terça-feira, 7 de julho de 2020

Alguém saberá o porquê de tanta gente estar surpreendida com o que está a acontecer?


O rei Midas, em tudo que tocasse se transformava em ouro. 
E, todavia, passou fome. 

Para termos as melhores respostas, também temos de saber fazer as perguntas certas. Em epígrafe formulo uma pergunta. Embora não garanta que seja uma boa pergunta. Ou a pergunta certa que vá ao encontro da melhor resposta, ou da melhor explicação, para sabermos, por exemplo, se há alguma razão para aquelas pessoas que dizem que algo está a correr mal, mas podia correr bem se se fizessem as coisas de maneira diferente.

A maioria das explicações, avançadas nos media, para o facto de as ruas, de uma forma intermitente, serem invadidas por multidões em insânia, incidem nos sintomas, mas menos nas verdadeiras causas do que está a acontecer, e que algumas pessoas dizem que está a correr mal. O sintoma desta insanidade mental pode ser apenas uma histeria? E as causas? Sim, é raro haver uma única causa para o levantamento de multidões insatisfeitas com a vida que estão a viver.

Por baixo da espuma dos dias existem correntes mais amplas que não vemos. Há investigações que têm sido feitas, umas a priori e outras a posteriori. Nas investigações a priori temos de distinguir aquelas que não passam de preconceitos e estereótipos, das que não têm nada a ver com isso, e que são as da matemática e da metafísica. As investigações a posteriori são as costumeiras investigações científicas baseadas na evidência da realidade e dos factos. Mas a ciência para fazer o seu trabalho também precisa daquelas disciplinas a priori: a matemática e a filosofia. Estas são como uma espécie de ferramenta heurística e conceptual da ciência. A matemática nas suas várias formas. E a filosofia, sobretudo nas suas subdisciplinas: metafísica; epistemologia e filosofia da ciência.

É a partir da segunda metade do século XIX que se começa a assistir ao esboroar das velhas explicações religiosas da essência do mundo, substituídas pelas ideologias, em que depois de um pequeno período do século XX de fascismo, se impuseram o liberalismo a ocidente, e o marxismo a oriente. Isto nas ciências sociais e humanas, e em que nas ciências naturais se consolida a ciência moderna inaugurada por Descartes e Galileu. E nos últimos cinquenta anos, que abrange o último quartel do século XX e o primeiro quartel do século XXI vieram as narrativas pós-modernas, em parte com contributos vindos do Oriente, desacreditar o paradigma científico instalado. Apenas aflorou por pouco tempo, uma narrativa do outro lado do Atlântico, proclamando "o fim da História", e o "choque de Civilizações", sendo Francis Fukuyama [The End of History and the Last Man]  e Samuel Huntington, [The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order], respectivamente, os autores com mais protagonismo.

E assim chegamos agora ao vazio do pós-pós-moderno ocidental, em que, até que seja explícita a nova ordem mundial, quem comanda é a China. A natureza abomina o vazio. Vazio – significa ausência de sentido. E com ausência de sentido faltam as explicações das verdadeiras causas do que está a correr mal. Enquanto as anteriores narrativas tinham uma explicação para o sentido da existência, as actuais narrativas, que são provisórias, mas são as que vigoram no Ocidente, não no Oriente, não têm. A China acaba de demonstrar na prática que acabou o acordo internacional do modelo: “Um país dois sistemas”, para passar a vigorar um país um sistema. Era notícia ontem com o seguinte título: "China organizou um grande exercício militar e, dias depois, os EUA lançaram o seu e, pela primeira vez em seis anos, destacaram dois porta-aviões. Tensão ao rubro entre as duas superpotências.”

A dada altura, por volta de meados do século XX, emergiu um novo santuário a Ocidente com o nome de Silicon Valley (Vale do Silício) que, para além de nos fazer crer que era um modelo de negócio que nos iria fazer ganhar muito dinheiro, teve um efeito inesperado nas nossas cabeças: o de ganharmos uma nova metafísica. Quando em 2008 inscrevi o meu perfil no Facebook, estava longe de vislumbrar o porvir. Uma geração de bons rapazes despojados, a brincar com computadores velhos em garagens nas traseiras de suas casas, nos anos de 1990, a tornarem-se os homens mais ricos do mundo na primeira década de 2000.

É claro que foi preciso inventar uma nova metafísica para que as novas heurísticas entrassem de mansinho nos hábitos das pessoas sem que elas se apercebessem que estavam a ser comidas por lorpas. Mas quem não se deixou comer foi o “chinês”, que, com a sua velha astúcia de uma civilização com mais de cinco mil anos a correr ininterruptamente com imensas vicissitudes, passou a ser ele a comer as papas na cabeça do ocidental. Para começar, vem a Huawei – Huawei Technologies Co. Ltd. – uma empresa multinacional de equipamentos para redes e telecomunicações sediada na cidade de Shenzhen, província de Guangdong, na China. É a maior fornecedora de equipamentos para redes e telecomunicações do mundo, tendo ultrapassado a sueca Ericsson em 2012. É desconcertante a velocidade com que se tornou mainstream.

Enquanto isto, no Ocidente, as massas bem-pensantes estão preocupadas com a missão de remover dos homens e rapazes o “machismo tradicional”. “Roads Designed by Men are Killing Women” pode ler-se como título de jornal, escrito por uma jornalista sobre mortes de ciclistas em Londres. Na realidade, ainda nenhuma pessoa londrina viu, uma mulher que fosse, a perpetrar atentados na série deles que aconteceram no Reno Unido nos últimos anos. E é esta a retórica que exacerba a ideia de que os homens não são bons a viver em paz uns com os outros, para além do que é já bem conhecido quanto a homofóbicos, sexistas, misóginos, racistas e transfóbicos. Se um biólogo, perante uma pessoa que quer mudar de género, porque não se sente bem no corpo que tem, perguntar se não seria melhor, em vez de transformar o corpo que dá uma grande trabalheira, tentar mudar um determinado “chipe”, que tem no cérebro e que está avariado, por um que lhe faça sentir-se bem no corpo que tem, para além de ser acusado de transfóbico, vê-se a braços com um processo em tribunal por ofensas morais. Para se redimir, ou para provar que afinal não é transfóbico, mas apenas um escravo da ciência patriarcal, tem de o demonstrar descendo à rua, e engrossar as fileiras de uma “manife” empunhando cartazes a favor das pessoas LGBT no derrube do patriarcado.

Vendo bem as coisas, não basta a um cientista naturalista, ter apreço pelo dever de respeito pelo Outro, e a sua condição, com igual valor e dignidade. Porque não pode ser um defensor do naturalismo, quando um naturalista diz o seguinte: "uma coisa é o respeito pela dignidade do Outro; outra coisa é ser obrigado a acreditar que é tão natural um homossexual como um heterossexual."

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