quinta-feira, 9 de julho de 2020

Uma conceção sistémica e unificada da vida


Precisamos de uma estrutura conceptual que integre as dimensões biológica, cognitiva e social da vida; uma estrutura que nos habilite a resolver de maneira sistémica alguns dos problemas por que estamos a passar nos últimos meses.

O nosso sistema imunitário é uma rede metabólica que funciona em parceria com a rede do sistema nervoso. E estas redes, por sua vez, funcionam em articulação com a rede de comunicações dos sistemas sociais. Os processos químicos que produzem estruturas e energia na forma de vida, antecedem os processos de pensamento que produzem estruturas semânticas, que por sua vez entram nos fluxos de informação que estão materializados na sociedade através de redes materiais que utilizam energia física que está disponível no meio ambiente.

Já temos falado noutras ocasiões acerca da forma como o actual capitalismo global é insustentável dos pontos de vista social e ecológico. O chamado "mercado global" nada mais é do que uma rede de máquinas programadas para atender a um único princípio fundamental: o que importa é ganhar dinheiro, custe o que custar, sejam à custa de direitos humanos, da democracia, da protecção ambiental, ou qualquer outro valor que valha a pena defender como se de uma lei universal se tratasse. Mas a questão principal não é a tecnologia. É a política. O que é preciso mudar é o sistema de valores que está por trás da economia global, de modo a torná-lo compatível com as exigências da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica.

Com efeito, é isso que a actual pandemia nos está a mostrar. Precisamos de rever os actuais sistemas de consumo, que só poderá ter algum sucesso se for feito ao nível planetário. E para isso, bastava apenas que as cinco maiores lideranças do planeta se juntassem e metessem as mãos à obra – China, Índia, América, Europa e Rússia. E isso aparentemente pareceria fácil, pois na cultura chinesa tradicional, valores Yin e Yang não são vistos como intrinsecamente bons ou maus. Têm é de ser equilibrados. O movimento rumo a esse equilíbrio é muito compatível com a passagem do pensamento mecanicista para o pensamento sistémico e ecológico que caracteriza a nossa época.

Na sociedade capitalista contemporânea, o valor central - ganhar dinheiro - caminha de mãos dadas com a exaltação do consumo material. Uma corrente infinita de mensagens publicitárias reforça a ilusão das pessoas de que a acumulação de bens materiais é o caminho que leva à felicidade, o próprio objectivo da nossa vida. A exaltação do consumo material tem raízes ideológicas profundas, que vão muito além da economia e da política. A literacia ecológica estimula o pensamento sistémico, que incide a sua atenção mais sobre as relações, contextos, padrões e processos.

Existem vários sinais de que o processo de transição para a sustentabilidade ecológica está em curso, e a experiência que as pessoas estão a ter com o confinamento forçado por causa deste vírus, é determinante, porque nunca tanta gente viu ao mesmo tempo, e em tão pouco tempo, os efeitos benéficos no ar que respiramos e na água, só porque suspenderam temporariamente as suas actividades económicas. A tarefa parece ser de Hércules, ou mesmo de Sísifo, mas, na verdade, não é impossível.

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