quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

A escalada dos protestos contra o confinamento na Europa




Estamos em Amsterdão, na Museumplein, um espaço público onde se localizam três grandes museus: Rijksmuseum; Museu Van Gogh; Stedelijk – e uma sala de concertos Concertgebouw. Agora aos fins de semana as pessoas juntam-se aqui para protestar contra o confinamento. Ao fim de um ano de restrições por causa da pandemia, um novo fenómeno espalha-se pela Europa. Os protestos contra o confinamento crescem, tornam-se violentos, partem a sociedade ao meio.

Perpendicular ao Museumplein, localiza-se a rua Pieter Cornelius Hoofstraat, uma das ruas comerciais mais importantes de Amsterdão, onde se concentram as lojas mais luxuosas. As montras, agora, estão todas tapadas com painéis de madeira. A porta da Louis Vuitton, aliás, desapareceu completamente atrás de um paredão de blocos de cimento. Depois do que está a acontecer, os comerciantes temem as pilhagens e tentam proteger-se. 




Na foto vê-se um rapaz a pintar um taipal, mal ele foi colocado. Subitamente três drones começam a sobrevoar o relvado do Museumplein, emitindo uma mensagem sonora repetidamente. “Esta manifestação não foi autorizada. Dispersem rapidamente. A polícia vai intervir e recorrer ao uso da força.” Nos minutos seguintes algumas pessoas levantam-se e abandonam o terreno. A maioria, contudo, decide ficar. É domingo, são quatro e meia da tarde, A batalha está prestes a começar.

À medida que a tarde corria, a multidão tinha engrossado. Nas redes sociais circulara a informação de que a polícia iria deter quem viesse manifestar-se, por isso muita gente explicava que só tinha vindo beber um café. Grupos inteiros sentavam-se em roda no chão, com termos e chávenas. Entre eles circulavam muitos miúdos em idade de liceu, em regra vestidos de negro, com capuzes e bonés. São sobretudo eles que enfrentam a polícia. Trazem bolsos carregados de pedras, foguetes e petardos nas mochilas. Alguns são imediatamente revistados e detidos. Outros passam. O ambiente começava a ficar mais pesado. Depois de os drones avisarem a multidão do Museumplein para dispersar, percebeu-se imediatamente que a polícia de choque tinha cercado todo o jardim, deixando apenas uma escapatória aos manifestantes: para sul, em direção à Van Baerlestraat. Primeiro, avançou uma carrinha blindada que os protestantes cercaram e conseguiram fazer recuar. Um foguete explodiu no relvado, e segundos depois dezenas de agentes do corpo de intervenção, armados de escudos e bastões, investiram em corrida pelo lado norte.

As medidas de restrição na Holanda intensificaram-se há quatro meses: os restaurantes fecharam no final de outubro, as lojas e as escolas em dezembro. Há um fator importante para explicar a escalada de violência. Na altura em que as restrições mais duras foram anunciadas - o recolher obrigatório -  o país apresentava os números mais baixos desde setembro, tanto nos contágios como nos óbitos. O executivo justificou o aperto das medidas com o aparecimento de uma nova estirpe de coronavírus vinda do Reino Unido. Para centenas de holandeses, no entanto, o argumento não convenceu.

Em França, nos últimos dias, perante o aumento substancial de novos casos de coronavírus, impulsionados pela disseminação das variantes britânica e sul-africana, a imprensa francesa dava como certo o anúncio de um terceiro confinamento. No entanto, apesar de registar números próximos ou acima dos 20 mil casos diários há mais de duas semanas e com os hospitais a começarem a dar sinais de rutura, o governo francês, tendo consciência da agitação social que se está a gerar e a escalar por toda a Europa contra o confinamento, recuou, optando apenas por um maior controlo nas fronteiras, o encerramento de alguns estabelecimentos comerciais e um reforço policial para garantir o cumprimento do recolher obrigatório. “A questão do confinamento é legítima, mas conhecemos o seu pesado impacto para os franceses. Acreditamos que ainda temos uma hipótese para o evitar”, afirmou o primeiro-ministro francês, Jean Castex, no final de um Conselho de Defesa extraordinário convocado pelo Presidente Emmanuel Macron. Apesar de reconhecer que as medidas atuais não estão a resultar, Macron e o seu governo vão tentar adiar ao máximo a introdução de um novo confinamento, apostando mais na fiscalização das medidas em vigor do que na introdução de novas restrições.

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