segunda-feira, 29 de julho de 2024

O mapa de Fra Mauro e a Confederação Aq-Quyunlu





O mapa de Fra Mauro é um mapa da autoria de um monge veneziano - Fra Mauro - datado entre 1457 e 1459. É
 uma representação do mundo que era conhecido até à data em que foi feito. Com quase 180 cm de diâmetro, foi pintado em pergaminho e colado em painéis de madeira. É um dos mais famosos mapa-múndi da Idade Média. É um detalhe da Europa, África e da Ásia, em que o Japão aparece representado. Hoje, o mapa de Fra Mauro é valorizado tanto por seu valor histórico quanto artístico, preservado na Biblioteca Marciana em Veneza. A Europa é mostrada com razoável precisão para a época, incluindo detalhes sobre cidades e estados importantes. E a Ásia é descrita extensivamente, refletindo as influências das viagens de exploradores e mercadores. A África é representada com informações surpreendentemente precisas sobre a costa oriental e interior, sugerindo fontes detalhadas e relatos de viajantes. Ele representa o conhecimento geográfico antes das grandes explorações encetadas pelos europeus sob a encomenda do português Infante Dom Henrique. O mapa de Fra Mauro é considerado uma obra prima da cartografia, continuando ainda a ser objeto de estudo e admiração por historiadores e entusiastas da cartografia.

Frei Mauro nasceu por volta de 1400, e aparece registado no Mosteiro de São Miguel com a data de 1409. Em sua juventude, Mauro havia viajado pelo Oriente como comerciante, e depois como soldado. Como membro leigo do mosteiro, Mauro foi contratado como cartógrafo. Nos registos do mosteiro o seu principal trabalho foi registado como coletor das rendas do mosteiro, mas a partir da década de 1450 ele também é mencionado como o criador de uma série de mapas-múndi. Embora não estivesse mais livre para viajar, devido ao seu estatuto religioso, ele frequentemente consultava os mercadores da cidade quando regressavam das suas viagens. O seu grande mapa-múndi inclui extensos comentários que acrescentam ainda mais conhecimento geográfico. 

Diferente dos mapas modernos, o mapa de Fra Mauro é orientado com o Sul no topo. O mapa é altamente detalhado, com descrições textuais em latim e italiano, ilustrando terras, cidades, rios, montanhas e outros detalhes geográficos. Ele reflete tanto a tradição cartográfica europeia como as influências islâmicas e asiáticas, demonstrando a troca de conhecimento entre diferentes culturas. O mapa, com a sua forma circular, é centrado no Oceano Índico. Fra Mauro parece ter utilizado relatos de vários viajantes, inclusivamete os de Marco Polo. 

Hulegu Khan [1217-1265] neto de Genghis Khan, liderou uma expedição que resultou na queda do Califado Abássida em 1258, marcando o fim de um dos califados islâmicos mais influentes. Ele fundou o Ilcanato na região da Pérsia, estabelecendo um novo poder mongol no Médio Oriente. O Califado Abássida, que teve a capital em Bagdad, foi um importante centro de poder e cultura islâmica antes de ser destruído pelos mongóis. 

No mapa de Fra Mauro, Tamerlão é frequentemente mencionado devido à sua reputação como um dos grandes conquistadores de seu tempo. Suas campanhas militares e a fundação de um império significativo eram temas de grande interesse para os europeus. As menções a Tamerlão também indicam o impacto de seu império nas rotas comerciais e nas interações culturais entre o Oriente e o Ocidente. O controlo de Tamerlão sobre importantes centros comerciais influenciou o fluxo de mercadorias e conhecimentos entre a Ásia e a Europa. Tamerlão, ou Timur, foi um conquistador turco-mongol do século XIV que fundou o Império Timúrida na Pérsia e na Ásia Central. A sua presença marcante nas legendas do mapa de Fra Mauro reflete a sua enorme influência e o impacto de suas conquistas na geopolítica e nas perceções europeias da época. O mapa menciona várias regiões e cidades associadas a Tamerlão e seu império, refletindo a extensão de seu domínio. Isso inclui áreas da Ásia Central, Pérsia e partes da Índia.

Quando Tamerlão [1336-1405] começou as suas campanhas na região, ele enfrentou os Kara Koyunlu em várias batalhas. Em 1400, Tamerlão invadiu o território dos Kara Koyunlu e capturou Van, a capital, após derrotar o seu líder, Kara Yusuf. Como resultado, os Kara Koyunlu foram forçados a se submeter temporariamente à autoridade de Tamerlão. Kara Yusuf fugiu para o Egito, onde recebeu refúgio dos mamelucos. Após a morte de Tamerlão em 1405, a confederação Kara Koyunlu recuperou o poder. Kara Yusuf voltou e, em 1406, retomou o controlo da situação derrotando os governantes locais que haviam sido instalados por Tamerlão. Sob a liderança de Kara Yusuf e, posteriormente, de seu filho Jahan Shah, os Kara Koyunlu conseguiram expandir o seu domínio, estabelecendo um forte estado que controlava partes significativas do Irão, Azerbaijão e o leste da Anatólia.

Uthman Beg, ou Osman Beg, também conhecido como Qara Yuluk Uthman, [1356-1435] foi um líder importante da confederação tribal Aq-Qoyunlu que desempenhou um papel crucial na consolidação e expansão do poder dos Aq Qoyunlu durante o século XV. Usman Beg assumiu a liderança dos Aq Qoyunlu após a morte de seu pai, Fakhr al-Din Qutlu Beg. Sob sua liderança, os Aq Qoyunlu se tornaram uma força política e militar significativa na região. Usman Beg teve que lidar com a ameaça representada por Tamerlão. Embora tenha sido forçado a reconhecer a autoridade de Tamerlão temporariamente, ele continuou a fortalecer a sua posição e a expandir o controlo territorial sempre que possível. A sua habilidade em manter o controlo e resistir à completa submissão a Tamerlão ajudou a preservar a autonomia dos Aq Qoyunlu durante este período turbulento. Usman Beg é lembrado pelo seu papel na transformação dos Aq Qoyunlu, uma confederação tribal, numa entidade política mais estruturada e poderosa.



Confederação Aq-Quyunlu - [1378 - 1501]

As tribos Aq-Quyunlu (também conhecida como Turcomanos da Ovelha Branca) e Qara-Quyunlu (Turcomanos da Ovelha Negra) foram duas confederações tribais turcomanas que dominaram partes significativas do Médio Oriente entre os séculos XIV e XV, após a queda do Califado Abássida e do Ilcanato. Os Turcomanos da Ovelha Negra, em 1375, fundaram o seu estado com a capital em Tabriz, no atual Irão. Governaram uma área que incluía partes do atual Irão, Azerbaijão, Arménia e Iraque. O líder mais notável foi Jahan Shah, que expandiu o território do Qara-Quyunlu. Em 1467 foi derrotado por Uzun Hasan dos Aq-Quyunlu

Os Turcomanos da Ovelha Branca, surgiram como uma potência dominante na região logo após o declínio dos Qara-Quyunlu (Ovelha Negra). O seu domínio começou a se expandir significativamente sob o governo de Uzun Hasan no século XV. Conquistaram os territórios do Qara-Quyunlu e estabeleceram um império que incluía partes do atual Irão, Turquia e Iraque. O governo dos Aq-Quyunlu foi marcado por conflitos contínuos com outras potências regionais, incluindo os otomanos e os safávidas. Essas duas tribos jogaram um papel crucial na história do Médio Oriente durante esse período de transição, após o fim do domínio mongol e antes do estabelecimento de estados mais centralizados, como o Império Safávida e o Império Otomano.

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