sexta-feira, 17 de julho de 2020

Ó Salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!


Um verso quase pessoano a propósito do caso quase clínico, de um homem que andou a roubar os portugueses, tempo demais, sem que ninguém tivesse o descaramento de o parar antes que fosse tarde. É agora outra vez notícia, ocupando intensivamente os comentários na imprensa escrita e falada, uma vez que acabou de sair a acusação por parte do Ministério Público, em que Ricardo Salgado é acusado de 65 crimes, 
juntamente com mais 18 pessoas e 7 empresas de crimes económico-financeiros. 

Ricardo Salgado chegou a ser apelidado em tom de chalaça: "o dono disto tudo". E não é que foi mesmo!? Esteve mais de 20 anos não apenas na liderança de um banco, mas de um império, a que alguns chamam “Polvo”, sendo ele a cabeça, il cappo della famiglia

Sabe-se quase tudo sobre a família materna de Ricardo Salgado, os Espírito Santo, e quase nada sobre as origens da família paterna, os Salgado. O seu pai foi durante três décadas administrador da Companhia de Seguros Bonança, onde Marcello Caetano trabalhou antes de assumir a Presidência do Conselho depois de Salazar cair da cadeira. Um tio, José Manuel Salgado, foi o director do Serviço de Informações da Legião Portuguesa, gerindo uma vasta rede de informadores, ou bufos na nomenclatura popular. Outro tio, Francisco Cardoso Salgado, trabalhou 25 anos na censura, no lápis azul na nomenclatura jornalística. Foi ele que analisou Seara de Vento, de Manuel da Fonseca, e proibiu a reedição do livro, incomodado com a falta de uma lição moral ou de um arrependimento do protagonista, Palma: "Cometendo aqueles crimes de morte por vingança e resistindo em luta armada auxiliado pela sogra, contra os elementos da ordem, tem um fim de exaltação subversiva criando um mito a heróis, pela causa justa da luta de classes e reivindicações sociais e porque no final da obra não apresenta nenhuma justificação ou arrependimento moral, mas antes sim uma confirmação das directivas comunistas".

Sobrinho-neto do fundador do Banco Espírito Santo (BES), Salgado foi escolhido para liderar a área financeira do Grupo Espírito Santo (GES), em 1991, chegando a essa posição pouco antes da primeira fase de privatização do BES, em que a família queria recuperar o banco depois de ter perdido quase tudo com as nacionalizações de 1975. Ao longo de duas décadas, foi sob a liderança de Ricardo Salgado que o banco da Família Espírito Santo se tornou o terceiro maior de Portugal, com o banqueiro a concentrar em si cada vez mais poder, decidindo os negócios da família, mas também influenciando a vida nacional: política, artística e científica. Tanto era assim que em julho de 2013, Ricardo Salgado teve a sua última honraria, ao ser distinguido com o doutoramento 'honoris causa' por serviços prestados à economia, cultura, ciência e à universidade, pela Universidade Técnica de Lisboa. 

Pois, mas em julho de 2014, Ricardo Salgado é detido pela primeira vez no âmbito da operação Monte Branco, que investiga a maior rede de branqueamento de capitais descoberta em Portugal. Desde então, foi uma avalanche de casos e processos que desabaram não apenas em Portugal, como um pouco por todo o mundo, vários outros processos não só criminais, mas também de índole administrativa, com contra-ordenações umas atrás das outras. Não faltaram processos instaurados contra Ricardo Salgado, mas também a vários antigos gestores do BES, e mais alguns cúmplices. Tudo indica que este é o primeiro de outros que hão de vir.



Na original Cosa Nostra siciliana, cada grupo é denominado famiglia ou Cosca. No topo da hierarquia está o Capo, coloquialmente conhecido como Don. Por ele passam todas as decisões acerca da família, e para ele deve chegar uma percentagem dos lucros de todas as operações dos seus membros. Logo abaixo do Don, está o Sottocapo (Subchefe), que substitui temporariamente o Capo na sua ausência, e também como intermediário entre este e os outros membros abaixo na hierarquia. O Consigliere é o conselheiro do Don, o único que de facto pode ponderar as acções do boss, servindo como uma segunda opinião. Normalmente é um posto ocupado por alguém de muita experiência e perícia para intermediar conflitos e negociações. Subordinados diretamente ao Sottocapo estão os Caporegimes (Capitães). Cada um destes comanda um regimento de Soldatos e Associados. Uma percentagem de todo o lucro obtido pela equipa é passada diretamente ao Capo em forma de tributo. Os Soldatos são a base da pirâmide. São membros efetivos da organização, conhecidos como "homens feitos". São os operacionais no terreno, e executantes dos serviços mais delicados. O requisito básico para se tornar um membro efetivo da família é possuir ascendência italiana. No caso da Cosa Nostra siciliana, é ser siciliano. Os Associados não pertencem à famiglia, são membros externos à organização. Embora não façam oficialmente parte da família, actuam como se membros efetivos fossem. Dependendo da sua influência e poder, um Associado pode influenciar os postos mais altos da hierarquia da famiglia caso seja um primeiro-ministro ou coisa assim.

Na época medieval os seus membros eram agricultores proprietários de suas pequenas terras. Com o passar do tempo viram que eram vulneráveis aos poderosos senhores feudais donos de grandes terras, os quais usavam de actos criminosos para obter as terras dos demais. Vários camponeses se uniram e lutaram juntos para vencer os poderosos donos de terras. Com o passar do tempo outras  pessoas se juntaram aos camponeses, com o mesmo fito de se protegerem. Da Itália, este esquema de "protecção forçada" espalhou-se principalmente para os Estados Unidos da América. A palavra "mafia" foi tirada do siciliano mafiusu, de origem árabe mahyas, que significa "alarde agressivo, jactância" ou marfud, que significa "rejeitado". Um homem mafiusu, no século XIX, significava alguém ambíguo, arrogante, mas destemido; empreendedor; orgulhoso. A associação da palavra com a sociedade criminosa foi feita em 1863 com a peça, I mafiusi di la Vicaria (O Belo Povo da Vicaria) de Giuseppe Rizzotto e Gaetano Mosca, que trata de gangues presos na prisão de Palermo. 
As palavras mafiusu ou  mafiusi (plural) não são mencionadas na peça.

O uso do termo "máfia" foi posteriormente apropriado pelos relatórios do governo italiano a respeito do fenómeno da criminalidade. A palavra "mafia" apareceu oficialmente pela primeira vez em 1865 num relatório do prefeito de Palermo, Filippo Antonio Gualterio. Leopoldo Franchetti, um deputado italiano que viajou à Sicília e que escreveu um dos primeiros relatórios oficiais sobre a "máfia" em 1876, descreveu a designação do termo "Mafia": "o termo máfia encontrou uma classe de criminosos violentos pronta e esperando um nome para defini-la e, dado ao caráter e importância especial na sociedade siciliana, eles tinham o direito a um nome diferente do utilizado para definir criminosos comuns em outros países."

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