A Esperança de Vida à Nascença – é um indicador que, segundo os dados mais recentes do INE, se fixou nos 80,93 anos no período de 2017 a 2019. E a Esperança de Vida aos 65 anos - é o número médio de anos que uma pessoa ainda tem para viver ao fazer 65 anos. Entre 2017 e 2019 estava fixada nos 19,61 anos.
No número de mortes de 2020, em Portugal, publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), há mais 12.220 do que a média dos cinco anos imediatamente anteriores. Do total de óbitos de 2020, 71,8% foram de cidadãos com 75 anos ou mais, sendo que quase 60% tinham 85 anos ou mais. Em relação à média de 2015-2019, morreram mais 10.206 pessoas com 75 anos ou mais, das quais 8.032 tinham 85 anos ou mais. A esperança de vida aos 65 anos vai diminuir já em 2020, e a pandemia pode marcar uma inversão da tendência crescente deste indicador que estávamos habituados a ver aumentar consecutivamente há vários anos. A esperança de vida aos 65 anos pode descer já no triénio 2018-2020. A tendência de aumento da esperança de vida que existia no passado, e que já era dada quase como certa, poderá não vir a acontecer, fruto da mortalidade extremamente acentuada nas idades superiores. Já a descida da esperança de vida aos 65 anos é certa. A Covid-19 vai inverter esta realidade, tanto no triénio 2018-2020 como no seguinte 2019-2021. Os peritos ainda não quantificam as quedas.
"É preciso aprender a morrer, reaprender a viver, a fim de melhor saber morrer". Palavras de Freud noutros tempos em que se lidava com a morte de outra maneira. A partir do momento em que um risco grave ameaça um membro da família, os familiares querem privá-lo da informação, escondendo o seu verdadeiro estado de saúde. Mas com esta infeção, quando dá sintomas, não há como fugir ao conhecimento da verdade, que é estar infetado e poder morrer. É difícil enganar um velho com Covid, a menos que queira ser enganado, ou nos engane ao simular estar enganado.
Heidegger disse que o ser humano é um ser-para-a-morte. Mantém a angústia a fim de procurar nela a verdade da vida e da morte. Para Heidegger, a angústia é a nossa experiência do Nada, revelando a estrutura fundamental da morte na existência humana; isto é, na antecipação da morte, experiencia-se a existência como finitude. A morte é a estrutura da vida humana, que é ser-para-a-morte. Assim, a angústia, e, por consequência, a própria morte, é o fundamento mais certo da individualidade. Essa inadaptação é o que se chama o ser-para-a-morte: a vida autêntica é a que, a todo o instante, se sabe condenada à morte e se aceita, corajosa e honestamente.
Trata-se de estar "livre para a morte", aceitá-la como um acontecimento de liberdade. É aceitando a morte que aceitamos a vida como ela é, na sua totalidade, e não o contrário. A nossa existência integra a morte desde o início. Sendo a morte inevitável, para que servem as afirmações religiosas de imortalidade senão para mergulhar um pouco mais na angústia o homem que não pode acreditar nessas promessas? Esta questão é colocada por Sartre, discípulo de Heidegger nesta matéria, para quem a morte é um absurdo e algo exterior, um facto que não se diferencia do nascimento.
O facto é que, quem recusa ou não admite a possibilidade de apenas só ter uma vida, de desaparecer, de Ser e Nada, não aguenta a representação da ideia de morte. Estamos perante a relação do homem com o seu próprio corpo e a imagem de uma horrenda degradação, de um desgaste funcional, substituindo o "ser-para-a-vida"
Antero de Quental, poeta para quem a ideia de morte se assumia numa dupla face, pessimista e negativa, mas, também, como aspiração positiva, renovadora e libertadora, suicidou-se. Falar da morte é sempre um desafio ao real, uma tentativa para objetivar o Nada, ou seja, fazê-lo existir pela negação. Isto é: só se pode falar da Morte por representações, por sinais e signos que a representam ou que tentam representar a imagem da Morte que os povos foram criando. As culturas são diversas, mas a Morte é igual em toda a parte: uma libertação.
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