sexta-feira, 17 de julho de 2020

O sal da metáfora no post do Salgado


Nos tempos Antigos, e em determinadas regiões da Terra, o sal chegou a ser utilizado como moeda. As mercadorias tinham o valor de moeda nas trocas comerciais quando eram, numa dada região, um bem escasso. Nas trocas comerciais em certos países de África na fronteira com o deserto do Saara, e também no tempo do Império Romano, o sal era utilizado como meio de pagamento. Bem, foi daí que herdamos a palavra salário. O comércio do sal teve um importante papel na história africana, movimentou economias, fundou cidades, enriqueceu reis e provocou guerras entre nações. 



Taudeni é um remoto centro de mineração de sal situado num oásis na região desértica do norte do Mali, 664 Km a norte de Tombuctu. O sal, explorado secularmente, é cavado à mão do leito de um antigo lago salgado, cortado em lajes e transportado de camião ou por camelo para Tombuctu.

Numa região desértica, noutros tempos, ali trabalhavam milhares de escravos extraindo sal para abastecer as caravanas. Ainda hoje, o sal continua a ser extraído das suas minas. O sal era transportado no lombo de camelos e descarregado em Tombuctu, onde passava para embarcações que subiam o rio Níger até Djené. Ali era trocado por ouro e levado à cabeça por escravos e distribuído pela savana chegando até às florestas. Nos mercados os mercadores deviam pagar um dinar em ouro (cerca de 4g) ao entrar nos seus territórios, e dois, à saída. O sal também era trocado por ouro.

A menção mais antiga a Taudeni está presente na História do Sudão de Al-Sadi que escreveu que em 1586, quando 200 mosqueteiros marroquinos atacaram o centro de mineração de sal de Tagaza, a 150 Km a noroeste de Taudeni, alguns dos mineiros mudaram-se para Taudani. Em 1906, o soldado francês Édouard Cortier visitou Taudeni com uma unidade soldados montados em camelos mearistas  e publicou a primeira descrição das minas. À época o único edifício era o alcàcer de Smida que possuía uma muralha circundante com uma única entrada pequena no lado ocidental. As ruínas do alcácer estão 600 metros a norte do edifício da prisão. Actualmente milhares de poços espalham-se por uma ampla área. 

Em 2008, havia aproximadamente 350 grupos de mineiros, num total aproximado de 1000 homens. Os homens vivem em cabanas primitivas construídas de blocos de sal de qualidade inferior e trabalham nas minas de outubro a abril, evitando os meses mais quentes do ano. As lajes são transportadas através do deserto via oásis de Arauane para Tombuctu. No passado, elas foram sempre carregadas por camelos, mas recentemente algumas delas são removidas por camiões. A jornada com camelos para Tombuctu leva cerca de três semanas, cada camelo carregando quatro a cinco lajes. O acordo tradicional é que para cada quatro lajes levadas a Tombuctu uma é dos mineiros e as outras três são para pagar ao proprietário dos camelos. Até meados do século XX, o sal foi transportado em duas grandes caravanas de camelos: uma dirigida a Tombuctu no começo de novembro; e uma segunda deixando Tombuctu no final de março, no fim da estação.


A economia comercial do Gana atingiu seu auge no século VIII, ao interligar as regiões do Norte de África, Egito e Sudão. Entre os principais produtos comercializados estavam: o sal, tecidos, cavalos, tâmaras, escravos e ouro. Esses dois últimos itens eram de fundamental importância para a expansão económica do reino do Gana e o considerável aumento da força de trabalho disponível. Entre os mais importantes centros urbano-comerciais desse período destacava-se a cidade de Bambuque. O ouro era escoado principalmente para a região do Mar Mediterrâneo, onde os árabes utilizavam na cunhagem de moedas. Para controlar as regiões de exploração aurífera, o rei era o responsável directo pelo controlo da produção. Para proteger a região aurífera, o uso de lendas sobre criaturas fantásticas era utilizado para afastar a cobiça de outros povos. 

O sal também tinha grande valor pela sua importância na conservação de alimentos e na retenção de líquidos naqueles que atravessavam o deserto nas caravanas. O Reino do Gana começou a sentir os primeiros sinais da sua crise com o esgotamento das minas de ouro que sustentavam a sua economia. Além disso, após o século VIII, a expansão islâmica ameaçou a estrutura centralizada do governo. Os chamados Almorávidas foram os principais responsáveis pelos conflitos que, em nome de Alá, desestruturaram o Reino do Gana. A partir de então, seriam os reinos de Mali, Sosso e Songai a disputar a região.

Sem comentários:

Enviar um comentário