terça-feira, 27 de agosto de 2024

O Próximo Oriente Antigo – século VIII a.C.


Aquilo a que chamamos "Bíblia" começa por volta do século VIII a.C. quando a literacia começa a difundir-se pelo Próximo Oriente. A ideia de que a Bíblia começou a ser formada por volta do século VIII a.C. está relacionada ao desenvolvimento da literacia e à consolidação de textos escritos no antigo Israel e no Próximo Oriente. Nesse período, a alfabetização e a escrita se tornaram mais difundidas, o que possibilitou a compilação, redação e preservação de textos que mais tarde fariam parte das Escrituras Hebraicas (o que os cristãos chamam de Antigo Testamento). No século VIII a.C., os reinos de Israel e Judá estavam em contato com poderosas culturas vizinhas, como a Assíria, que tinham uma tradição estabelecida de registos escritos. Esse contexto influenciou o surgimento de uma classe letrada em Israel e Judá, que começou a registar oralmente tradições, leis, histórias e profecias. Alguns dos textos bíblicos mais antigos, como partes dos livros dos Profetas (por exemplo, Amós e Oseias), podem ter começado a ser escritos nessa época.

Além disso, textos como as leis encontradas no Livro da Aliança (Êxodo 20-23) e as primeiras versões das tradições patriarcais e do Êxodo, que compõem o núcleo do Pentateuco, também podem ter começado a ser registados nesse período ou antes. A difusão da literacia e a criação de textos religiosos e legais refletem um processo complexo que envolveu não apenas a preservação da tradição oral, mas também a necessidade de centralizar a religião e o governo, especialmente à medida que os reinos enfrentavam desafios internos e externos. O processo de composição da Bíblia continuou por vários séculos, com os textos sendo revistos, ampliados e compilados até à formação de um corpo de escritos sagrados reconhecidos como canónicos muito tempo depois. Portanto, o século VIII a.C. é um ponto de partida significativo para o registo escrito de textos que, ao longo dos séculos, se consolidariam naquilo que hoje conhecemos como a Bíblia Hebraica, embora a tradição oral que os precede e as subsequentes edições e compilações sejam igualmente importantes para a sua formação.


Durante a primeira metade do século VIII a.C. o reino de Jeroboão, Israel, (que reinou de aproximadamente 793 a.C. a 753 a.C.), era próspero. Experimentou um período de grande prosperidade durante a primeira metade do século VIII a.C. Jeroboão II foi o décimo terceiro rei de Israel (o reino do Norte) e é conhecido por ter expandido as fronteiras do reino, recuperando territórios perdidos e fortalecendo o poder militar e económico do país.

Sob o seu governo, Israel conseguiu conquistar e manter territórios ao norte e ao leste, incluindo partes da Síria e da Transjordânia, o que permitiu o controlo de importantes rotas comerciais. Esse controlo resultou num aumento significativo da riqueza do reino. Entretanto, apesar da prosperidade económica e militar, o período foi também marcado por grandes desigualdades sociais, injustiças e corrupção. Isso atraiu a crítica dos profetas da época, como Amós e Oseias, que condenaram a injustiça social, a idolatria e a falta de fidelidade a Deus, advertindo sobre o iminente julgamento divino.

As versões "J" e "E" nos textos da Bíblia fazem referência a duas das quatro fontes principais que compõem a teoria documentária, uma hipótese académica que tenta explicar a origem e a composição dos primeiros livros do Antigo Testamento (Torá ou Pentateuco). Segundo essa teoria, o Pentateuco é uma compilação de textos de diferentes autores ou grupos de autores, que foram posteriormente reunidos em um único conjunto de escritos.

Fonte Javista (J). Nesta fonte, Deus é frequentemente referido como "YHWH" (ou Javé, em português). Daí o nome "Javista". Os textos da Fonte Javista têm um estilo mais vívido e antropomórfico, apresentando Deus de forma mais humana e envolvida diretamente na vida das pessoas. Esses textos são geralmente associados ao Reino de Judá, no Sul, e possivelmente datam do século X a.C. Algumas partes do Génesis, como as histórias da Criação (Génesis 2) e do Dilúvio, são atribuídas à Fonte Javista.

Fonte Eloísta (E). Nesta fonte, Deus é frequentemente chamado de "Elohim", o que dá origem ao nome "Eloísta". A Fonte Eloísta é mais focada em questões morais e religiosas e tende a apresentar Deus como mais distante, frequentemente se comunicando através de sonhos, anjos ou profetas. Essa fonte é geralmente associada ao Reino de Israel, no Norte, e é datada aproximadamente do século IX a.C. Trechos do Génesis e do Êxodo são atribuídos à Fonte Eloísta, como a história do sacrifício de Isaque.

Além dessas fontes, a teoria documentária também inclui a Fonte Sacerdotal (P), que é mais formal e detalhada, focada em leis e rituais, e a Fonte Deuteronomista (D), associada ao livro do Deuteronómio e aos livros históricos que seguem. Essa teoria, embora amplamente estudada e discutida na crítica bíblica, não é universalmente aceite e tem sido objeto de revisão e debate ao longo dos anos. Isaías é amplamente considerado um personagem real da história, mas há nuances a considerar. Isaías foi um profeta hebreu, que viveu no Reino de Judá no século VIII a.C., durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias. Ele é uma figura central no livro de Isaías, que faz parte do Antigo Testamento da Bíblia. O livro de Isaías é tradicionalmente atribuído a ele, e contém uma vasta gama de profecias e ensinamentos que tiveram um impacto profundo no judaísmo e no cristianismo.

Embora não existam evidências arqueológicas diretas que confirmem a existência de Isaías como uma figura histórica individual, ele é mencionado em várias fontes bíblicas e suas profecias são registadas em textos que foram amplamente aceites e preservados pela tradição judaica. Além disso, algumas evidências indiretas, como inscrições e documentos da época, corroboram o contexto histórico e as circunstâncias em que Isaías teria vivido e profetizado.

O livro que leva o seu nome é dividido em três secções principais, e alguns estudiosos acreditam que essas secções foram escritas em períodos diferentes, por diferentes autores ou grupos de autores, mas todos sob a tradição de Isaías: Proto-Isaías (capítulos 1-39) Atribuído ao próprio Isaías, contém profecias contra o Reino de Judá e outras nações. Deutero-Isaías (capítulos 40-55) Acredita-se que tenha sido escrito durante o exílio babilónico, cerca de um século após a vida de Isaías, por um profeta ou grupo de profetas que se inspiraram em sua tradição. Trito-Isaías (capítulos 56-66) Focado no período após o exílio, sugerindo uma continuidade na tradição profética. Enquanto a figura histórica de Isaías é amplamente aceite na tradição judaico-cristã, e é possível que ele tenha sido uma pessoa real, nosso conhecimento sobre ele vem exclusivamente de textos religiosos. A historicidade de Isaías, como a de muitas figuras antigas, é apoiada principalmente por registos tradicionais e escritos, mais do que por evidências arqueológicas diretas.

Ao passo que Teglat Falasar (também conhecido como Tiglate-Pileser III) – foi um personagem histórico real e um dos mais importantes reis do Império Assírio. Ele governou de 745 a 727 a.C. e é conhecido por suas campanhas militares e reformas administrativas que transformaram a Assíria numa das superpotências do Antigo Médio Oriente Médio. Teglat Falasar III é famoso por suas extensas campanhas militares, que expandiram significativamente o território do Império Assírio. Ele subjugou muitos estados menores, incluindo partes da Síria, Fenícia, e Israel. Sua estratégia militar era brutal e eficaz, utilizando táticas como o deslocamento forçado de populações para evitar revoltas. Teglat Falasar III invadiu o Reino de Israel e levou muitos de seus habitantes cativos, conforme descrito em fontes bíblicas e confirmados por registos assírios. No entanto, a Bíblia também menciona Teglat Falasar, referindo-se a ele como "Tiglate-Pileser" (2 Reis 15:29; 1 Crónicas 5:26), destacando as suas conquistas e a deportação de israelitas. Portanto, Teglat Falasar III é bem documentado tanto em fontes históricas e arqueológicas. Inscrições em monumentos e documentos cuneiformes encontrados em sítios arqueológicos assírios confirmam muitos detalhes de seu reinado e conquistas. Ele é uma das figuras mais bem atestadas da história assíria.

Ele introduziu reformas administrativas que centralizaram o poder na Assíria, dividindo o império em províncias governadas por oficiais diretamente responsáveis perante o rei. Estabeleceu um sistema tributário mais eficiente, o que ajudou a financiar as suas campanhas militares e consolidar o controlo sobre os territórios conquistados. O reinado de Teglat Falasar III marcou o início do auge do Império Assírio, que continuou a crescer e dominar a região até à sua eventual queda no final do século VII a.C. Suas reformas e conquistas tiveram um impacto duradouro na estrutura política e militar do Antigo Médio Oriente. Portanto, ao contrário de figuras bíblicas como Isaías, cuja historicidade depende de textos religiosos, Teglat Falasar III é um personagem histórico amplamente reconhecido e documentado por evidências arqueológicas e registos contemporâneos.

A prosperidade material que o reino de Israel experimentou sob o governo de Jeroboão II foi acompanhada por um crescente abismo entre os ricos e os pobres, corrupção, injustiça social e uma decadência moral que perturbava profundamente os profetas Amós e Oseias. Amós era um pastor e agricultor de Judá, mas foi chamado por Deus para profetizar em Israel. Ele denunciou com veemência as injustiças sociais e a hipocrisia religiosa da elite israelita. Em suas profecias, Amós criticou os ricos que viviam em luxo à custa dos pobres, explorando-os e oprimindo-os. Ele também condenou a falsa religiosidade, onde o povo participava de rituais religiosos enquanto ignorava as exigências de justiça e retidão de Deus. Amós proclamou que Deus não estava satisfeito com sacrifícios e cerimónias vazias, mas sim com a justiça que deveria "correr como um rio" (Amós 5:24).

No livro de Amós, encontramos passagens como Amós 5:21-24: "Eu odeio, eu desprezo as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não me agradam. E ainda que me ofereçais holocaustos e as vossas ofertas de manjares, não me agradarei deles; nem atentarei para as ofertas pacíficas dos vossos animais cevados. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas liras. Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como um ribeiro perene." Nessa passagem, Amós deixa claro que Deus não se agrada dos rituais vazios, mas sim de um compromisso genuíno com a justiça e a retidão. Para ele, era impossível continuar a vida dissoluta e hipócrita que muitos em Israel levavam enquanto se envolviam no culto de Baal e negligenciavam a verdadeira adoração a Deus, que exigia ética, justiça e compaixão. Amós, portanto, proclamava que a sobrevivência de Israel dependia não apenas da observância religiosa, mas da prática da justiça social e da fidelidade ao Deus de Israel. Essa mensagem era uma chamada urgente para o arrependimento e para o retorno a uma vida de integridade e moralidade, sem a qual, segundo Amós, Israel estaria destinado à ruína.

Oseias, por sua vez, focou mais na infidelidade espiritual de Israel, simbolizada pelo comportamento adúltero de sua própria esposa, Gômer. Oseias usou sua experiência pessoal como uma metáfora para a relação entre Deus e Israel. Ele denunciou a idolatria do povo, que havia abandonado a adoração exclusiva de Yahweh para seguir deuses estrangeiros, especialmente Baal. Oseias alertou que essa infidelidade espiritual levaria à ruína de Israel, mas também destacou o amor de Deus, que desejava restaurar o relacionamento com Seu povo. Portanto, tanto Amós quanto Oseias estavam profundamente perturbados pela crise social e moral em Israel durante o reinado de Jeroboão II. Eles advertiram que a injustiça, a opressão dos pobres e a infidelidade espiritual teriam consequências severas, culminando no julgamento divino e na eventual queda do reino de Israel, que de facto ocorreu algumas décadas depois, em 722 a.C., quando os assírios conquistaram Samaria, a capital do reino do Norte.

Os Salmos bíblicos não descrevem explicitamente Javé (ou Yahweh) da mesma maneira que Baal, o deus cananeu das tempestades e da fertilidade. No entanto, há certas passagens nos Salmos e em outros textos do Antigo Testamento que retratam Javé de forma semelhante às descrições de divindades cananeias, incluindo Baal, especialmente no que diz respeito à sua capacidade de controlar a natureza e derrotar inimigos. Baal era frequentemente associado às tempestades, raios e trovões. Da mesma forma, Javé é descrito em termos semelhantes em alguns salmos, como no Salmo 29. No Salmo 18:7-15: Javé é descrito como vindo em auxílio do salmista montado em um querubim, com trovões, raios e terremotos, sugerindo um poder sobre a natureza que lembra as descrições de Baal. Tanto Baal como Javé são apresentados como deuses guerreiros que protegem seu povo. Nos Salmos, Javé é frequentemente descrito como um guerreiro poderoso que defende Israel contra seus inimigos.

Assim como Baal era visto como um deus que intervinha para proteger seus seguidores, Javé é frequentemente representado nos Salmos como aquele que intervém diretamente para salvar e proteger Israel, especialmente Jerusalém. O Salmo 48 - Celebra o Monte Sião (Jerusalém) como a cidade de Deus, onde Javé se manifesta como um refúgio seguro, o que poderia ser comparado à maneira como os cananeus viam Baal protegendo suas cidades sagradas. Apesar dessas semelhanças, há distinções importantes. Javé é constantemente descrito como único, o Deus de toda a terra e dos céus, enquanto Baal era um entre muitos deuses no panteão cananeu. Javé também é enfatizado como um Deus de justiça e retidão, além de ser o criador do universo, o que o coloca em um papel bem mais abrangente e exclusivo do que Baal. Portanto, enquanto há elementos nos Salmos que podem refletir temas ou imagens comuns à literatura religiosa da antiga Canaã, como o controle sobre as tempestades ou a guerra divina, os textos bíblicos recontextualizam essas ideias para enfatizar a supremacia e a singularidade de Javé como o único Deus verdadeiro, distinto dos deuses cananeus como Baal.

O relato bíblico da Arca da Aliança, sendo transportada para o Templo de Salomão, pode ser interpretado como uma espécie de "marcha triunfal" de Javé para Sião (Jerusalém). Este evento é narrado no 1 Reis 8 e em 2 Crónicas 5, e é um dos momentos mais significativos na história de Israel. A Arca da Aliança era o símbolo mais sagrado da presença de Javé entre o povo de Israel, representando a aliança de Deus com Israel. Ela continha as tábuas dos Dez Mandamentos, e sua presença era associada diretamente com a glória e a santidade de Javé. O Templo de Salomão em Jerusalém foi construído para ser a casa permanente de Javé, onde a Arca da Aliança seria colocada no Santo dos Santos. A construção do Templo e a dedicação da Arca a ele simbolizam o estabelecimento de Jerusalém como o centro religioso e político de Israel, a cidade onde Javé escolheu fazer sua morada.

A narrativa descreve uma grande procissão e celebração quando a Arca é transportada da Cidade de David (em Jerusalém) para o novo Templo. Salomão convoca toda a nação de Israel para esse evento, que é acompanhado por sacrifícios, música, e uma assembleia solene. A procissão pode ser vista como uma "marcha triunfal" de Javé, o verdadeiro Rei de Israel, entrando em sua residência real, o Templo. Quando a Arca é colocada no Santo dos Santos, a Bíblia descreve que a "glória do Senhor" encheu o Templo em forma de uma nuvem, de tal maneira que os sacerdotes não podiam continuar seus serviços por causa dessa manifestação divina (1 Reis 8:10-11). Esta descrição ecoa o conceito de Javé como um deus guerreiro e rei, cuja presença poderosa agora habita no centro do poder de Israel, em Sião.

A imagem de uma marcha triunfal, na qual uma deidade é transportada com grande celebração para um local sagrado, é comum nas tradições religiosas do Antigo Próximo Oriente. No entanto, o relato bíblico recontextualiza essa ideia para destacar a singularidade de Javé e sua relação especial com Israel. Essa marcha não apenas celebra o transporte da Arca, mas também afirma a escolha de Jerusalém (Sião) como o local onde Javé estabeleceria seu nome e a continuidade da aliança com o povo de Israel sob o reinado de Salomão. Javé continuava a ser um deus guerreiro, mas não era a única divindade venerada em Israel. Durante períodos significativos da história antiga de Israel, Javé era considerado um deus guerreiro e era a divindade central do povo de Israel. No entanto, há evidências bíblicas e arqueológicas que sugerem que Javé não era a única divindade venerada em Israel e Judá, especialmente nos períodos anteriores às reformas religiosas que centralizaram o culto exclusivo a Javé.

Apesar de Javé ser central, a Bíblia Hebraica contém várias referências a outras divindades que eram veneradas no antigo Israel e Judá, indicando que o monoteísmo estrito só se consolidou mais tarde na história. Culto a Baal, deus cananeu, era comum em Israel e é repetidamente condenado pelos profetas. Reis como Acabe e sua esposa Jezabel promoveram o culto a Baal, o que levou a conflitos significativos com os profetas de Javé, como o profeta Elias. Asherá era uma deusa consorte amplamente adorada em várias regiões do Antigo Próximo Oriente. A Bíblia menciona a adoração de Asherá em Israel e Judá, frequentemente associada ao culto de Javé. Por exemplo, reis como Manassés erigiram postes sagrados de Asherá (2 Reis 21:7). Há evidências de sincretismo religioso, onde Javé poderia ter sido adorado em conjunto com outras divindades. Em locais como Kuntillet Ajrud e Khirbet el-Qom, inscrições arqueológicas referem-se a "Javé e sua Asherá", sugerindo uma veneração combinada ou uma associação de Javé com uma divindade feminina. Reis como Ezequias e Josias são conhecidos por terem implementado reformas religiosas para centralizar e purificar o culto, eliminando a adoração de outros deuses e promovendo o culto exclusivo a Javé. Essas reformas marcam um movimento em direção ao monoteísmo estrito que caracterizaria o judaísmo depois do Cativeiro de Babilónia.

A destruição do Reino do Norte de Israel pelos assírios ocorreu em 722 a.C. Durante o reinado do rei Salmanasar V da Assíria, o Reino de Israel foi invadido após repetidas revoltas contra a dominação assíria. O cerco final foi concluído pelo sucessor de Salmanasar, Sargão II, que capturou a capital, Samaria. Após a conquista, os assírios implementaram uma política de deportação em massa, deslocando a maior parte da população israelita para outras regiões do Império Assírio, enquanto povoavam o território de Israel com outros povos conquistados. Essa prática era comum nestes casos, visando desestabilizar e prevenir futuras rebeliões ao misturar diferentes grupos étnicos e culturais.

Durante o período em que o Reino do Norte de Israel foi destruído pela Assíria, por volta de 722 a.C., havia outros reinos e cidades-estado significativos na região do Levante. Esse evento marcou o fim do Reino do Norte e o início do exílio das "Dez Tribos Perdidas de Israel", um dos episódios mais significativos da história antiga de Israel. Nessa altura também havia os reinos de Damasco, Filisteia, Tiro, Moab e Ámon. Reino de Damasco (Aram-Damasco) era um poderoso reino aramaico, com a sua capital em Damasco, que frequentemente entrou em conflito com Israel e Judá. Damasco foi conquistada pelos Assírios em 732 a.C., cerca de uma década antes da queda de Israel. Uma confederação de cidades-estado na costa sudoeste de Canaã, designada por Filisteia, incluía cidades como Gaza, Ascalão, Asdode, Ecrom e Gate. Os filisteus eram conhecidos como inimigos dos israelitas desde os tempos dos Juízes e do rei David. Eles também foram subjugados pelos Assírios, embora tenham mantido algum grau de autonomia. Tiro era ma cidade-estado fenícia localizada na costa do Mediterrâneo. Tiro era famosa por seu comércio marítimo e por ser uma potência naval. Embora também tenha caído sob influência assíria, Tiro conseguiu manter uma certa independência devido à sua importância económica. Moab era um reino situado a leste do Mar Morto, frequentemente mencionado na Bíblia em contextos de conflito com Israel. Embora Moab tenha sido ocasionalmente vassalo da Assíria, o reino conseguiu manter a sua identidade por muito tempo. Ámon, outro reino situado a leste do Rio Jordão, ao norte de Moab, teve relações complicadas com Israel e Judá, sendo aliado e inimigo em diferentes momentos. Ámon também foi subjugado pela Assíria, mas manteve uma certa autonomia.

Esses reinos estavam frequentemente em conflito entre si e com Israel e Judá, mas todos eles, em algum momento, caíram sob a dominação assíria durante o período de expansão do Império Assírio no século VIII a.C. A Assíria tinha uma política de expansão agressiva e, ao longo do tempo, foi subjugando esses reinos, impondo tributos ou, em muitos casos, realizando deportações como fez com o Reino de Israel. Para Amós não era possível mais aquela vida dissoluta com o culto de Baal em Israel. Era preciso uma ética. O profeta Amós, que atuou no Reino do Norte de Israel durante o século VIII a.C., foi um dos profetas mais veementes em sua crítica à injustiça social, à corrupção e à idolatria, especialmente o culto de Baal e outras práticas pagãs que se haviam infiltrado em Israel. Amós era um pastor e cultivador de sicómoros oriundo de Judá, mas foi chamado por Deus para profetizar contra Israel. Em suas mensagens, ele denunciava a vida dissoluta e a opressão dos pobres pelos ricos, condenando severamente a hipocrisia religiosa que existia em Israel. Para Amós, a adoração verdadeira a Deus não podia ser separada de uma vida ética e justa. Ele criticava o facto de que os israelitas estavam mais preocupados com rituais e sacrifícios do que com a justiça social e a retidão moral.

As Tribos de Israel do Norte, também conhecidas como as Dez Tribos Perdidas, tiveram um destino dramático e incerto após a conquista do Reino de Israel pela Assíria em 722 a.C. O Reino de Israel, composto pelas Dez Tribos do Norte  - Rubén, Simeão, Dã, Naftali, Gade, Aser, Issacar, Zebulom, Manassés e Efraim - foi conquistado pelo Império Assírio. A capital, Samaria, foi tomada, e grande parte da população foi deportada.

Os Assírios tinham uma política de deportar os habitantes dos territórios conquistados para outras partes do império. Como resultado, muitos israelitas foram forçados a se estabelecer em várias regiões do império assírio, especialmente na Mesopotâmia e na Média (atual Irão). Com o passar do tempo, essas tribos foram assimiladas pelas populações locais. Elas perderam a sua identidade distinta e, eventualmente, desapareceram da história como grupos coesos. Isso levou ao conceito das "Dez Tribos Perdidas". Alguns israelitas podem ter escapado da deportação e fugido para o Reino de Judá, a Sul, onde foram assimilados pela população local. O Reino de Judá, composto principalmente pelas tribos de Judá e Benjamim, sobreviveu por mais de um século até ser conquistado pelos babilónios em 586 a.C.

Ao longo dos séculos, surgiram muitas lendas e teorias sobre o paradeiro dessas tribos perdidas. Algumas tradições afirmam que elas teriam migrado para regiões distantes e até mesmo fundado novos povos ou nações. No entanto, nenhuma dessas teorias foi confirmada historicamente. Assim, as tribos de Israel do Norte essencialmente desapareceram da história como unidades tribais após o território onde habitavam ser conquistado pela Assíria, e as suas populações sendo dispersas e assimiladas por outras culturas e povos. O Reino de Judá conseguiu sobreviver por mais tempo do que o Reino de Israel devido a uma combinação de fatores políticos, geográficos e religiosos. Judá estava situado em uma região mais montanhosa e acidentada do que Israel, o que tornava o reino mais difícil de ser conquistado por invasores. A capital, Jerusalém, era fortificada e localizada numa posição estratégica, o que a tornava um alvo difícil de capturar.

Judá, em comparação com o Reino de Israel, em termos de população, era um reino mais pequeno. Isso significava que era menos ameaçador para impérios maiores, como o Império Assírio, o que pode ter contribuído para que fosse poupado de invasões tão severas quanto as que ocorreram no Norte. Os reis de Judá, especialmente os mais hábeis como Ezequias, adotaram uma política externa cautelosa. Eles tentaram evitar confrontos diretos com potências maiores, pagando tributo quando necessário e negociando alianças cuidadosas. Por exemplo, o rei Ezequias inicialmente se rebelou contra a Assíria, mas, após a invasão assíria liderada por Senaqueribe em 701 a.C., Jerusalém foi poupada, possivelmente devido a uma combinação de fatores, incluindo o pagamento de um tributo considerável, a que a Bíblia traduz por ajuda divina. Reis como Ezequias e Josias promoveram reformas religiosas que centralizaram o culto em Jerusalém e reforçaram a identidade religiosa e nacional de Judá. Essas reformas ajudaram a manter a coesão interna e a resistência cultural contra influências estrangeiras.

Seja como for, o Reino de Judá, diferentemente do Reino de Israel, não foi alvo imediato de deportações em massa até muito mais tarde. Quando o Império Assírio conquistou o Reino de Israel, o Reino de Judá ainda era uma nação tributária, mas não foi destruído. Mas apesar de o Reino de Judá ter sobrevivido mais tempo que o Reino de Israel, Judá acabou por cair diante de uma nova potência emergente, o Império Babilónico. Em 586 a.C., o rei Nabucodonosor II da Babilónia conquistou Jerusalém, destruiu o Templo e deportou grande parte da população judaica para a Babilónia. Esse evento marcou o início do exílio babilónico. Contudo, ao contrário das Dez Tribos de Israel, os judeus de Judá conseguiram manter a identidade, mesmo no exílio, o que foi crucial para a continuidade do judaísmo e da cultura judaica.

Sem comentários:

Enviar um comentário