sábado, 27 de fevereiro de 2021

Imuno-senescência


Imuno-senescência é a deterioração natural do sistema imunitário devido ao envelhecimento. Envolve a perda de capacidade do corpo para responder a infeções e à memória imunológica, o que neste caso representa alguma contrariedade no processo de imunização por via da vacinação em pessoas mais velhas, digamos, acima dos 65 anos de idade. Como é considerado um fator de mortalidade entre os idosos, daí a explicação para que até ao momento não seja aconselhado vacinar as pessoas com mais de 65 anos com a vacina da AstraZeneca. E começam a aparecer relatos de pessoas que, apesar de vacinadas para a covid-19, sobretudo com mais de 80 anos de idade, ainda assim foram infetadas pelo SARS-CoV-2 - teste PCR positivo - se bem que nenhum deles tenha sofrido doença grave, o que é, apesar de tudo, uma boa notícia. 

Foram apanhados de surpresa quando uma das utentes foi testada durante uma ida a uma consulta no hospital. Estava positiva. De imediato fizeram testes rápidos à duas mulheres que com ela partilhavam o quarto e às duas funcionárias que lhe prestavam cuidados diretos. “Tudo negativo, as autoridades de saúde mandaram fazer testes PCR em todo a ala e confirmou-se que havia mais 11 pessoas com covid-19”, explica Madalena Meneres, diretora técnica da residência. A suspeita é que o vírus tenha entrado no Barahona por uma outra utente que uns dias antes também tinha ido a uma consulta. “Tal como está estipulado, a senhora regressou e fez o isolamento. O que achamos é que foi na reta final do isolamento - e sem qualquer sintoma - que a infeção se manifestou e depois se transmitiu. Esta é a dedução que fazemos porque ninguém consegue compreender. E já que aconteceu, ainda bem que foi nesta altura, a vacina teve o seu efeito: o vírus continua a contagiar e mesmo vacinados somos agentes transmissores. Não há sintomas e a probabilidade de desencadear uma fatalidade não é tão grande.” 


O caso positivo foi confirmado 17 dias após a toma da segunda dose da vacina, altura em que supostamente a vacina já estaria a atuar no seu máximo de capacidade protetora de imunidade. No entanto, tal como a Direção Geral da Saúde explica: “apesar de muito eficazes, as vacinas não evitam completamente o risco de infeção”. As “poucas pessoas vacinadas que foram infetadas desenvolveram geralmente formas pouco graves” da doença. 

A deterioração do sistema imunológico devido ao envelhecimento afeta principalmente os linfócitos T, células responsáveis pela resposta celular, devido à involução do Timo. O Timo, órgão responsável pela produção e maturação dessas células, sofre alterações durante o seu processo de involução, onde passa a substituir a sua constituição de tecido linfoide para tecido adiposo, diminuindo a sua capacidade de produção de linfócitos T. Ocorre também o declínio na proporção de células T nativas em comparação com as células T de memória. Tal redução na produção de linfócitos T e as citocinas que elas produzem gera dificuldades na resposta imune eficaz, tanto contra os patógenos invasores como os antigénios vacinais. Outros fatores relatados na população idosa que contribuem para a baixa capacidade protetora das vacinas são a redução da capacidade fagocitária de neutrófilos e macrófagos.

A senescência é um processo metabólico ativo associado ao processo de envelhecimento. Ocorre por meio de uma programação genética: redução do tamanho dos telómeros; ativação de genes de supressão tumoral. As células que entram em senescência perdem a capacidade proliferativa após um determinado número de divisões celulares. O envelhecimento do organismo como um todo está relacionado com o facto de as células somáticas do corpo irem morrendo e não serem substituídas por novas como acontece nas idades mais jovens. Em virtude das múltiplas divisões celulares que a célula individual regista ao longo do tempo, para esse efeito, o telómero (extensão de ADN que serve para a sua proteção) vai diminuindo até que chega a um limite crítico de comprimento, ponto em que a célula perde a capacidade proliferativa, com a consequente diminuição do número de células do organismo, das funções dos tecidos, das funções dos órgãos e das funções do próprio organismo. 

Como consequência, há o surgimento das chamadas doenças da velhice. É a enzima endógena telomerase que desempenha a função de manter o tamanho dos telómeros. A cada divisão celular, acrescenta a parte do telómero que se perde. E assim a célula pode-se dividir sempre que precisa. Ora, o que acontece nas pessoas mais velhas é que a telomerase diminui a sua atividade nas células somáticas. O que não acontece nem nas células neoplásicas, fazendo com que estas sejam permanentemente jovens independentemente do organismo ser já velho. As células somáticas têm o gene da telomerase, mas nos velhos encontra-se desligado. Atualmente a ciência já consegue ativar a telomerase e criar células saudáveis imortais. Mas não é solução, a ativação da telomerase como terapia plausível para o envelhecimento humano, uma vez que a sua hiperactivação iria gerar ainda mais tumores para além do que já acontece na velhice. Nas células do cancro, que lhes podemos chamar células imortais, mesmo no velho, a telomerase é muito eficiente em regenerar os telómeros da célula tumoral, permitindo-lhe multiplicar-se indefinidamente. 

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