sábado, 27 de fevereiro de 2021

A ochratoxina A e a Nefropatia endémica dos Balcãs




A ochratoxina A é uma micotoxina nefrotóxica produzida pelo fungo Aspergillus ochraceus, existente no solo, que pode crescer em cereais e leguminosas: trigo, milho, arroz, cevada, centeio, soja, amendoim, ervilhas. A ochratoxina A está relatada na etiologia da nefropatia endémica dos Balcãs através da ingestão de alimentos contaminados por ela. Em pacientes dessa área endémica, e com esse tipo de nefropatia, foram encontradas concentrações aumentadas de ochratoxina A no sangue e na urina. Alterações cromossómicas induzidas experimentalmente por ochratoxina A são numericamente e estruturalmente semelhantes às identificadas em pacientes com a nefropatia endémica dos Balcãs. Daí se inferir o seu papel na patogénese de tumores malignos do trato urinário nos pacientes com esse tipo de nefropatia.




A nefropatia endémica dos Balcãs, ou nefropatia balcânica, é uma doença renal tubulointersticial crónica, de natureza endémica, diagnosticada pela primeira vez em 1956 na Bulgária, numa área da bacia do Danúbio e seus afluentes, onde convergem territórios da Roménia (no Condado de Banat e Mehedinti), Bulgária, Albânia e na antiga Jugoslávia (Bósnia, Croácia, Sérvia, Macedónia). 
Um ano depois, uma doença renal com características clínicas e epidemiológicas quase idênticas foi relatada na Sérvia, então Jugoslávia. Em 1961, uma nefropatia semelhante foi encontrada como generalizada na Roménia. Caracteriza-se por uma importante atrofia renal, com predomínio de lesões intersticiais e que evolui clinicamente para insuficiência renal crónica, sem edema ou hipertensão e com aumento da incidência de tumores do urotélio, ou seja, das vias excretoras. E a hipótese da sua etiologia mais provável é ambiental – hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, e a ochratoxina A.

A epidemiologia da nefropatia dos Balcãs é característica, com 
uma série de peculiaridades: idade, sexo, incidência familiar e predominância rural. A doença predomina em adultos de 30 a 50 anos. O início clínico da doença é geralmente após 40 anos, nunca encontrado antes dos 20 anos (a doença não foi relatada em crianças e adolescentes). O fator hereditário é controverso, em que os estudos sugerem transmissão poligénica. O que é contestado por alguns autores. Os genes envolvidos estão localizados no cromossoma 3, 3q24, 3q25 e 3q26. A condição é endémica porque é encontrada em famílias que vivem numa área limitada dos Balcãs, com um raio de cerca de 200 km perto da curva do Danúbio na Roménia (no noroeste do Condado de Mehedinti e num pequeno surto em Banat), na Albânia, Bósnia e Herzegovina, Croácia, Sérvia, Macedônia, Bulgária. A distribuição espacial permaneceu inalterada ao longo do tempo. A prevalência é alta nessas populações, variando de 0,5% a 5%. Estima-se que cerca de 100.000 pessoas estão em risco de nefropatia dos Balcãs, enquanto 25.000 têm essa doença. Na Sérvia, os pacientes com nefropatia dos Balcãs representam uma média de 6,5% em hemodiálise. Na Roménia, a nefropatia dos Balcãs é a doença renal crónica mais comum entre pacientes a fazer hemodiálise. A incidência de nefropatia dos Balcãs vem diminuindo nos últimos anos, em parte devido à migração da população de áreas endémicas para áreas urbanas, e para outros Estados. 

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