sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Fatores que estão a contribuir a benefício da radicalização


Há um certo estado de coisas no tipo de vida das sociedades ditas agora digitais do terceiro milénio e da quarta revolução tecnológica – Indústria 4.0 – que têm algo a ver com a maior visibilidade da extrema-direita. Isso está a mostrar como as pessoas estão a reagir às perceções de inadequação das políticas atuais.

É um facto que a dinâmica política foi sempre muito complexa e multifacetada em todos os tempos históricos. A ascensão de movimentos de extrema-direita é apenas uma parte do panorama mais amplo das mudanças sociais e políticas que estão ocorrendo, particularmente no Ocidente, que é onde os meus autores se encontram.

Certamente, a tecnologia, especialmente os smartphones e as redes sociais trouxeram benefícios significativos, mas também geraram uma série de problemas e efeitos colaterais que ainda estamos tentando entender e resolver. Alguns dos principais desafios incluem a recolha maciça de dados pessoais por empresas de tecnologia. Isso levanta preocupações sobre privacidade e segurança. Dados pessoais podem ser vulneráveis a vazamentos e abusos, e a forma como são utilizados para direcionar publicidade ou influenciar comportamentos pode ser preocupante.

As redes sociais facilitam a disseminação rápida de informações, mas também permitem a propagação de desinformação e notícias falsas. Isso pode afetar a opinião pública e gerar polarização social. O uso excessivo de redes sociais tem sido associado a vários problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e baixa autoestima, especialmente entre os jovens. A comparação constante com padrões idealizados e a pressão social virtual podem afetar o bem-estar emocional. A acessibilidade constante proporcionada pelos smartphones pode levar a uma dependência digital, com impacto nas interações pessoais e na produtividade. O design das plataformas muitas vezes incentiva o uso prolongado, exacerbando esse problema de dependência e vício.

Algoritmos de redes sociais podem criar bolhas de filtro e câmaras de eco, onde os utilizadores são expostos principalmente a informações que reforçam as suas crenças pré-existentes. Este tipo de manipulação e polarização dificulta ainda mais o diálogo que se quer construtivo. A tecnologia tem mudado a natureza do trabalho e das interações sociais, em que o derrube da fronteira entre a esfera pública e a esfera privada tem revelado um impacto devastador na saúde psíquica dos cidadãos.

Esses problemas são complexos e ainda estamos explorando soluções eficazes. A regulação da tecnologia, o desenvolvimento de políticas de proteção de dados e a promoção de uma utilização mais consciente e equilibrada das plataformas digitais são passos importantes para mitigar os efeitos negativos. A educação digital e o aprimoramento contínuo das práticas e ferramentas tecnológicas também são essenciais para enfrentar esses desafios.

A perceção de que a esquerda política tem tido melhor imprensa do que a direita, no século XXI, pode ser influenciada por vários fatores, e é importante considerar que o mundo mediático é um campo complexo e diversificado, onde as tendências podem variar significativamente entre diferentes países e contextos. Algumas razões que podem explicar essa perceção incluem a mudança na hierarquia dos valores tradicionais. O século XXI trouxe uma crescente ênfase em questões sociais em que a igualdade de género é o slogan principal que cobre todos os outros também referenciados pelo acrónimo LGBTQIA+. É a agenda da esquerda que recebe a atenção favorável da imprensa. Os Média tradicionais e digitais podem ter as suas próprias tendências ideológicas que influenciam a cobertura. Em alguns contextos, os atores mediáticos podem ser mais abertos às ideias progressistas e sociais promovidas pela esquerda.

Em períodos de polarização política, a cobertura mediática pode refletir essas divisões, com a esquerda e a direita recebendo atenção proporcional ao seu papel na discussão pública. Em alguns países, as mudanças na propriedade e no controlo dos órgãos de comunicação podem ter levado a uma mudança na linha editorial, influenciando a forma como as notícias são relatadas enviezando as perspetivas pela forma como são mais amplamente divulgadas.

É importante observar que essas dinâmicas variam significativamente dependendo do país e do contexto político local. A ideia de que a esquerda tem melhor imprensa do que a direita não é uma regra universal, e há muitos casos em que a cobertura jornalística pode ser considerada mais favorável a posições de direita. O retorno da extrema-direita em muitos países ocidentais pode ser visto como uma reação a uma série de fatores sociais e políticos, incluindo o sentimento de que o "politicamente correto" e as políticas progressistas não estão abordando adequadamente as preocupações de uma parte significativa da população.

Muitas pessoas sentem que as suas preocupações económicas, culturais e sociais não estão a ser adequadamente representadas pelos partidos tradicionais. A extrema-direita muitas vezes aproveita esse descontentamento, propondo soluções simples para questões complexas em que é fácil apelar para um retorno a valores percebidos como tradicionais. O conceito de "politicamente correto" é visto por alguns como um esforço para impor normas e limites à liberdade de expressão. A extrema-direita frequentemente critica o politicamente correto, argumentando que ele limita o debate e suprime opiniões divergentes, o que pode atrair eleitores que se sentem frustrados com essas restrições.

Mudanças demográficas e culturais, como a imigração e a globalização, podem gerar insegurança e resistências que a extrema-direita explora. Ela frequentemente adota uma retórica nacionalista e xenófoba que promete restaurar uma ordem percebida como ameaçada por essas mudanças. Os problemas enfrentados pelos governos, como crise económica, corrupção e ineficácia, podem levar a uma perda de confiança nas instituições estabelecidas, aumentando a reivindicação por alternativas radicais. A extrema-direita tem beneficiado do uso eficaz das redes sociais e outras plataformas digitais para disseminar as suas mensagens e mobilizar apoio. Essas ferramentas permitem uma comunicação direta e muitas vezes polarizadora que pode reforçar as preocupações e sentimentos dos eleitores.

Sem comentários:

Enviar um comentário