quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

A evolução humana

 

A mais antiga pintura alguma vez descoberta numa caverna data agora de há cerca de 45 mil anos e foi encontrada na Indonésia. A representação de um porco selvagem, desenhado em tamanho real, foi descoberta na caverna Leang Tedongnge, localizada num vale remoto na ilha de Celebes, que foi identificada em 2017 por uma equipa da Universidade de Griffith (Austrália).



A espécie humana é atualmente a única representante dos primatas antropoides do género Homo. Dentro da evolução na ordem dos primatas há um momento, há cerca de 14 milhões de anos, em que se dá uma bifurcação e uma família evolui separando-se da outra família de primatas genericamente chamada dos macacos. É a família dos hominídeos, que depois se vai diferenciando e novamente bifurcando em espécies das quais só 8 chegaram aos dias de hoje: 3 espécies de orangotango; 2 espécies de chimpanzé; 2 espécies de gorila; e 1 espécie humana [homo sapiens]. Estudos realizados com técnicas moleculares indicam que os chimpanzés, gorilas e humanos formam um clado, embora os orangotangos estejam um pouco mais distanciados filogeneticamente. 

A linhagem Homo teve início há +/- 3 milhões de anos com o australopitecos em África, o elemento que definitivamente diz adeus ao chimpanzé, a espécie hominídea não humana que está mais próxima da espécie humana. Da linhagem Homo evoluíram várias espécies desde o australopitecos. Atualmente só existe o homo sapiens sapiens, todas as outras estão extintas, entre as quais, o homo erectus e o homo neandertalensis, são as mais representativas. A tese dominante diz que o homo sapiens surgiu na África Oriental, no Vale do Rift, e migrou para fora de África há 70.000 anos. Esta é a posição dominante sobre a outra que defende que o homo sapiens evoluiu das extintas separadamente em mais que uma região geográfica, num tempo muito mais longo do que os meros 70.000 anos. 



Desde os australopitecos que a caraterística mais conspícua que nos separa dos chimpanzés é o bipedismo, a oponibilidade do polegar e o aumento do tamanho do cérebro. Os não bípedes que caminham usando as articulações dos dedos das mãos como apoio - gorilas e chimpanzés - divergiram da linhagem Homo há 7 milhões de anos. Admite-se que os primeiros bípedes evoluíram para os australopitecíneos que se consolidaram mais tarde no género Homo, numa época geológica em que ocorreram profundas alterações na paisagem na zona leste de África designada por Vale do Rift. O novo ambiente de savana e bosques resultantes da elevação do Vale do Rift deve ter exercido uma grande pressão evolutiva dando benefício à linhagem Homo pelas grandes vantagens que a libertação das mãos lhe conferiu para a luta pela sobrevivência através da caça. Ao invés do habitat anterior de floresta fechada, onde predominava a alimentação vegetal e frugívora, a savana trouxe uma outra realidade, que obrigou o Homo a adaptar-se à alimentação de proteína animal, alimentando-se inicialmente dos despojos alimentares de outros carnívoros, aproveitado sobretudo o tutano do osso de outros animais herbívoros deixados pelos predadores carnívoros, e mais tarde a caça por conta própria.

Ora, especula-se que o desenvolvimento abrupto do cérebro no Homo se deveu à passagem do tipo de alimentação vegetal para o tipo de alimentação omnívora. E assim a espécie humana acabou por desenvolver um cérebro muito maior que o de outros primatas - tipicamente 1.330 cm³ nos humanos modernos, quase três vezes o tamanho do cérebro de um chimpanzé ou gorila. Após um período de estase no australopithecus anamensis e ardipithecus, espécies que tinham cérebros menores, o padrão de encefalização começou com o homo habilis, cujo cérebro atingiu o volume de 600 cm³. Esta evolução continuou no homo erectus com cérebros entre 800 e 1.100 cm³, e atingiu o máximo nos neandertais com cérebros entre 1.200 e 1.900 cm³, maiores até mesmo que o cérebro dos modernos homo sapiens de 1.400 cm³.

No homo sapiens os lobos temporais, que contêm os centros de processamento da linguagem, e os lobos pré-frontais, relacionados com a tomada de decisões complexas e sentimentos sociais, são as áreas que mais evoluíram, e as mais destacadamente humanas. Ora, há cientistas que atribuem o desenvolvimento destas áreas só depois da descoberta do fogo, e o posterior cozimento das carnes, o que permitiu um melhor aproveitamento e digestão da proteína animal. Ou seja, de um processo que se tornou mais hostil à sobrevivência, aquando da sua deriva da floresta para a savana, acabou por resultar numa vantagem adaptativa traduzida em inteligência pela necessidade crescente de resolver problemas, e assim se complexificando a sociedade à medida que ia evoluindo. Alterações na morfologia do crânio, como mandíbulas menores e pontos de fixação dos músculos, forneceram mais espaço para o cérebro crescer.
E a oponibilidade do polegar - o contacto do polegar com a ponta dos outros dedos da mesma mão, também veio facilitar a força e a precisão do agarrar, o que proporcionou todas as habilidades de manipulação no fabrico de ferramentas. Várias outras mudanças também caracterizaram a evolução dos seres humanos, entre elas o privilégio da visão em detrimento do olfato; e o desenvolvimento de uma laringe descendente para se acomodar à última revolução filogenética da espécie humana que dá pelo nome de Linguagem falada.

Há 10.000 anos, no advento da agricultura que levou à Revolução Neolítica, os seres humanos viviam maioritariamente como caçadores coletores, em pequenos grupos nómadas. O acesso a grande quantidade de alimentos levou à formação de assentamentos humanos permanentes, à domesticação de animais e ao fabrico de ferramentas à base de metais. A agricultura incentivou o comércio e a cooperação. Mas também despertou outros lados da natureza humana, que perduram: a religião e a guerra. 

A religião é geralmente definida como um sistema de crenças sobre os códigos de sobrenatural, sagrado, ou divino, e códigos morais, práticas, valores, instituições e rituais associados a essa crença. No entanto, no decurso do seu desenvolvimento, a religião tem tomado diversas formas que variam de acordo com a cultura e a perspetiva individual. Alguns dos principais questionamentos religiosos incluem a crença noutra vida depois da morte desta (cosmogonia e escatologia). Embora o nível exato da religiosidade seja difícil de medir, a maioria das pessoas professa alguma variedade de crença: sobrenatural ou espiritual. Ainda estão em minoria aqueles seres humanos que não professam qualquer tipo de prática religiosa ou espiritual: ateus, céticos científicos, agnósticos ou simplesmente não-religiosos.

As guerras deram origem à criação de forças militares para a proteção das sociedades que se começaram a organizar nos primeiros embriões de Estados tal como os conhecemos hoje. Há cerca de 6.000 anos, os primeiros Estados desenvolveram-se nos vales dos maiores rios: Tigre, Eufrates, Indo, Nilo, Yangtzé. Os primeiros assentamentos humanos eram dependentes da proximidade da água e outros recursos naturais, tais como terras aráveis e animais herbívoros dóceis. 

Embora a interligação entre os seres humanos tenha estimulado o crescimento das ciências, das artes e da tecnologia, em suma as civilizações, ocorreram também confrontos culturais e destruição de civilizações. Atualmente o problema é outro: a civilização humana estar a destruir o ambiente e a ecologia. A tecnologia humana teve um efeito dramático sobre o ambiente. A atividade humana tem contribuído para a extinção de inúmeras espécies de seres vivos. Como atualmente os seres humanos raramente são predados, eles têm sido descritos como superpredadores. Através da urbanização e da poluição, os seres humanos tornaram-se nos principais responsáveis pelas alterações climáticas globais. A espécie humana é tida como a principal causadora da extinção em massa do Holoceno, que, se continuar ao ritmo atual, poderá acabar com metade de todas as espécies ao longo do próximo século. Hoje é possível determinar, por meio de análises genéticas, a linhagem geográfica de uma pessoa e o grau de ascendência. Estas análises podem identificar não apenas o histórico migratório dos ancestrais de uma população, mas também os casos de endogamia de grupo. 

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