quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A definição cultural da Europa - [3]



O Castelo de Bran na Roménia - na fronteira entre a Transilvânia e a Valáquia - é uma das atrações turísticas mais populares da Roménia por estar associado ao "Castelo do Drácula", uma referência ao Príncipe Vlad TepesVlad Drakul, ou Vlad O Empalador, de que falaremos a seguir, mas sem fiabilidade histórica. Localiza-se próximo de Bran, na vizinhança da cidade de Brașov, no condado com o mesmo nome, na parte central do país, 166 Km a norte de Bucareste. É um monumento nacional e marco histórico da Roménia na fronteira entre a Transilvânia e a Valáquia, no sopé dos montes Cárpatos em plena floresta. 

O romance de Bram Stoker [1847-1912] - "Drácula" 1897 - terá contribuído para a ligação errónea deste castelo a Vlad Drakul (Drácula histórico ou Vlad Tepes), mas ao mesmo tempo deu asas ao mito do Drácula que se tornou conhecido pelo mundo dando aso a vários filmes famosos. E assim o Castelo de Bran é promovido como a residência do personagem 'Drácula' que dá título ao romance. Portanto, é um personagem fictício. O personagem é o mais famoso vampiro da ficção, e segundo o Guiness Book, o monstro e vilão fictício com maior número de aparições mediáticas, diretas ou indiretas. O personagem também é creditado no romance como um dos precursores da origem das lendas sobre lobisomens. O Conde Drácula pode ter sido inspirado no voivoda (príncipe) Vlad Țepeș (Vlad III).




O primeiro documento que menciona o Castelo de Bran é um ato emitido por Luís I da Hungria, datado de 19 de novembro de 1377, pelo qual o rei concedia aos saxões de Kronstadt (Braşov) o privilégio de construírem uma cidadela de pedra. Em 1378 o castelo começou por ser usado na defesa contra o Império Otomano.

Depois do final da Segunda Guerra Mundial e da expulsão da família real da Casa de Hohenzollern-Sigmaringen, o castelo foi ocupado e nacionalizado pelo regime comunista, tendo sido transformado em museu. Atualmente, o castelo alberga um museu aberto ao público, exibindo peças de arte e mobiliário colecionados pela Rainha Maria (Maria Alexandra Vitória - Kent, 29 de outubro de 1875 – Sinaia, 18 de julho de 1938, primeira filha de Alfredo, duque de Saxe-Coburgo-Gota e da grã-duquesa Maria Alexandrovna da Rússia, tendo sido neta da rainha Vitória do Reino Unido e do czar Alexandre II da Rússia) a última rainha consorte da Roménia, casada com  Fernando I da Roménia.

Em 2005, o governo romeno fez passar uma lei especial que permitia a restituição do Castelo de Bran, aos seus legítimos proprietários. No dia 26 de maio de 2006, a Roménia, agora um estado membro da União Europeia, devolveu a posse do castelo ao Arquiduque Dominic da Áustria, Príncipe da Toscânia, conhecido como Dominic von Habsburg, um arquiteto a residir no Estado de Nova York, tendo colocado o castelo à venda (avaliado pela revista norte-americana Forbes em 140 milhões de dólares). Mas em 2014, o castelo-fortaleza estava à venda por 58 milhões de euros.

Ora, a 125 km de Bran fica Arefu, no condado de Curtea de Arges, na região da Munténia, a cerca de 180 km de Bucareste. É nesta sub-região da Valáquia, província histórica da Roménia a norte do rio Danúbio que se encontra a Fortaleza de Poenari, e aqui sim, onde Vlad III Dracul, defendeu o seu território, portanto, o verdadeiro castelo de Vlad Drakul (Drácula histórico ou Vlad Tepes).




Castelo de Poenari, ponto estratégico de observação durante conflitos, e também refúgio de Vlad III. Diz a lenda que foi de uma destas torres que a primeira esposa de Vlad III se atirou, episódio que curiosamente Bram Stoker fala no seu livro, e que aparece no filme Drácula de Francis Ford Coppola, 1992. O castelo foi construído no começo do século XIII e ampliado durante o governo de Vlad III, com a mão de obra de prisioneiros. Hoje, a construção está em ruínas. 

Vlad III, ou príncipe Vlad Tepes, utilizou em várias ocasiões este castelo com fins militares durante o seu reinado, no século XV. A sua fama de crueldade e brutalidade serviu de inspiração para o famoso vampiro do livro de Bram Stoker. Essa história de sugar o sangue e a vitalidade dos outros é uma lenda velha, que existe desde a Antiguidade. Não dá pra saber se algum dia a prática existiu mesmo. Vlad III era cruel, é verdade. Mas a sua prática favorita era o empalamento. 




Vlad III foi um voivoda (príncipe) da Valáquia. Era o segundo filho de Vlad II, que foi voivoda da Valáquia de 1436 a 1442 e de 1443 a 1447. Vlad e o seu irmão mais novo Radu chegaram a ficar reféns do Império Otomano em 1442, como garantia da lealdade do pai. O irmão mais velho de Vlad, Mircea, e Radu, acabaram assassinados na sequência da invasão da Valáquia em 1447 por João Corvino, regente-governador da Hungria. Corvino nomeou como novo voivoda da Valáquia um primo em segundo grau de Vlad, Ladislau II.

Entretanto Constantinopla é capturada pelo exército otomano, comandado pelo Sultão Maomé II, em 1453, após um cerco de 53 dias. Maomé II transfere a capital otomana, que era em Edirne, para esta grande cidade. A paz na região da Transilvânia-Valáquia é restaurada em 1460. Maomé II, o Conquistador, ordenou a Vlad que lhe pagasse tributos, mas Vlad capturou e empalou os emissários do sultão. Em fevereiro de 1462, Vlad invadiu território otomano, massacrando milhares de turcos e búlgaros. Então Maomé II lança-se contra a Valáquia para substituir Vlad por Radu, o seu irmão mais novo. Vlad chegou a tentar capturar o sultão uma noite em Târgoviște, mas o sultão e muitos comandantes de seu exército já haviam partido da Valáquia. Vários cidadãos passaram a apoiar Radu para o trono. Vlad buscou auxílio na Transilvânia, a Matias Corvino, rei da Hungria, no final de 1462. Tal tentativa saiu-lhe furada, tendo sido aprisionado por Matias

Vlad foi mantido em cativeiro em Visegrado de 1463 a 1475. Foi neste período que episódios da sua crueldade começaram a circular pela Alemanha e pela Itália. Foi libertado a pedido de Estêvão III da Moldávia, no verão de 1475. Lutou no exército de Matias contra os otomanos na Bósnia, no começo de 1476. Tropas húngaras e búlgaras o auxiliaram a forçar Bassarabe Laiotă, que tirou Radu do poder, a fugir da Valáquia em novembro. Bassarabe ainda retornaria com apoio otomano antes do final do ano, e Vlad ainda estava vivo para o assassinar. Acredita-se que Vlad Ţepeş tenha passado dias fechado nas masmorras enquanto os otomanos controlavam a Transilvânia. Vlad morreu em Bucareste a 14 de dezembro de 1476.

Vlad III era filho do nobre Vlad II “Dracul”, que governou antes dele a Valáquia. Aliás, foi daí que surgiu o nome “Drácula”. Em latim, draco significa dragão – ordem à qual Vlad II pertencia, cuja principal função era defender a Europa cristã dos turcos. Mas, em romeno atual, dracul significa diabo. Logo, Drácula é também “filho do diabo”. Dá para ver como Bram Stoker se inspirou nesse personagem. Vlad III ficou preso doze anos no Reino da Hungria. Mas o regime da detenção não era muito rígido. Tanto que Vlad III se casou, teve filhos e chegou à condição de membro da família real – tudo isso enquanto ainda era prisioneiro. Anos depois, decidiu reconquistar a Valáquia, pela terceira vez. Ele contou com o apoio de forças húngaras e de seu primo, o príncipe da Moldávia, Estevão. Nessa época, Radu já tinha morrido, e quem mandava na Valáquia era Bassarabe, o Velho. Quando Vlad III lá chegou, o governante ficou tão assustado que preferiu fugir a encará-lo de frente. A reconquista, portanto, correu bem. Só que, no mesmo ano, Vlad III morre misteriosamente. Ele tinha 45 anos. Enquanto parte dos historiadores diz que ele morreu em batalha contra os turcos, que estavam a tentar recolocar Bassarabe no poder, outros sustentam que ele sucumbiu numa emboscada armada pelos burgueses descontentes de seu próprio reino, assim como tinha acontecido com seu pai. 

Conta-se que um dia 
Vlad viu um aldeão com a camisa toda suja e perguntou-lhe se a sua mulher era saudável. O aldeão respondeu que sim. Consequência: a mulher do aldeão ficou com ambas as mãos decepadas. E Vlad fez questão de lhe arranjar outra mulher. E que servisse de emenda. Vlad tinha prazer em comer na frente das suas vítimas empaladas.  A crença de que o conde Drácula é um morto vivo veio de um episódio numa das suas muitas batalhas, em que sofreu um forte golpe na cabeça, que o deixou em coma. Depois de os seus companheiros o verem caído no chão, bateram em retirada levando consigo o seu corpo. Vlad acordou do coma como se nada tivesse acontecido, e logo depois de recobrar os sentidos, retornou à batalha levando o seu exército à vitória e a uma das mais sangrentas batalhas, criando assim a crença que ele havia retornado dos mortos como um morto vivo.


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