Uma das manifestações, de cerca de um milhar, começou de forma pacífica e decorreu até às portas do centro Penitenciário Ponent, em Lleida na Catalunha, onde está detido o rapper. Foram cantadas músicas dele e os distúrbios começaram pouco depois. Quando os manifestantes se aproximaram da prisão, alguns dos presos inclinaram-se para fora das janelas para gritar “liberdade de expressão", enquanto as pessoas que estavam na manifestação gritavam slogans a favor da libertação de Pablo Hasél. Os manifestantes ergueram barricadas com caixotes de lixo que foram incendiados perto da prisão.
O historial do rapper com a justiça é já antigo, com recursos e penas suspensas pelo meio. Desde o início de 2010 que é acusado da prática de crimes, sendo que em 2014 foi mesmo condenado pela prática de crime de glorificação de terrorismo, até por músicas escritas com elogios a grupos terroristas, como a ETA ou o GRAPO. Mas é a sentença relativa a tweets publicados, entre outros sobre a monarquia e o rei emérito Juan Carlos I, que está em causa- “Parasitas”, “mafiosos”, “ladrões”, “monarquia mafiosa e medieval”, “gangue criminoso”: estes foram adjetivos utilizados pelo rapper que a justiça espanhola condenou em 2018. São frases e versos de canções com estas que justificam a mais recente condenação a nove meses de prisão, a que acresce o pagamento de uma multa de 30 mil euros:
Frases:
- El mafioso de mierda del Rey dando lecciones desde un palacio
- Guardia Civil torturando o disparando a emigrantes
- Los parásitos de los Borbones siguen de trapis con los decapitadores de los homosexuales
- Muchos temporeros durmiendo al raso están en peores condiciones que Ortega Lara y sin haber sido carceleros torturadores
Letras de canções:
- Me cago en la marca España explotadora y casposa
- Si Froilán se disparó en el pie siendo menor de edad igual ahora que es mayor de edad va a disparar a toda la Familia Real
- Quienes manejan los hilos merecen mil kilos de amonal
- Es un error no escuchar lo que canto, como Terra Lliure dejando vivo a Losantos
- No me da pena tu tiro en la nuca, ‘pepero’. Me da pena el que muere en una patera. No me da pena tu tiro en la nuca, ‘socialisto’. Me da pena el que muere en un andamio
- ¡Merece que explote el coche de Patxi López!
- Siempre hay algún indigente despierto con quien comentar que se debe matar a Aznar
- Mi hermano entra en la sede del PP gritando ¡Gora ETA! A mí no me venden el cuento de quiénes son los malos, sólo pienso en matarlos
- Pienso en balas que nucas de jueces nazis alcancen
- ¡Que alguien clave un piolet en la cabeza a José Bono!
- Voy a decir como Corina: guillotina
- Hijos de Franco condenando por ser franco
- Pensiones más baratas que una hora de familia real
Contextualizemos:
No dia 14 de fevereiro os partidos independentistas venceram as eleições na Catalunha, tendo conseguido a maioria no parlamento. A Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e o Juntos pela Catalunha conseguem 65 lugares num parlamento de 135 assentos. Mas a grande vitória da noite vai para o Partido Socialista da Catalunha, liderado por Salvador Illa, que alcança o maior número de votos e o mesmo número de deputados (33) que a Esquerda Republicana da Catalunha e mais um que o Juntos pela Catalunha. O Podemos, através do seu referente local Catalunha em Comum, entra no parlamento catalão com 8 deputados ultrapassando o Partido Popular que não vai além de três deputados. A Candidatura de Unidade Popular alcança nove lugares. O Ciudadanos tem o maior trambolhão, perdendo 30 lugares no parlamento relativamente à legislatura anterior. O partido passa de 36 para 6 deputados. A entrada mais espetacular no parlamento catalão é para a extrema-direita do Vox, que alcança 11 deputados. Tudo somado, os independentistas têm maioria absoluta e poderão, se chegarem a entendimento, formar um governo que promete pôr à prova o frágil executivo de Madrid.
No dia 16 de fevereiro os manifestantes vieram para a rua contestar a prisão de Pablo Hasél. No dia 12 de fevereiro Hasél havia comentado em sua conta do Twitter o prazo para que se entregasse: “Eles me prenderam de cabeça erguida por não ter cedido ao seu terror, por ter contribuído com o meu grão de areia para o que mencionei. Todos nós podemos fazer isso", escreveu em sua conta. E a Amnistita Internacional na Espanha publicava no Twitter que Pablo Hasél ir para a prisão era injusto: “Não vamos parar até que sejam revogados os crimes do Código Penal que limitam a expressão artística. Casos como este não podem ser repetidos". Já a Suprema Corte da Espanha disse em nota à imprensa que a liberdade de expressão tem os seus limites e é condicionada por outros direitos e exigências constitucionais.
As eleições do dia 14 de fevereiro não eram sobre a independência mas sobre a hegemonia dentro dos dois blocos políticos, o independentista e o que recusa a secessão. O principal confronto era protagonizado pela Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que visava ultrapassar a coligação Juntos pela Catalunha (JxCat), inspirada pelo antigo presidente catalão, Carles Puigdemont. A ERC venceu tangencialmente. No outro campo, o Partido dos Socialistas da Catalunha (PSC) marcou pontos: foi o mais votado e conquistou o mesmo número de mandatos que a ERC. Nestes termos, o candidato “republicano”, Pere Aragonès, deverá assumir a presidência da Generalitat e o PSC a liderança da oposição. Ambos defendem o diálogo com Madrid.
Pela primeira vez, a soma dos independentistas passou o limiar simbólico dos 50%, mas o facto tem pouco relevo, dada a maciça abstenção. A Catalunha continua partida ao meio. Estas eleições poderão ter efeitos nacionais. A derrocada do Partido Popular (PP), que há dez anos era a terceira força política catalã e se vê reduzido a três deputados, criará problemas à liderança de Pablo Casado pois continua a hemorragia de eleitores para o Vox. Entre nacionalistas, prossegue a luta histórica que opõe a ERC, de Oriol Junqueras e Pere Aragonès, aos herdeiros da antiga Convergência, de Jordi Pujol. São duas famílias irreconciliáveis.
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