre em 23 de maio de 1868.

 Em 1861 torna-se coronel de um regimento de voluntários do Novo México: toma parte em várias campanhas contra os índios, como aquela, entre 1863 e 1864, contra os Navajos, índios que foram os seus mais difíceis inimigos, e, ao invés de comportar-se como o leal herói dos nossos livrinhos de cobóis, os constringe à rendição, destruindo as suas reservas invernais de alimento e expondo assim guerreiros, mulheres e crianças a uma morte horrível. Carson os deportou depois para um campo de concentração no Novo México, de onde os Navajos poderiam voltar ao Arizona após cinco anos de prisão e somente para estarem confinados em uma reserva.



Caçador e guia do Oeste Americano, foi envolvido em numerosos conflitos com os Apaches. Em 1849, Carson participou de campanhas militares contra os Apaches enquanto servia como guia e soldado nas forças armadas dos Estados Unidos. Os Apaches eram uma das tribos indígenas mais formidáveis e resistentes da região, e Carson e outros enfrentaram desafios significativos ao tentar subjugar ou controlar sua atividade hostil. As campanhas militares contra os Apaches continuaram por muitos anos e foram marcadas por conflitos intensos e guerras intermitentes.

As expedições dos Texas Rangers desempenharam um papel importante na libertação de cativos capturados por tribos indígenas, como os Comanches e os Apaches, durante os anos de colonização do Texas e do Oeste Americano. Os Texas Rangers eram uma força de segurança especializada, inicialmente formada para proteger os colonos e combater ameaças indígenas, bandidos e outros perigos na fronteira. Eles frequentemente conduziam expedições para resgatar cativos brancos capturados por tribos indígenas durante ataques ou incursões. Essas operações muitas vezes envolviam combates e negociações delicadas com as tribos indígenas, e ajudaram a libertar muitos cativos ao longo do tempo.

E os comanches tentaram negociar entregando escravos brancos em troca pelo reconhecimento da Comancheria. Os Comanches, como muitas tribos indígenas, tentaram negociar com os colonos e as autoridades americanas em troca de várias concessões, incluindo o reconhecimento de territórios ou tratados favoráveis. Uma das estratégias que os Comanches empregaram foi oferecer a devolução de cativos brancos em troca de concessões políticas ou territoriais. Isso era parte de um padrão mais amplo de negociações entre as tribos indígenas e as autoridades coloniais ou governamentais. No entanto, essas negociações nem sempre foram bem-sucedidas ou respeitadas por todas as partes envolvidas, e as relações entre os colonos e as tribos indígenas frequentemente envolviam conflitos e tensões.

Mas os Comanches foram traídos o que levou à vingança de Buffalo Hump. Houve casos em que os Comanches sentiram que foram traídos por tratados ou negociações que foram violados pelas autoridades coloniais ou pelos colonos brancos. Isso muitas vezes levou a sentimentos de raiva e desejo de vingança por parte dos líderes Comanches, como o famoso guerreiro Buffalo Hump. Buffalo Hump liderou ataques retaliatórios contra os colonos e os assentamentos brancos como forma de buscar justiça pelos tratados quebrados e outras injustiças percebidas. Essas ações faziam parte de um ciclo contínuo de conflito e violência entre as tribos indígenas e os colonos brancos na fronteira do Oeste Americano.



James Kirker

Os mexicanos contrataram James Kirker, o ágil homem das montanhas. James Kirker era um personagem histórico conhecido por suas habilidades como batedor e caçador de recompensas durante o século XIX no oeste dos Estados Unidos e no norte do México. Contratá-lo seria uma escolha interessante para os mexicanos, dada sua reputação de conhecer bem a região montanhosa e sua experiência em lidar com situações desafiadoras. 

Em 1834 Astor vendeu o que tinha devido à crise do negócio das peles. Em 1834, John Jacob Astor, um dos principais empresários do comércio de peles nos Estados Unidos, vendeu seus interesses comerciais devido à crise no negócio das peles. A indústria estava passando por mudanças significativas naquela época, incluindo a redução da demanda por peles de castor e as dificuldades resultantes do declínio das populações de animais de pele. Essa venda marcou o fim de uma era na história do comércio de peles na América do Norte.

Havia cada vez menos castores. Uma das razões pelas quais a indústria de peles entrou em crise foi a redução drástica no número de castores disponíveis para caça. Durante os séculos XVIII e XIX, a demanda por peles de castor era alta na Europa e na América do Norte, levando à exploração intensiva desses animais. Como resultado, as populações de castores diminuíram significativamente devido à caça excessiva e à destruição de habitats. Isso contribuiu para a crise económica na indústria de peles e foi um dos fatores que levaram a Astor vender seus interesses comerciais.

Era o tempo dos escalpes. O período em que ocorreu a venda dos interesses comerciais de Astor, em 1834, foi uma época marcada por conflitos e tensões entre os povos nativos americanos e os colonos europeus e americanos. Durante esse tempo, houve casos de violência e guerra entre as diferentes comunidades, e os escalpos eram ocasionalmente tomados como troféus de guerra em certos confrontos. No entanto, é importante notar que a prática de coletar escalpos não era generalizada e era mais comum em certas tribos e situações específicas.


David Crockett





David Crockett [1786 – 1836] foi um herói norte-americano muitas vezes referido na cultura popular como o "Rei da Fronteira Selvagem". Ele representou o Tennessee na Câmara dos Representantes dos EUA e serviu na Revolução do Texas. Ganhou uma reputação de caça em contos de histórias. Ele foi feito um coronel na milícia do Condado de Lawrence, Tennessee e foi eleito para a legislatura do estado do Tennessee em 1821. Em 1827 foi eleito para o Congresso dos EUA, onde se opôs veementemente a muitas das políticas do presidente Andrew Jackson, especialmente a Lei de Remoção de Índios. A oposição de Crockett às políticas de Jackson levou à sua derrota nas eleições de 1831. Foi reeleito em 1833, depois perdeu por pouco em 1835, levando à sua fuga furiosa para o Texas (então o estado mexicano de Tejas) pouco depois. No início de 1836, ele participou da Revolução do Texas e morreu na Batalha do Álamo. Não está claro se ele morreu em batalha ou foi executado após ser capturado pelo Exército mexicano. Após a morte, ele continuou a ser creditado com atos de proporção mítica.



Crockett era frequentemente retratado usando um gorro de pele de guaxinim, que se tornou uma parte icónica de sua imagem. Este tipo de chapéu é conhecido como "coonskin cap" em inglês. O gorro de pele é amplamente associado à imagem de Crockett e tornou-se um símbolo de sua persona lendária.

Crockett foi um dos defensores do Forte Alamo durante a Revolução do Texas contra o México em 1836. Ele foi morto durante o cerco e a batalha final do Alamo, que foi liderada pelo presidente mexicano, General Santa Anna. Crockett e outros defensores bravamente resistiram aos ataques por treze dias, mas foram finalmente superados pelas forças mexicanas. A morte de Crockett no Alamo contribuiu para a sua fama e mitologia como um herói do folclore americano.




O atraso no cerco ao Alamo deu tempo para que outros líderes, como Sam Houston, organizassem forças para combater o avanço das tropas mexicanas sob o comando de Santa Anna. O tempo ganho durante a resistência no Alamo permitiu que Houston reunisse e treinasse um exército texano mais substancial. Isso acabou sendo crucial para a vitória dos texanos sobre as forças mexicanas na Batalha de San Jacinto, que levou à independência do Texas. Sam Houston desempenhou um papel fundamental na liderança durante este período de conflito.

Sam Houston serviu como governador do Tennessee antes de se mudar para o Texas. Ele foi eleito como o sétimo governador do Tennessee em 1827 e serviu até 1829. Houston teve uma carreira política significativa antes de se tornar uma figura central na história do Texas, onde desempenhou um papel fundamental na luta pela independência e na fundação do estado.

Após enfrentar problemas pessoais e políticos no Tennessee, Sam Houston viveu por algum tempo com a tribo Cherokee no Território Indígena no que é hoje o estado de Oklahoma. Ele foi adotado pela tribo e recebeu o nome de "Raven". Durante esse período, Houston aprendeu muito sobre a cultura e a política dos nativos americanos, e desenvolveu laços estreitos com muitos membros da tribo Cherokee. Essa experiência teve um impacto duradouro em sua vida e em sua visão política.

Após a sua chegada ao Texas, Sam Houston emergiu rapidamente como uma figura proeminente na política texana. Ele entrou em disputa com Stephen F. Austin, outro líder importante da época, pelo controle e direção do movimento pela independência do Texas. Houston acabou se tornando uma figura central no processo de independência, liderando o exército texano na Batalha de San Jacinto, onde derrotou as forças mexicanas sob o comando de Santa Anna. Após a independência do Texas, Houston serviu como presidente da República do Texas e, mais tarde, como governador do estado após a sua anexação aos Estados Unidos.

Durante os anos de 1840, os Comanches, uma poderosa tribo indígena das Grandes Planícies, tinham uma prática de capturar e escravizar mexicanos durante seus ataques e incursões no território mexicano. Esses cativos mexicanos eram frequentemente usados como escravos pelos Comanches. É difícil fornecer números exatos, mas é plausível que os Comanches pudessem ter milhares de cativos mexicanos em seu poder durante esse período. Essa prática era uma fonte significativa de tensão e conflito entre os Comanches e os colonos mexicanos na região.

terça-feira, 2 de julho de 2024

Napoleão Bonaparte depois de 18 de Brumário


Napoleão Bonaparte voltou a Paris em outubro de 1799 e encontrou o governo do Diretório em crise. Isso levou à queda do Diretório e ao estabelecimento do Consulado, com Napoleão assumindo o poder como Primeiro Cônsul. Esse evento marcou o início da ascensão de Napoleão ao poder na França. O golpe de 18 de Brumário (9 de novembro de 1799) não correu conforme o planeado inicialmente. Houve alguns contratempos e momentos de incerteza durante o golpe, mas, seja como tenha sido, o que é certo é que Napoleão conseguiu consolidar o poder, emergindo como líder supremo. Ele foi capaz de superar os obstáculos e estabilizar a situação política, levando ao estabelecimento do Consulado e ao início de um regime que foi avassalador por toda a Europa.

Depois de 18 de Brumário, Napoleão no poder como Primeiro Cônsul, então modou-se para os aposentos reais no Palácio das Tulherias em Paris, e levou consigo Josefina. Este palácio tornou-se a residência oficial de Napoleão, Primeiro Cônsul, e mais tarde como Imperador dos Franceses. Tulherias eram um importante centro de poder e símbolo da autoridade governamental na época.




Napoleão não perdeu tempo após assumir o poder como Primeiro Cônsul. Em 1800, ele liderou as tropas francesas através dos Alpes e obteve uma importante vitória sobre as forças austríacas na Batalha de Marengo, em junho daquele ano. Essa vitória consolidou ainda mais o seu domínio na França e solidificou a sua reputação como um líder militar talentoso. Após a vitória na Batalha de Marengo, Napoleão conseguiu negociar a paz com a Áustria por meio do Tratado de Lunéville, assinado em fevereiro de 1801. Este tratado encerrou oficialmente a guerra entre a França e a Áustria. Além disso, Napoleão também conseguiu fazer as pazes com a Espanha por meio do Tratado de Amiens, assinado em março de 1802, encerrando temporariamente as hostilidades entre os dois países. Esses tratados ajudaram a consolidar a posição de Napoleão no poder e trouxeram um período de relativa estabilidade para a França e para a Europa.

Em 1801, Toussaint Louverture, líder da Revolução Haitiana, assegurou a Napoleão Bonaparte a lealdade da colónia de Saint-Domingue (hoje Haiti). Toussaint havia estabelecido o controlo da colónia e negociou com Napoleão para garantir a continuidade da autonomia e liberdade dos habitantes de Saint-Domingue, sob a condição de que a administração da colónia permanecesse sob sua liderança. No entanto, em 1802, Napoleão enviou uma expedição militar para a ilha com o objetivo de retomar o controlo total da colónia, levando ao conflito entre os franceses e os rebeldes haitianos. É possível que você esteja falando sobre Toussaint Louverture enfrentou as tropas lideradas por Charles Leclerc, cunhado de Napoleão Bonaparte. Louverture resistiu ferozmente, mas eventualmente foi capturado e deportado para a França. Toussaint Louverture liderou uma guerrilha muito eficaz contra as tropas francesas, causando grandes perdas e dificultando significativamente os esforços de reconquista francesa do Haiti. Sua habilidade tática e o apoio popular foram fundamentais para a resistência haitiana.

A batalha de Trafalgar foi travada entre as marinhas britânica e franco-espanhola em 1805. Nelson liderou a Marinha Real Britânica e obteve uma vitória decisiva, impedindo a frota combinada franco-espanhola de ameaçar a Grã-Bretanha. A frota de Napoleão foi enfraquecida, mas não dizimada, já que Napoleão continuou a ter outras batalhas e desafios marítimos pela frente.

Napoleão Bonaparte adotou uma estratégia de alianças matrimoniais e nomeações de membros de sua família para posições de poder em vários países europeus. Essa estratégia foi conhecida como o "Sistema Napoleónico" e visava consolidar o seu controlo sobre a Europa e garantir alianças políticas estáveis. Membros de sua família foram colocados no trono de diferentes reinos e principados, como o Reino da Espanha, o Reino de Nápoles, o Reino da Itália, entre outros. Essas nomeações e alianças ajudaram a estabelecer uma rede de influência napoleónica em toda a Europa. Napoleão atribuiu o Reino da Vestfália a Jerónimo Bonaparte, seu irmão mais novo. O Reino da Vestfália foi criado em 1807 a partir de territórios anteriormente pertencentes a vários estados alemães e foi governado por Jerónimo Bonaparte até 1813, quando Napoleão foi derrotado na Batalha de Leipzig e o reino foi dissolvido. Hesse, por outro lado, era um estado alemão separado e não foi diretamente atribuído a Jerónimo por Napoleão.

Como Napoleão anulara Hesse-Cassel, Rothschild passou em segredo a sua fortuna para Inglaterra. Napoleão de facto tinha políticas que afetavam as finanças, levando os Rothschilds a transferir a sua fortuna para a Inglaterra como medida de segurança. A família Rothschild era conhecida por sua habilidade em adaptar-se a circunstâncias políticas turbulentas. A indústria textil e a guerra levou a que a família Rothschild dominaria durante um século. A ascensão da indústria têxtil e as oportunidades comerciais decorrentes da guerra foram fatores-chave que contribuíram para a ascensão da família Rothschild como uma das mais influentes famílias bancárias da Europa por cerca de um século. Seu controlo sobre as finanças, especialmente durante períodos de conflito, permitiu-lhes acumular vasta riqueza e influência política. A família Rothschild é amplamente associada ao século XVIII e ao século XIX, quando Mayer Amschel Rothschild estabeleceu o negócio bancário em Frankfurt, Alemanha. Mayer Amschel Rothschild nasceu em 1744 e fundou a empresa bancária que se tornaria a famosa Casa Rothschild. Enquanto a família Rothschild era de origem judaica, sua ascensão ao poder e influência começou principalmente no final do século XVIII e se expandiu significativamente no século XIX.

Carlos IV de Espanha era fraco e Napoleão convenceu-o na invasão a Portugal. Carlos IV da Espanha era frequentemente considerado um monarca fraco e influenciável. Napoleão aproveitou essa fraqueza para convencer Carlos IV a permitir a passagem das tropas francesas pela Espanha para invadir Portugal, como parte de seus esforços para impor o bloqueio continental à Inglaterra durante as Guerras Napoleónicas. Esse evento é conhecido como a Invasão Francesa da Península Ibérica. Napoleão impôs bloqueios económicos à Inglaterra, o que levou Portugal e Espanha a se unirem contra a Inglaterra, aliando-se ao Império Francês. Isso resultou em conflitos e tensões geopolíticas significativas durante as Guerras Napoleónicas.

Após a derrota na Batalha de Austerlitz e a dissolução do Sacro Império Romano-Germânico, Francisco II mudou seu título para Francisco I, Imperador da Áustria, em 1804, antes mesmo da assinatura do Tratado de Pressburg em 1805. Esta mudança refletiu a reorganização geopolítica da região e a ascensão do Império Austríaco como uma potência central na Europa Central, em oposição à influência decrescente do Sacro Império. Da assinatura do Tratado de Pressburg, em dezembro de 1805, Francisco II, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, viu seu império desintegrar-se. Em 1806, ele renunciou formalmente ao título de Sacro Imperador Romano-Germânico e proclamou-se Francisco I da Áustria. Além disso, o Sacro Império Romano-Germânico foi substituído pela Confederação do Reno, uma aliança de estados alemães liderada por Napoleão Bonaparte. Este foi um dos muitos eventos que contribuíram para a reorganização política da Europa durante as Guerras Napoleônicas.

Alexandre I, czar da Rússia na época das Guerras Napoleónicas, inicialmente buscou manter relações cordiais com Napoleão. No entanto, houve uma crescente tensão entre os dois líderes, resultando eventualmente na invasão da Rússia por Napoleão em 1812. A Finlândia não foi obtida por Alexandre em colaboração com Napoleão; na verdade, a Finlândia foi anexada pela Rússia em 1809, como resultado da Guerra Finlandesa, durante a qual a Rússia derrotou a Suécia. Isso ocorreu antes da invasão da Rússia por Napoleão.

Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord [1754-1838] foi o chefe da diplomacia de Napoleão durante os anos em que as vitórias militares francesas trouxeram um Estado europeu após o outro sob a hegemonia francesa. No entanto, na maior parte do tempo, Talleyrand trabalhou pela paz para consolidar os ganhos da França. Ele conseguiu obter a paz com a Áustria através do Tratado de Lunéville de 1801 e com a Grã-Bretanha no Tratado de Amiens de 1802. Ele não conseguiu impedir a renovação da guerra em 1803, mas em 1805 opôs-se às novas guerras de seu imperador contra a Áustria, Prússia e Rússia. Ele renunciou ao cargo de ministro das Relações Exteriores em agosto de 1807, mas manteve a confiança de Napoleão. Ele conspirou para minar os planos do imperador através de negócios secretos com o czar Alexandre I da Rússia e o ministro austríaco Klemens von Metternich. Talleyrand buscou uma paz segura negociada para perpetuar os ganhos da Revolução Francesa. Napoleão rejeitou a paz; quando caiu em 1814, Talleyrand apoiou a Restauração Bourbon decidida pelos Aliados. Ele desempenhou um papel importante no Congresso de Viena em 1814-1815, onde negociou um acordo favorável para a França e desempenhou um papel no desenrolar das Guerras Napoleónicas.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

De Zheng Zhilong a Zheng He


Zheng Zhilong [1604-1661] foi um líder militar e pirata chinês que inicialmente apoiou a dinastia Ming durante a invasão dos Manchus. Ele se tornou conhecido por sua resistência aos invasores Manchus no sul da China. Mais tarde ele migrou para a Manchúria e fundou a dinastia Zheng. Depois o filho, Koxinga, fundou o reino pró-Ming de Tungning, em Taiwan, conhecido por Casa de Koxinga.

 


Durante seu reinado, ele controlou uma enorme e capaz frota de piratas que mais tarde se juntou à marinha da dinastia Ming, onde ele então se tornou um almirante Ming que controlava todo o comércio e segurança nas águas do sul da China. Ele detinha um poderoso império marítimo que controlava mais o mar do que a terra. Após a sua deserção, ele recebeu títulos nobres do governo Qing, mas acabou sendo executado por causa da resistência contínua de seu filho contra o regime Qing.




Zheng Zhilong na pintura do holandês Peter van Der (aquele que veste verde)


Koxinga, de seu nome Zheng Chenggong, liderou um exército leal aos Ming que expulsou os holandeses de Taiwan em 1662, estabelecendo o domínio chinês na ilha. Ele é uma figura histórica importante na história de Taiwan. Zheng Chenggong era um líder militar habilidoso e foi capaz de liderar o poderoso cartel pirata Shibazhi, que consistia em cerca de 800 navios, em campanhas marítimas na região. Sua capacidade de unir e comandar essa grande frota contribuiu significativamente para as suas conquistas militares.

Fujian, uma importante província da China, caiu nas mãos da dinastia Qing (Manchu) durante a conquista do resto da China no século XVII. A dinastia Qing foi a última dinastia imperial da China, que governou de 1644 a 1912. A conquista de Fujian foi parte do processo de unificação do território chinês sob o domínio Qing.

Zheng He foi outro almirante da melhor frota da dinastia Ming. Ele fez uma érie de expedições no Oceano Índico até à costa leste de África. D
urante o reinado da dinastia Ming, essas expedições eram compostas por uma grande frota de navios e tinham o objetivo de estabelecer relações diplomáticas, e expandir o comércio sob o patrocínio e influência chinesa em outras partes da Ásia e do Oceano Índico. As expedições de Zheng He eram notáveis por sua escala impressionante e por terem alcançado várias regiões distantes, incluindo o Sudeste Asiático, a Índia, o Golfo Pérsico e a costa leste da África. Essas viagens desempenharam um papel importante na história das relações comerciais e diplomáticas na região.



Mapa da Guangdong, Fujian e Taiwan

Paul Ricœur


Paul Ricœur (1913-2005), nascido numa família protestante, órfão da Primeira Grande Guerra,  estudava na Alemanha quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial. É aí que passa a guerra, num campo de prisioneiros. Sobreviveu e iniciou a sua carreira ensinando regularmente nos EUA e no Canadá, e não apenas em França. Teve a oportunidade de conhecer em primeira mão a filosofia analítica. Crítico de aspectos do sistema académico francês, foi um dos impulsionadores da criação da nova Universidade de Paris X (Nanterre), onde tinha responsabilidades de direcção no Maio de 68. Os problemas por que então passou conduziram-no a um exílio voluntário. Daí que muitos dos seus escritos apareçam em inglês.



A interpretação é o grande foco da sua obra. Por vezes e num certo contexto (por exemplo, o contexto da teoria crítica no mundo anglófono), Ricœur e Derrida aparecem em competição, enquanto figuras inspiradoras das disciplinas da interpretação. No mundo de língua francesa, Ricœur aparece frequentemente como uma resposta da hermenêutica ao estruturalismo. A sua carreira filosófica tem início na fenomenologia existencial, com o interesse por autores próximos da religião, como o filósofo alemão Karl Jaspers (1883-1969) e o filósofo francês Gabriel Marcel (1889-1973), sobre quem escreve. Uma questão que sempre o atraiu foi o problema do mal, numa combinação de fenomenologia com hermenêutica. 

Assim se inicia a sua obra, nos anos 1950, com Philosophie de la volonté: Le volontaire et l’involontaire, o seu materialismo cristão leva-o a acentuar a importância de se ser um corpo, e a possibilidade do "eu" participar directamente no mistério da mente corpórea, da mente da carne. Dada a nossa corporeidade, o voluntário e o involuntário são complementares na existência humana. Está em causa na vontade o decidir, escolher, mover-se para a acção. No involuntário, está em causa o ente corpóreo, o insonciente.

Na evolução do seu pensamento, aliás tal como tantos outros, dá-se aquilo que é designado por "viragem epistemológica", uma viragem da fenomenologia para a hermenêutica. Poder-se-ia também pensar no conjunto da sua obra como propondo uma antropologia filosófica, que dá um grande espaço à questão do autoconhecimento (veja-se um dos seus últimos livros, O Si-Mesmo como Outro, 1990). Para Ricœur não há um eu transparente a si ou em pleno domínio de si. A via do autoconhecimento é longa e tortuosa. Ao contrário de um filósofo existencialista como Sartre, o foco de Ricœur quando persegue o autoconhecimento não é a consciência, mas sim a acção, daí o seu interesse pelos temas do voluntário e do involuntário. 

Ricœur interessa-se não tanto directamente pela existência humana enquanto interpretação. É importante ter claro que a noção ricœuriana de interpretação não tem por objecto a linguagem tout court, a linguagem entendida como qualquer coisa dita, como Aristóteles, em Da Interpretação, nos pode ter feito pensar. A noção ricœuriana de interpretação entra em cena apenas com os fenómenos de duplo sentido. Estes têm lugar quando há linguagem já em funcionamento (os fundadores da tradição analítica, em contraste, estudariam a linguagem no sentido aristotélico de qualquer coisa que é dita). Ricœur é cuidadoso a fazer essa distinção. Além disso, em oposição à «via curta» de Heidegger (i.e., a ontologia hermenêutica de Ser e Tempo), Ricœur defende uma «via longa» para a hermenêutica. Na prática, isto significa que ele defende que a filosofia de orientação hermenêutica deve ser feita em contacto com as disciplinas da interpretação, como a psicanálise, a crítica literária e a teologia. Os temas que então se erguem serão os temas da filosofia de Ricœur: 

O conflito das interpretações, a natureza da narrativa, a natureza da metáfora ou a natureza do discurso religioso são os temas de eleição na filosofia de Ricœur. Há significação e há significado da existência. É com esta intuição que defende as suas posições contra o estruturalismo, a desconstrução e a psicanálise. Ricœur interessa-se também por compreender aquilo que vê como a natureza frágil e paradoxal da existência e da liberdade humanas, e o que poderá ser uma vontade má e actos maus. Somos fragilmente livres, defende, podemos usar mal a nossa vontade; a vontade má é simplesmente uma realidade. Há uma desproporção entre o infinito da nossa racionalidade e a finitude da nossa realidade corpórea.

Ricœur é, assim, levado a interessar-se pela falibilidade do humano e pelas dimensões da desproporção do humano relativamente a si próprio: a imaginação, o carácter, o sentimento, temas de Philosophie de la volonté: Finitude et culpabilité. Segundo Ricœur, é necessário, para entender a realidade humana, compreender a existência e a realidade do mal, e também para isso a interpretação é essencial. Ao analisar a simbologia do mal, Ricœur faz fenomenologia da religião (e pensa que toda a fenomenologia da religião é fenomenologia do sagrado). Ora, segundo a fenomenologia da religião, há uma verdade dos símbolos. É em última análise esta convicção que o opõe a uma outra orientação hermenêutica do pensamento contemporâneo a que Ricœur chamou «hermenêutica da suspeita» expressão que remonta a Marx, Freud e Nietzsche. 

A expressão popularizou-se e as posições de Ricœur sobre estes autores, que foram a bandeira incontestada de um certo pensamento francês e da geração do estruturalismo, têm o interesse especial de lhes apontar directamente os pontos fracos. O livro sobre Freud (De l’interpretation: Essai sur Freud, 1965), violentamente contestado pelo milieu lacaniano, é disso exemplo. O que distingue afinal o ponto de vista da hermenêutica ricœuriana do ponto de vista da psicanálise, se em ambas as circunstâncias está em causa interpretação? 

Segundo Ricœur, a arqueologia do sujeito e da cultura levada a cabo pela psicanálise é sem dúvida necessária, mas não nos diz nada acerca do que é para um ser humano ser livre e capaz. Ora, isto é algo que se impõe fazer a quem, como Ricœur, acredita no significado da existência humana. O contrário da suspeita, propõe Ricœur, é a fé. Um outro ponto fraco da hermenêutica da suspeita para Ricœur é o facto de esta visar, em última análise, alargar a consciência, uma vez curada e desmistificada. Isso redunda, na sua perspectiva, numa cegueira perante o núcleo mítico-poético do humano que é, segundo Ricœur, inerradicável.

O aspecto mais propriamente simbólico da hermenêutica ricœuriana, centrado em textos, é acompanhado noutras obras por análises mais próximas da natureza da linguagem. O estudo da metáfora feito em A Metáfora Viva, por exemplo, passa pela palavra e pela frase até chegar ao discurso. Ricœur considera que, já no plano dos fenómenos de transporte e deslocamento de palavras, o mecanismo metafórico é mais do que substituição mecânica — envolve transgressão categorial, recategorização, e evidencia por isso de alguma forma a própria natureza (criativa) do pensamento enquanto processo do qual provêm as classificações e os conceitos estáveis (estes são instituídos devido a uma semelhança que teve de ser primeiro «vista»). O aspecto original da proposta de Ricœur é a inserção da análise da metáfora numa tarefa hermenêutica geral. 

Ricœur vê no discurso metafórico a libertação de um «poder de referência de segundo grau», que tem como condição a suspensão da referência literal. Para Ricœur, o discurso metafórico não é auto-referencial e centrado em si mesmo, mas antes ocasião de «referência desdobrada». A análise da metáfora conduz Ricœur a pensar sobre a natureza da inovação no pensamento e sobre a natureza da imaginação criadora, capaz de redescrever a realidade do mundo habitável, em termos éticos e estéticos. Fugindo ao logos apofântico, i.e., à primazia de dizer o verdadeiro de forma descritiva, a metáfora é o processo retórico pelo qual o discurso liberta o poder de redescrever a realidade. De novo Ricœur se coloca em alternativa a Derrida.

Os temas da memória, da história, do esquecimento, do tempo e da narrativa, do justo e do reconhecimento ocupam as últimas obras de Ricœur (Le juste I e II, 1995, 2001; Tempo e Narrativa I, II e III, 1983–1985; A Memória, a História, o Esquecimento, 2002; Parcours de la reconnaissance, 2004). Ocupa-o o facto de a nossa finitude ser visível na nossa natureza histórica, o que clarifica afinal a ideia de liberdade finita. Nestas condições, o auto-entendimento procurado por cada humano acontecerá apenas através dos sinais depositados na memória e na imaginação, nomeadamente pela grande tradição literária. A análise desta está sempre presente em Ricœur.