quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Erínias ou Fúrias


As Erínias ou Fúrias entram aqui a propósito da História que de tempos a tempos se torna mais sombria. Pelos vistos anda muita gente furiosa com os oportunistas das vacinas que se vacinam à frente da sua vez, e que levou O Coordenador da task force da Vacinação em Portugal - Francisco Ramos - a demitir-se alegando por causa desse problema. De entre as muitas pessoas Furiosas, respigo o exemplo da Bastonária das Enfermeiras, com o seu espírito justicialista e vingativo, que se indignou com  prevaricadores e benevolentes envolvidos nesse escândalo de vacinação indevida de falsos prioritários, vacinando-se à frente dos outros no processo de vacinação covid-19. A Bastonária escreveu numa rede social: 
 «Também ouvi dizer que a Presidente da SS de Faro, ilustre esposa de um Secretário de Estado, eu para nomes sou horrível, mas acho que a ilustre é Margarida Flores e o partner é o SE da administração local, acho que se chama assim. Pegou nela, dizem, na família e nuns amigos socialistas e toca de fazer de fura filas e chicos espertos a tomar a vacina. Se assim for, a quantidade de trastes por metro quadrado no País, que é pequenino, está insuportável! Oh criaturas horrorosas, fina flor do entulho! Que gente é esta meu Deus. Atenção, dizem . . .» 
Se não foi assim que as coisas se passaram, foi grave, porque espalhada a mentira já não há como a travar. E parece que tal facto não ocorreu. Mas ainda assim, quando foi contactada por um dos visados para a informar de que nem sequer fora vacinado, a bastonária acrescentou um postscriptum: 
«Entretanto ligou-me agora o SE Jorge Botelho, agora fixei o nome, referindo que não foi vacinado, nem ele, nem a esposa mas que tem critérios para ser. Ficou aborrecido com o que as pessoas dizem. Achei que devia pôr aqui a sua posição mas confesso que fiquei confusa, não foi mas tem critério. Lembrei-me de outra coisa também, o critério neste país para se ter um alto cargo público, família.»
Perante a informação de que estava a difamar alguém, a bastonária não corrigiu o que escreveu. Preferiu manter a dúvida. E passou ao ataque, sobre as relações familiares na ocupação de cargos públicos, sem qualquer relação com os factos em causa e o processo de vacinação. E não pediu desculpa.

Bem e o Mal misturam-se nas peripécias da vida humana: "Lê-se Hannah Arendt e acredita-se” no deus sem fé que se esconde no coração do homem e da mulher vazio de hoje. Crê-se, afinal, um justo nos antípodas do personagem da peça de Camus. Quem de entre nós, poderá atirar a primeira pedra?

As Erínias na mitologia grega eram personificações da vingança. Enquanto Némesis (deusa da vingança) punia os deuses, as Erínias puniam os mortais: Tisífone (Castigo), Megera (Rancor) e Alecto (Inominável). Os Romanos importaram dos Gregos esta mitologia com outros nomes: Fúrias – Furiæ ou Diræ. Viviam nas profundezas do Tártaro, onde torturavam as almas pecadoras julgadas por Hades e Perséfone, seus pais. Outra versão afirma que nasceram das gotas do sangue que caíram sobre Gaia quando o deus Urano foi castrado por Cronos. Pavorosas, possuíam asas de morcego e cabelo em forma de serpente.

As Erínias, deusas encarregadas de castigar os crimes, especialmente os delitos de sangue, são também chamadas Euménides (Εὐμενίδες), que em grego significa as bondosas ou as Benevolentes, eufemismo usado para evitar pronunciar o seu verdadeiro nome, por medo de atrair a sua cólera. Em Atenas, usava-se como eufemismo a expressão Semnai Theai (σεμναὶ θεαί), ou deusas veneradas.

As Erínias são divindades ctónicas presentes desde as origens do mundo, e apesar de terem poder sobre os deuses, não estando submetidas à autoridade de Zeus, vivem às margens do Olimpo, graças à rejeição natural que os deuses sentem por elas (e é com pesar que as toleram, pois devem fazê-lo). Por outro lado, os homens têm-lhes pânico, e fogem delas.

As Erínias são representadas normalmente como mulheres aladas de aspeto terrível, com olhos que escorrem sangue no lugar de lágrimas e madeixas trançadas de serpentes, estando muitas vezes acompanhadas por muitos destes animais. Aparecem sempre empunhando chicotes e tochas acesas, correndo atrás dos infratores dos preceitos morais.

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