quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Eurasianismo


Eurasianismo (em russo: евразийство; yevraziystvo) é um movimento político na Rússia, que postula que a civilização russa não pertence às categorias "europeia" ou "asiática", mas sim ao conceito geopolítico da Eurásia. Originalmente desenvolvido na década de 1920, o movimento apoiou em parte a revolução bolchevique, mas não seus objetivos declarados de instituir o comunismo, vendo a União Soviética como um trampolim no caminho para a criação de uma nova identidade nacional que refletisse o caráter único da posição geopolítica da Rússia. O movimento viu um pequeno ressurgimento após a dissolução da União Soviética no final do século XX.

O neo-eurasianismo (em russo: неоевразийство) é uma escola russa de pensamento, popularizada na Rússia durante os anos que antecederam e seguiram ao colapso da União Soviética, que considera a Rússia culturalmente mais próxima da Ásia do que da Europa Ocidental. A escola de pensamento se inspira nos eurasianistas da década de 1920, notadamente o príncipe Nikolai Trubetzkoy, enquanto P.N. Savitsky. Lev Gumilev é frequentemente citado como o fundador do movimento neo-eurasianista.

Ao mesmo tempo, grandes diferenças foram notadas entre o trabalho de Gumilev e os dos eurasianistas originais. O trabalho de Gumilev é controverso por sua metodologia científica (o uso de sua própria conceção de etnogénese. De qualquer forma, o trabalho de Gumilev tem sido uma fonte de inspiração para os autores neo-eurasianistas, o mais prolífico dos quais é Alexander Dugin. Que a ocupação mongol de 1240-1480 d.C. (conhecida como "jugo mongol") protegeu as etnias russas emergentes do vizinho agressivo do Ocidente, permitindo-lhe ganhar tempo para atingir a maturidade, é a ideia que contrasta com o bizantinismo de Konstantin Leontiev, que é semelhante em sua rejeição ao Ocidente, mas se identifica com o Império Bizantino, e não com a cultura tribal da Ásia Central. A versão de eurasianismo de Dugin é uma combinação de quatro pontos do comunismo, do nazismo, do ecologismo e do tradicionalismo. Enquanto a oposição do comunismo à liberdade económica foi adotada, o compromisso marxista com o progresso tecnológico foi abandonado para atrair os ludistas e outros ambientalistas antitecnologia que se opunham ao industrialismo e à modernidade. O tradicionalismo foi derivado para suprimir o pensamento livre. A maior parte vem do nazismo.


Alexander Dugin

Alexander Dugin é de facto uma figura central na promoção da ideia de uma aliança eurasiática, e ele é um influente ideólogo russo cujas teorias têm atraído tanto a extrema-direita quanto alguns setores da esquerda. Dugin é conhecido por suas visões geopolíticas e pela defesa de um mundo multipolar, no qual a Rússia desempenha um papel central. Dugin propõe a criação de um grande bloco eurasiático, que inclui a Europa e a Rússia, como um contrapeso à influência dos Estados Unidos e do Ocidente. Ele argumenta que a Rússia e a Europa compartilham uma herança cultural e histórica que pode servir de base para essa aliança. Suas ideias são detalhadas em obras como "A Quarta Teoria Política" e "Fundamentos da Geopolítica".

Para a extrema-direita europeia, Dugin oferece uma visão de soberania nacional, anti-globalização e anti-liberalismo que ressoa com suas preocupações sobre imigração e identidade cultural. Já para alguns setores da esquerda, especialmente aqueles nostálgicos da União Soviética, a visão de Dugin, de uma aliança estratégica contra o imperialismo ocidental pode ser atraente. Apesar de suas tentativas, a implementação prática das ideias de Dugin enfrenta muitos obstáculos. As diferenças ideológicas entre a extrema-direita e a esquerda comunista, assim como as complexidades das relações internacionais, tornam difícil a concretização das suas ideias. Além disso, a política interna russa e a postura de Putin muitas vezes entram em conflito com os ideais de ambos os grupos europeus.

Enquanto Dugin promove um conceito de eurasianismo que abraça uma coligação ampla contra o liberalismo ocidental, muitos identitários europeus podem ver isso como uma diluição da identidade europeia. Eles preferem uma abordagem que fortaleça exclusivamente as nações europeias e sua herança. Dugin busca criar uma grande coligação de forças antiliberais que transcenda barreiras culturais e religiosas, vendo a luta contra o que ele considera o imperialismo ocidental e o liberalismo global como um objetivo comum. No entanto, essa visão mais inclusiva entra em conflito com a perspectiva mais exclusivista e etnoespiritual dos identitários europeus, que preferem focar na preservação da cultura e identidade europeias sem alianças que envolvam o mundo islâmico. Portanto, a tentativa de Dugin de formar uma aliança euroasiática abrangente, que inclua movimentos islâmicos, inevitavelmente afasta muitos identitários europeus que veem tais alianças como uma ameaça à sua identidade cultural e religiosa.

A defesa de Alexander Dugin por uma aliança mais ampla que inclua movimentos islâmicos pode alienar os identitários europeus que se concentram em preservar uma ligação etnoespiritual estritamente europeia. Esta é uma das contradições internas que complicam a realização prática das ideias de Dugin. Muitos identitários europeus têm visões fortemente etnocêntricas e rejeitam a ideia de incluir movimentos islâmicos em qualquer aliança. Eles veem a identidade europeia como intimamente ligada à herança cultural e religiosa cristã e, portanto, são céticos ou mesmo hostis a alianças que incluam grupos islâmicos. Os identitários frequentemente argumentam que a Europa deve manter sua identidade cultural e religiosa distinta, que para muitos inclui a herança cristã. A inclusão de movimentos islâmicos poderia ser vista como uma ameaça à preservação dessa identidade. A história de conflitos entre a Europa cristã e o mundo islâmico, bem como tensões contemporâneas relacionadas à imigração e ao terrorismo, intensificam a resistência dos identitários a qualquer aliança que envolva movimentos islâmicos.

Os identitários franceses frequentemente enfatizam a soberania nacional e a identidade cultural francesa. Eles podem ver a aliança com a Rússia como uma ameaça à independência e às tradições específicas da França. O nacionalismo francês tende a valorizar a herança e a história únicas da França, o que pode entrar em conflito com a ideia de uma grande aliança supranacional. Apesar de algumas semelhanças culturais e religiosas, a França e a Rússia têm trajetórias históricas e culturais distintas. Identitários franceses podem sentir que essas diferenças são grandes demais para serem superadas, dificultando a criação de uma aliança coesa. Embora alguns setores da extrema-direita na França possam ver a Rússia como um aliado contra o liberalismo ocidental, muitos identitários podem ter reservas quanto ao autoritarismo do regime de Putin. A valorização da liberdade e dos direitos individuais é um ponto importante para alguns nacionalistas, que podem ver o governo russo como um modelo inadequado.

Os identitários franceses frequentemente têm uma visão crítica da União Europeia, mas isso não significa que vejam a Rússia como uma alternativa viável. A desconfiança em relação a estruturas supranacionais pode fazer com que rejeitem tanto a UE quanto a ideia de uma aliança estreita com a Rússia. Portanto, enquanto alguns podem ver a cooperação com a Rússia como uma forma de contrabalançar a influência dos Estados Unidos e da União Europeia, muitos identitários franceses provavelmente rejeitariam a ideia de uma Euro-Rússia por causa de suas preocupações com a soberania nacional, diferenças culturais e desconfianças geopolíticas.



Pavel Tulaev

Pavel Tulaev é uma figura proeminente no movimento identitário russo e é conhecido por promover a ideia de uma aliança entre a Europa e a Rússia, que ele chama de "Euro-Rússia". Tulaev compartilha muitas das visões de Alexander Dugin, mas traz suas próprias perspetivas para o conceito, enfatizando a identidade cultural e civilizacional comum entre a Europa e a Rússia. Tulaev e outros defensores dessa ideia veem a Euro-Rússia como uma forma de preservar e fortalecer as tradições culturais europeias e russas frente ao que eles consideram uma ameaça da globalização, da imigração em massa e da perda de identidade nacional. Eles argumentam que a Europa e a Rússia têm uma herança cultural e religiosa comum que pode servir de base para uma cooperação estratégica e política.

O conceito de Euro-Rússia promove a ideia de um bloco geopolítico que seria economicamente autossuficiente, militarmente poderoso e capaz de rivalizar com outras grandes potências como os Estados Unidos e a China. Esse bloco seria construído sobre valores tradicionais, identitários e, em muitos casos, cristãos, e se oporia ao liberalismo e ao multiculturalismo promovidos pelo Ocidente. No entanto, como mencionado anteriormente, a implementação prática dessa ideia enfrenta muitos desafios. As diferenças políticas, culturais e ideológicas entre os países europeus e a Rússia, bem como entre os próprios movimentos que apoiam essa ideia, complicam sua realização. Além disso, as relações internacionais e as tensões geopolíticas atuais entre a União Europeia e a Rússia tornam a formação de uma aliança tão estreita praticamente impossível. Apesar disso, a promoção do conceito de Euro-Rússia por figuras como Pavel Tulaev continua a atrair a atenção de certos círculos nacionalistas e identitários na Europa, que veem nessa aliança uma forma de preservar suas identidades culturais e fortalecer a sua posição geopolítica.

Alguns partidos comunistas e esquerdistas na Europa, nostálgicos da União Soviética, também simpatizam com a ideia de uma aliança mais estreita entre a Europa e a Rússia, embora geralmente com motivações diferentes das da extrema-direita. Esses grupos veem a Rússia como um contrapeso ao domínio político e económico dos Estados Unidos e da NATO, e muitas vezes têm uma visão crítica da União Europeia, que consideram ser uma instituição neoliberal. Para esses partidos e movimentos, uma aliança euroasiática poderia representar uma oportunidade de promover políticas socialistas e de fortalecer a soberania nacional dos países europeus frente à influência americana. Eles tendem a valorizar os laços históricos entre os movimentos socialistas e comunistas na Europa e a antiga União Soviética, e veem na Rússia contemporânea um potencial aliado na luta contra o capitalismo globalizado. No entanto, essas simpatias também enfrentam desafios significativos, incluindo as diferenças ideológicas entre os comunistas europeus e o governo autoritário da Rússia moderna, que não segue uma ideologia comunista. Além disso, a política interna russa e sua postura em questões de direitos humanos e democracia frequentemente entram em conflito com os valores defendidos pelos partidos de esquerda europeus. Assim, enquanto a ideia de uma aliança euroasiática pode encontrar apoio tanto na extrema-direita quanto em certos setores da esquerda europeia, as motivações, objetivos e interpretações dessa ideia variam consideravelmente entre esses grupos.

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