sábado, 24 de agosto de 2024

Yusuf al-Qaradawi


Yusuf al-Qaradawi (9 de setembro de 1926 – Qatar, 26 de setembro de 2022) foi um religioso muçulmano sunita de origem egípcia. Al-Qaradawi foi presidente da União Mundial de Sábios Islâmicos (Ulemás). Dirigiu o Conselho Europeu para o Fatwa e Pesquisa sendo mais conhecido pelo seu programa na Al-Jazeera, ash-Shariah wal-Hayat (Sharia e vida) e pelo Islam Online (um sítio web que ajudou a fundar em 1997), onde oferece suas opiniões e éditos ("fatwa") baseados nas suas interpretações do Alcorão. Ele também publicou cerca de 50 livros, incluindo O legal e o proibido no Islão: A Civilização do Futuro. Venceu oito prémios internacionais por suas contribuições.



Al-Qaradawi foi proeminente na liderança da Irmandade Muçulmana. Entre muitos muçulmanos ele é considerado moderadamente conservador. Como as opiniões de al-Qaradawi são vistas como extremistas, ele teve um visto de entrada no Reino Unido recusado em 2008 e foi proibido de entrar nos EUA desde 1999 e na França em 2012. No mundo muçulmano as suas posições também não eram pacíficas pelo que lhe fora proibida a entrada em vários países árabes, incluindo Emirados Árabes Unidos e Egito, onde foi julgado à revelia em 2013, e a Interpol lançou um mandado de prisão contra ele a pedido do Egito.

É importante lembrar que a história é complexa e multifacetada, e a análise cuidadosa de todos os aspetos, incluindo as interações entre diferentes culturas e religiões, é crucial para uma compreensão completa dos eventos históricos. Caso contrário, não saberíamos como compreender que Yusf al-Qaradawi se tenha tornado uma vedeta televisiva da Al-Jazeera no Qatar com o seu proselitismo religioso e não só, também social e político. Através desse programa, ele teve acesso a um público global de milhões de telespectadores, espalhando suas ideias e exercendo influência em muitas partes do mundo muçulmano.

Seu proselitismo era notável por promover uma versão do Islão que buscava se adaptar ao mundo moderno, ao mesmo tempo em que mantinha um compromisso com os princípios tradicionais da fé. No entanto, ele também era uma figura controversa devido ao seu apoio à violência em certos contextos, como nos ataques suicidas em Israel, que ele justificava como atos de resistência. Como defensor fervoroso da Irmandade Muçulmana, ele visava a implementação da Sharia como base para governar a sociedade. Essa ligação com a Irmandade e suas opiniões muitas vezes polarizadoras fizeram dele uma figura divisiva tanto dentro como fora do mundo muçulmano. Sua influência se estendeu não apenas pela sua presença na televisão, mas também por meio de suas inúmeras publicações, fatwas e liderança intelectual no movimento islâmico global. Ele viveu a maior parte de sua vida no Qatar, onde faleceu em setembro de 2022.

O Movimento Hamas é um dos seus epígonos. Também tem boa imprensa na Al-Jazeera. Considerada uma organização terrorista por diversos países, incluindo os Estados Unidos, a União Europeia e Israel, tem recebido uma cobertura favorável na Al-Jazeera, especialmente em sua versão árabe. O canal, com sede no Qatar, frequentemente reporta sobre o Hamas de maneira que destaca as suas ações como parte da resistência palestina contra a ocupação israelita, alinhando-se, em certa medida, com a narrativa do Irão. Essa cobertura tem sido objeto de críticas, especialmente por parte de países que consideram o Hamas uma ameaça à segurança e à estabilidade na região. No entanto, a Al-Jazeera, enquanto rede de comunicação, defende que a sua missão é fornecer uma plataforma para uma diversidade de vozes e perspetivas, o que inclui a visão do Hamas no contexto do conflito israelo-palestiniano. Mas hoje, inclusivamente boa parte dos canais noticiosos europeus têm os seus editorialistas mais benevolentes a fazerem eco dos alinhamentos emitidos pela Al-Jazeera sem condenações apreciáveis.

Em um mundo cada vez mais globalizado e multicultural, há uma maior consciência da necessidade de evitar estereótipos e preconceitos contra comunidades religiosas, especialmente em relação ao Islão, que tem sido alvo de discriminação em vários contextos. Isso pode levar a uma abordagem mais cuidadosa ou equilibrada ao discutir a jihad, que, em seu sentido original, tem significados diversos, incluindo um esforço espiritual interno, além do combate armado. Em contrapartida, alguns editoriais podem interpretar a jihad em um contexto mais defensivo, especialmente quando se referem à história dos povos muçulmanos que resistiram a invasões estrangeiras.

Em alguns casos, os jornalistas podem adotar uma abordagem mais crítica em relação ao milenar conflito no Médio Oriente quando estão envolvidos eventos históricos associados à Europa, como parte de uma reflexão sobre colonialismo e imperialismo. Ao mesmo tempo, ao abordar a jihad, pode haver uma tentativa de diferenciar entre a interpretação original do termo e os abusos cometidos por grupos extremistas modernos, evitando, assim, a islamofobia.

A posição de alguns países europeus em relação ao Médio Oriente, à política internacional e às alianças estratégicas têm de ser vistos e analisados sob a perspetiva da política concreta dos interesses dos povos e da geopolítica internacional, de onde ninguém consegue sair de cara lavada e cabeça levantada. Isso pode resultar numa narrativa que procure entendimentos e compreensões das várias motivações por trás da real política contemporânea sem tabus, mas também sem condenações de cariz moral.

É importante destacar que as sociedades, principalmente europeias, são tudo menos monolíticas. Há uma diversidade de opiniões e abordagens. Alguns meios de comunicação podem ser mais críticos da jihad, especialmente em sua interpretação moderna associada ao extremismo, enquanto outros podem criticar as cruzadas como uma época de intolerância e violência. A perceção de "benevolência" ou "severidade" depende do viés editorial, da audiência-alvo e do contexto político e social em que as discussões estão inseridas.

Há atualmente europeus, que apesar de serem herdeiros do cristianismo, mas por via de serem mais laicos que crentes, exibem uma maior autocrítica culposa do que os muçulmanos em geral. No Ocidente, particularmente na Europa, a história do cristianismo e seus desdobramentos têm sido frequentemente objeto de intensa autocrítica. Essa tendência pode estar relacionada ao Iluminismo e ao desenvolvimento do pensamento crítico e secular, que incentivaram a reflexão sobre as ações históricas da Igreja e suas influências na sociedade. Essa autocrítica se manifesta em questões como a colonização, a Inquisição, as Cruzadas e até mesmo no papel do cristianismo na vida contemporânea.

Em contraste, em muitas sociedades muçulmanas, a autocrítica pode parecer menos pronunciada, especialmente em relação a temas religiosos. Isso pode ser devido a uma série de fatores, incluindo a relação entre religião e identidade cultural, onde a religião não é apenas uma crença espiritual, mas também um componente central da identidade nacional e cultural. Além disso, em muitos países de maioria muçulmana, criticar aspetos da religião pode ser socialmente sensível ou até mesmo perigoso. No entanto, é importante reconhecer que há variações consideráveis dentro de ambos os grupos. Em ambos os contextos, existem pessoas e movimentos que exercem uma autocrítica significativa. No mundo muçulmano, há pensadores e reformadores que criticam as interpretações tradicionais e defendem uma reinterpretação mais moderna e humanista do Islão. Da mesma forma, nem todos os europeus compartilham essa postura crítica em relação à herança cristã; há, inclusive, movimentos que buscam reafirmar os valores cristãos tradicionais.

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