terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Igualdade de género a propósito de Yoshiro Mori



"Meus comentários inadequados causaram um grande problema. Sinto muito", disse há quatro dias Yoshiro Mori, presidente do comité dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 em 2021, e ex-primeiro-ministro, após fazer comentários sexistas que causaram uma onda de indignação internacional. A polémica estalou quando Mori, questionado sobre os planos do Comité Olímpico do Japão em aumentar o número de mulheres de 20% para 40%. Mori gerou críticas generalizadas ao dizer que mulheres falam demais e atrasariam o cronograma do evento. Incidente realça o debate sobre igualdade de género no Japão, um dos piores países no mundo neste quesito. 

O Comité Olímpico Internacional (COI) provocou uma petição online que recolheu mais de 150 mil assinaturas, ao classificar a declaração de Mori como "absolutamente inadequada" e "em contradição" com as suas diretrizes. As palavras de Mori também motivaram a retirada de centenas de voluntários japoneses inscritos para ajudar na organização dos Jogos e de corredores que iam participar do revezamento da Tocha Olímpica no Japão, cujo percurso está programado para o final de março.

Os Jogos Olímpicos de Tóquio foram adiados no ano passado devido à pandemia do coronavírus. No momento, estão programadas para julho, seguidos pelos Jogos Paralímpicos um mês depois. O presidente do Comité Paralímpico Internacional (IPC), Andrew Parsons, afirmou esperar que todo o alvoroço em torno das declarações de Mori leve a uma mudança positiva na diversidade e inclusão. "Acredito firmemente que, de todas as situações menos boas, algo bom deve sair disso", disse Parsons. "Espero sinceramente que a reação nacional e internacional dos últimos sete dias possa ser aproveitada para que a sociedade dê maior ênfase à diversidade e inclusão, não apenas em termos de representação de género, mas também de raça, sexualidade e pessoas com deficiência." Uma pesquisa recente no Japão apontou que 80% das pessoas preferem que os Jogos Olímpicos sejam cancelados ou adiados para o ano seguinte.

Como seu substituto, Mori indicou Saburo Kawabuchi, de 84 anos, ex-presidente do órgão regulador do futebol japonês e também ex-jogador de futebol. No entanto, após relatos de que o governo bloquearia a indicação, Kawabuchi recusou o pedido para assumir a chefia do comité organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Analistas questionaram porque é que uma mulher não foi nomeada. Os média do Japão apontaram três candidatas – Kaori Yamaguchi, Mikako Kotani e Naoko Takahashi, todas ex-atletas olímpicas medalhadas, qualificadas para o cargo e uma geração mais jovem.

A questão levou a um amplo debate sobre o preconceito de género na sociedade japonesa. O Japão ocupa a 121ª posição entre 153 países nas classificações de igualdade de género do Fórum Económico Mundial. Uma clara maioria dos japoneses considerou os comentários de Mori inaceitáveis, portanto o problema tem mais a ver com a falta de representação de mulheres em cargos de liderança. Este triste episódio pode ter o efeito de fortalecer o apelo por uma maior igualdade de género e diversidade nos corredores do poder
, disse Koichi Nakano, cientista política da Universidade de Sophia, localizada em Tóquio. 

Após a renúncia, o Comité Olímpico Internacional comunicou que está "mais comprometido do que nunca" em organizar os Jogos em meados deste ano. O COI continuará lado a lado com seu sucessor para garantir a segurança dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 em 2021.

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