quarta-feira, 22 de julho de 2020

Judith Butler e a teoria 'queer'



Judith Butler é uma filósofa norte-americana pós-estruturalista do departamento de retórica e literatura comparada da Universidade da Califórnia em Berkeley. Butler aponta a falsa estabilidade da categoria mulher e propõe a busca por um modo de interrogação da constituição do sujeito que não requeira uma identificação normativa com o sexo binário. Os seus trabalhos mais recentes, na senda de Hannah Arendt, focam a filosofia judaica, centrando-se em particular nas "críticas pré-sionistas da violência estatal”.

O trabalho de Butler tem influenciado as teorias queer. A sua teoria da performatividade de género, bem como a sua concepção do "criticamente queer", não apenas transformaram os entendimentos de género e identidade queer no mundo académico, mas também moldaram e mobilizaram vários tipos de ativismo político, particularmente o ativismo queer em todo o mundo. O trabalho de Butler também entrou em debates contemporâneos sobre o ensino de género, homoparentalidade e despatologização de pessoas transgénero. Ratzinger, antes de ser papa Bento XVI, desafiou Buttler a explicar-se o que queria dizer como conceito de “género”. Butler, para os conservadores reaccionários, tornou-se o símbolo da destruição de papéis tradicionais de género. Este foi particularmente o caso em França durante os protestos contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

O trabalho de Butler sobre género, sexo, sexualidade, queer, feminismo, corpos, discurso político e ética mudou a forma como estudiosos de todo o mundo pensam, falam e escrevem sobre identidade, subjetividade, poder e política. Também mudou a vida de inúmeras pessoas cujos corpos, géneros, sexualidades e desejos os tornaram sujeitos a violência, exclusão e opressão. Alguns críticos acusaram Butler de elitismo devido ao seu estilo de prosa difícil, enquanto outros afirmam que ela reduz o género ao discurso ou promove uma forma de voluntarismo de género.

Críticas foram-lhe também feitas por Martha Nussbaum, que argumentou que Butler interpreta de forma errada a ideia de enunciação performativa de Austin. E não fornece uma teoria ética normativa para dirigir os desempenhos subversivos que Butler endossa. Nancy Fraser sugeriu que o foco de Butler na performatividade a distancia das "maneiras quotidianas de falar e pensar sobre nós mesmos". Porque é que devemos usar uma linguagem de auto-distanciamento? Butler respondeu às críticas no prefácio da edição de 1999 do seu livro – Gender Trouble, cuja primeira publicação data de 1990. Este livro só foi publicado em Portugal em 2017, edição Orfeu Negro, com a tradução de Nuno Quintas, com o título: Problemas de Género. Trata-se de um dos textos mais importantes da teoria feminista, dos estudos de género e da teoria queer. Ao definir o conceito de género como performatividade - isto é, como algo que se constrói e que é, em última análise uma performance - Problemas de Género repensou conceitos do feminismo e lançou os alicerces para a teoria queer, revolucionando a linguagem dos activismos.

A teoria queer é uma teoria sobre o género que afirma que a orientação sexual e a identidade sexual ou de género dos indivíduos são o resultado de uma construção social e que, portanto, não existem papeis definidores pela biologia conforme o sexo no género humano. Tal é definido pela sociedade. Mas não há uma definição genericamente aceite para esta corrente de pesquisa académica e forma particular de política pós-identitária. Os estudos queer constituem um corpus de investigação disperso por várias áreas da Sociologia: antropologia cultural; psicologia social; sexologia; filosofia; artes performativas; estudos culturais ... entre outras.

De uma forma geral, é possível afirmar que a teoria queer busca ir além das teorias baseadas na oposição "homens - mulheres" e também aprofundar os estudos sobre minorias sexuais LGBTQ. 
A teoria queer propõe explicitar e analisar esses processos a partir de uma perspectiva comprometida com aqueles socialmente estigmatizados, portanto dando maior atenção à formação de identidades sociais normais ou "desviantes" e nos processos de formação de sujeitos do desejo classificados em legítimos e ilegítimos. Neste sentido, a teoria queer é bem distinta dos estudos gays e lésbicos, pois considera que estas culturas sexuais foram normalizadas e não apontam para a mudança social. Daí o interesse em estudar a travestilidade, a transgeneridade, e a intersexualidade. Mas também culturas sexuais não-hegemónicas caracterizadas pela subversão ou rompimento com normas socialmente prescritas de comportamento sexual e/ou amoroso.

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