quinta-feira, 9 de julho de 2020

Tempo de Incerteza - António Barreto



António Barreto é um dos mais atentos observadores da realidade portuguesa nos dias de hoje. Neste seu último livro: Três Retratos: Salazar, Cunhal, Soares – lançado em julho de 2020, pela Relógio d’Água, António Barreto faz o retrato dos três portugueses que mais influenciaram o nosso século XX. Mas não os retrata como figuras independentes, antes os combina e contrasta. Salazar, que instaurou o Estado Novo, enfrentou, a partir de dada altura, como principal dirigente da oposição política e cultural à sua ditadura: Álvaro Cunhal. Mário Soares, ao mesmo tempo inimigo e arquiapóstata do mesmo credo de Cunhal, que impulsionou o regime democrático, teve de vencer as pretensões de Cunhal de transformar o golpe democrático do 25 de Abril na Ditadura, numa nova ditadura. 

Mas junto aqui um outro livro de António Barreto, para fazer sistema com os outros artigos desta última onda sob o signo da Incerteza - “O Tempo de Incerteza”-, também publicado pela Relógio d’Água em 2002. É um livro de ensaios em que Barreto analisa as principais mudanças sociais do país nas últimas décadas (com particular enfoque na saúde, administração pública e migrações) e as consequências da nossa integração na Europa e da adesão à moeda única. 
É um retrato realista do país que somos, que continua actual neste tempo de incerteza. A obra termina com um texto de elogio ao Livro e ao seu papel no conhecimento.


A ideia central de 'Tempo de Incerteza' é a de que a sociedade portuguesa mudou muito desde 1960. Num país que sempre foi pródigo em perder tempo, houve, evidentemente, um conjunto de mudanças naturais, ditadas pela alteração de regime político e pelo desmantelamento de pilares importantes do regime anterior. Sobretudo, esta última década e meia gerou mudanças profundas num país historicamente proteccionista e enclausurado: a economia portuguesa é hoje uma economia aberta, plenamente integrada no espaço europeu, ainda que terciarizada e sem indústria de ponta; o produto cresceu; a educação democratizou-se; a despesa social aumentou; a justiça e a saúde tornaram-se serviços amplamente procurados, embora ineficientes.



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