sexta-feira, 3 de julho de 2020

O Holoceno a caminho do Antropoceno


Na escala do tempo geológico, o Holoceno é a atual época do período Quaternário da era Cenozoica do éon Fanerozoico. Por conseguinte, uma época geológica é uma subdivisão de um período. Neste caso, o período é o Quaternário. E o período Quaternário, por sua vez, é uma subdivisão da era Cenozoica. O éon, é a maior subdivisão de tempo na escala de tempo geológico. Há quatro éons, e o Fanerozoico é o último, que vai até 543 milhões de anos para trás. O seu início apenas corresponde ao surgimento de animais com exoesqueletos e conchas, que deixaram fósseis. O Fanerozoico divide-se em três eras, sendo a era Cenozoica a terceira, que se estende desde há 65,5 milhões de anos até aos nossos dias, e marca o surgimento dos mamíferos. A era Cenozoica, por sua vez, subdivide-se em três períodos, sendo o período Quaternário o último, desde há 2,58 milhões de anos. O Quaternário, subdivide-se em duas épocas: Pleistoceno e Holoceno. O Holoceno começou há 11.700 anos, que coincide com o fim do último período glacial. Alguns autores agora, introduzem uma terceira época a que dão o nome de Antropoceno, em que a atividade humana passou a ter um maior impacto na Terra com implicações de longo alcance: biosfera e biodiversidade; clima e ecossistemas. Há diferentes opiniões quanto ao seu início. Uns situam-no no início da era industrial, no século XVIII. Outros cientistas consideram que o Antropoceno começou mais cedo, no advento da agricultura, ou até a partir do surgimento do homo sapiens sapiens. Seja qual for o critério, a escala do tempo geológico requer distanciamento. 

Os parentes mais próximos dos humanos que chegaram até aqui, são os gorilas, os chimpanzés e os bonobos. São nossos parentes, mas não evoluímos a partir deles. O ancestral comum ao sapiens e seus parentes ficou muito lá para trás na evolução da ordem dos primatas. Cientificamente somos homo sapiens sapiens, com mais ou menos 50.000 anos de idade, descendentes do homo sapiens, mais ou menos com 200.000 anos de idade.  À primeira geração depois da divergência com os chimpanzés a partir do ancestral comum, documentada pelos fósseis, foi dado o nome de australopithecos, encontrados em África, onde viveram há aproximadamente três milhões de anos. Como já eram bípedes, os paleoantropólogos já lhe reconhecem o estatuto de homo, se bem que só outra geração, muitos milhares de anos mais tarde, deixou vestígios de alguma inteligência humana, tendo sido rotulado de homo habilis. 

homo erectus (1,8 milhões de anos) e o homo ergaster (1,2 milhões de anos), além de se terem encontrado em várias longitudes da Eurásia, é lhes atribuída também a sua naturalidade de África, tendo passado então a adotar uma das características mais marcantes da humanidade, a de nómada. Com a postura cada vez mais erecta passou a ser possível uma locomoção capaz de vencer distância mais longas. Além disso, com as mãos mais livres, passou a ser mais eficaz na caça de outros animais, e no domínio do fogo, o que ao garantir uma fonte de alimentação energeticamente mais rica, também lhe permitiu ser mais fértil e ter uma prole mais numerosa. 

Já o homo neanderthalensis (400.000 anos) possui tal nomenclatura porque seus fósseis foram encontrados na cidade de Neander, na Alemanha, pelo que se retira daqui o seu povoamento na Europa para além da Ásia e Médio Oriente. Acredita-se que o homo sapiens, é o homem contemporâneo do Homem de Neandertal, imediatamente antes do atual homem moderno, já com o atributo da linguagem falada muito desenvolvida por volta do quadragésimo milénio antes de nós: autodenominados modernaços sapiens sapiens, capazes de fazer implodir a Terra e fugir para Marte.

Muitas espécies foram extintas devido ao impacto humano. A maioria dos especialistas concorda que as atividades humanas têm acelerado a taxa da extinção das espécies. A taxa exata é controversa, sendo muitas vezes situada entre 100 a 1000 vezes a taxa considerada normal. Em 2010 um estudo publicado na Nature refere que o fitoplâncton declinou substancialmente nos oceanos ao longo do século passado. Desde 1950, a biomassa de algas diminuiu cerca de 40%, provavelmente em resposta ao aquecimento do oceano, sendo que o declínio acelerou nos últimos anos.

Destaca-se também uma mudança na variedade de animais, já que áreas onde várias espécies de animais superiores viviam anteriormente foram modificadas para a criação de animais que servissem para a alimentação humana, diminuindo a diversidade da área; isto é especialmente verdade para pastos e certas zonas marinhas. Alteração similar houve nas regiões urbanas, onde alguns animais foram expulsos de seus habitats, enquanto outros se adaptaram, provocando aqui e ali pragas. A diversidade de plantas comestíveis e não-comestíveis foi sensivelmente afetada pelo homem que selecionou algumas espécies em detrimento de uma grande diversidade natural; enormes áreas povoadas com centenas de espécies vegetais diferentes são degradadas para originar plantações de um só ou de poucas espécies de plantas, o que também afeta os animais num outro plano.

Outra consequência da industrialização humana é o  aumento do teor de dióxido de carbono atmosférico (CO2). Durante os ciclos glaciais e interglaciais dos últimos milhões de anos, o CO2 tem variado em cerca de 100 ppm (entre180 ppm e 280 ppm). A partir de 2013, as emissões líquidas antrópicas de CO2 aumentaram a sua concentração atmosférica de 280 ppm para aproximadamente 397 ppm. Mais de 7 mil milhões de seres humanos a consumir os recursos da Terra; a queimar combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão – são os responsáveis pelas maiores alterações do Antropoceno: o aquecimento global e as alterações climáticas.

No Antropoceno, o curso dos grandes rios do planeta e o seu padrão de sedimentação foram amplamente alterados. Barragens, canais e fábricas mudaram de forma radical os caminhos da água entre as altas montanhas e o mar. Estamos cada vez mais sujeitos a secas e inundações. A disponibilidade de água potável também está em risco, devido à poluição de fontes, rios, lagos e aquíferos. As grandes metrópoles são as primeiras a sofrer com a crise da água. Em todo o mundo, apenas 4% dos esgotos domésticos são adequadamente tratados, e a maior parte da água utilizada nas residências e nas indústrias é despejada nos rios sem qualquer tipo de tratamento.

Paul Josef Crutzen - químico holandês que  conjuntamente com Mario Molina e Frank Sherwood Rowland, foi laureado com o Nobel de Química de 1995, pelo "seu trabalho na química atmosférica, particularmente o estudo sobre a formação e decomposição do ozono na atmosfera - propôs a Revolução Industrial como o início do Antropoceno. Embora seja evidente que a Revolução Industrial marcou o início de um impacto humano global sem precedentes no planeta, grande parte da paisagem da terra já apresentava modificações significativas pelas sucessivas civilizações dos últimos cinco mil anos. 
Ultimamente o conceito de Antropoceno também tem recebido uma abordagem pelas disciplinas das ciências sociais e humanas, ao debruçarem-se sobre o tema da queda das civilizações ligada às perturbações ecológicas de causa humana. É difícil estimar, no tempo de uma vida humana, digamos cem anos, a folga que a Terra tem para suportar os maus tratos humanos, e qual a escala do tempo e da velocidade que a Terra pode suportar, partindo do princípio que a Terra no seu conjunto é um sistema vivo que se autorregenera. 

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