quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A definição cultural da Europa - [2]

 

Desde o século XVI que havia entre os alemães eruditos um melindre a propósito de haver comunidades germânicas, como os Saxões da Transilvânia, que estavam separadas, mas que também eram da mesma cultura e falavam a mesma língua. Ao longo da sua história, a Transilvânia foi dominada por diferentes povos e estados. No início do século II a.C., sob o governo de Rubobostes, um rei Dácio da Transilvânia, o poder dos dácios na Planície da Panónia, a região entre os Cárpatos, os Alpes Dináricos e os Balcãs, aumentou com a derrota dos Celtas que anteriormente detinham o poder na região. Existia um reino da Dácia, pelo menos, desde o início da primeira metade do século II a.C. sob o governo do rei Oroles. De facto, os dácios pareciam tão formidáveis que Júlio César considerou a possibilidade de enviar uma expedição contra eles, só não aconteceu porque entretanto foi assassinado. Por volta da mesma época, Burebista foi assassinado, e o reino foi dividido em quatro (ou cinco) partes sob o comando de governantes separados. Os Dácios eram o tal povo germânico que foi dominado pelos Romanos, mencionados no filme "O Gladiador", e da narrativa do post anterior.

Contudo, de modo algum eles foram subjugados, e em épocas posteriores, para manterem a sua independência, eles aproveitaram cada oportunidade de atravessar o congelado Danúbio durante o inverno para devastar as cidades romanas na província da Mésia. Foi o coração do Reino da Dácia entre 82 a.C. e 106 d.C. Nesse último ano foi conquistada pelo Império Romano, passando a fazer parte da província romana da DáciaOs Dácios venceram duas vezes os romanos: no reinado de Diurpaneu (Campanha dácia de Domiciano, entre 86 e 88); e no do grande Decébalo (Campanha dácia de Trajano, entre 101 e 106). Depois destes dois graves reveses, os romanos, sob o comando de Técio Juliano, obtiveram uma notável vantagem, mas foram obrigados a entrar em acordo de paz devido à derrota de Domiciano pelos marcomanos. Decébalo devolveu as armas que havia obtido e alguns dos prisioneiros. No entanto, os dácios ficaram independentes, Domiciano concordou em adquirir imunidade pelo pagamento de um tributo anual.

Para pôr um fim a esse desonroso arranjo, ou talvez para restaurar as finanças do Império Romano com a captura do famoso Tesouro de Decébalo, Trajano resolveu conquistar a Dácia para assim controlar as minas de ouro dácias da Transilvânia. O resultado da primeira campanha (101–102) foi o cerco da capital dácia, Sarmizegetusa, e a ocupação de parte do país. A segunda campanha (105–106) obteve o suicídio de Decébalo e a conquista do território que formaria a província romana: Dácia Trajana. A história da guerra é apresentada por Dião Cássio, mas o melhor comentário sobre a mesma é a famosa Coluna de Trajano em Roma. 
O domínio romano, contudo manteve-se precário. Adriano, ciente da dificuldade em mantê-lo, considerou o abandono do país. Só não aconteceu, considerando a segurança que era preciso manter dos numerosos colonizadores romanos. No governo de Galiano (256), os godos atravessaram os Cárpatos e expulsaram os romanos da Dácia, com a exceção de alguns locais fortificados entre os rios Tímis e Danúbio. Nenhum detalhe do evento foi registado, apenas em Festo: "no governo do imperador Galeno a Dácia foi perdida". Após 256 as inscrições e moedas romanas desaparecem. Aureliano (270–275) retirou todas as tropas e fixou a fronteira romana no Danúbio. Uma nova Dácia Aureliana foi reorganizada ao sul do rio Danúbio, com a capital em Sérdica = Sófia, atualmente a capital búlgara. Após a retirada dos romanos a Transilvânia foi invadida por uma sucessão de tribos, nomeadamente: carpos, visigodos, hunos, gépidas, avaros e eslavos.

"Eslávia" começava a leste do Elba e se prolongava para sul até ao Mar Negro. No século XIX, muito depois dos governantes Habsburgos terem estabelecido uma autoridade de facto sobre territórios que se estendiam até bem dentro daquilo que é hoje a Ucrânia, o chanceler austríaco Metternich, numa expressão que ficou célebre, podia dizer que a Ásia começava na Landstrasse, a estrada de Viena em direção ao Leste. Húngaros e Austríacos tinham na cabeça uma linha imaginária invisível que percorria a Europa de Norte a Sul. A única grande movimentação populacional na Europa depois da chegada dos Magiares à planície do Danúbio foi a deslocação para Leste dos colonos alemães, uma terra incógnita composta por povos rudes que ali estavam à espera da civilização e de governo. 




A Transilvânia é conhecida pela beleza das paisagens dos Cárpatos e pela sua rica história de estórias. É limitada a leste e a sul pela cordilheira dos Cárpatos. E historicamente estendia-se para oeste até aos montes Apuseni. A primeira menção à região em registos históricos é dum documento de 1075 e usa a expressão do latim medieval: terra ultra silvam (terra além da floresta). Em Sancti Gerhardi, do século XII, é usado o nome Partes Transsylvanæ, com o mesmo significado, o qual é mantido na forma Transsilvania em documentos medievais posteriores do Reino da Hungria.

Desde o século XVIII que foram realizados censos oficiais com informações sobre a população da Transilvânia. Em 1 de maio de 1784, o imperador José II mandou realizar o primeiro censo oficial do Império Habsburgo do qual a Transilvânia fazia parte. Os dados foram publicados em 1787 e registavam apenas a população total (1 440 986 habitantes). Fényes Elek, um estatístico húngaro do século XIX, estimou em 1842 que a maioria da população transilvana nas décadas de 1830 e 1840 era romena (62,3%) e magiar (23,3%). O primeiro censo oficial na Transilvânia no qual se fez uma distinção entre etnias, com base na língua materna, foi realizado pelas autoridades austro-húngaras em 1869. A população magiar da Transilvânia aumentou para 24,9%. E em 1910 já era de 31,6%. No mesmo período a percentagem da população romena diminuiu de 59% para 53,8% e a percentagem da população saxã (alemã) decresceu de 11,9% para 10,7%. Segundo o censo húngaro de 1910, a região tinha 5 262 495 habitantes. As políticas de "magiarização" contribuíram muito para essa mudança.

A percentagem da maioria romena aumentou significativamente desde a declaração da união com a Roménia depois da Primeira Guerra Mundial, em 1918. A proporção de magiares na região entrou num declínio acentuado à medida que mais habitantes das zonas rurais migraram para zonas urbanas, onde a pressão para a assimilação e "romenização" era maior. A expropriação de propriedades rurais de magnatas magiares, a distribuição de terras a camponeses romenos e a política cultural de romenização que se seguiu ao Tratado de Trianon, 1920, causaram atritos entre a Hungria e a Roménia. Outros fatores incluíram a emigração de populações não romenas, assimilação e migração interna dentro do território romeno. Estima-se que entre 1945 e 1977, 630.000 pessoas migraram do chamado Velho Reino (os territórios do Reino da Roménia até 1918) para a Transilvânia; e 280.000 emigraram da região para outras áreas da Roménia, principalmente para Bucareste.

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