quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Robin DiAngelo e controvérsias



Robin DiAngelo é professora universitária, escritora, oradora, formadora e consultora em questões de justiça social e racial há mais de vinte anos. Catedrática em educação multicultural na Westfield State University, é atualmente professora associada em Seattle. Com esta obra - "Fragilidade Branca", de 2020 - não tem deixado ninguém indiferente. Para Robin DiAngelo o racismo é uma prática que não se restringe a pessoas de má índole, mas a todos os que inconsciente e inadvertidamente o propagam. Robin DiAngelo cunhou o termo "fragilidade branca" como uma referência às manobras defensivas padronizadas que as pessoas brancas exercem quando são desafiadas racialmente e quando os seus pressupostos raciais, que contribuem para a desigualdade racial, são postos em causa.

A fragilidade branca caracteriza-se por emoções como a raiva, o medo, e a culpa, e por comportamentos que incluem a argumentação e o silêncio, comportamentos estes que impedem qualquer diálogo inter-racial de relevo. A fragilidade branca segue, assim, um padrão de defesa face às sugestões de racismo através de reações pretensamente inócuas como negações absurdas do tipo "não vejo cores". Mais do que um ensaio, esta obra é um manifesto para a tomada de consciência racial individual e coletiva da comunidade branca, que analisa a fundo de que modo a fragilidade branca se desenvolve, como protege a desigualdade racial. É uma receita terapêutica dizendo como e o que podemos fazer para nos envolvermos de forma mais construtiva no antirracismo. Nomear, definir e analisar a fragilidade branca aumenta a compreensão do racismo sistémico, o racismo que não vemos.

Sim, a doutora Robin DiAngelo é uma figura polémica. 
Alguns críticos argumentam que a sua abordagem simplifica demais questões complexas sobre raça e racismo. Ela é acusada de tratar as pessoas brancas como um grupo homogéneo e de promover uma visão de culpa e vergonha ao invés de um entendimento mais profundo e construtivo. DiAngelo cobra valores elevados por suas palestras, o que levou a críticas de que ela estaria lucrando com o antirracismo sem realmente abordar mudanças sistémicas. Enquanto alguns veem o seu trabalho como uma contribuição importante para o diálogo sobre raça e racismo, outros a acusam de perpetuar divisões raciais ou de abordar o tema de maneira superficial e sem promover um verdadeiro engajamento com as questões raciais.



Wilfred Reilly é considerado polémico, mas em um sentido oposto ao de Robin DiAngelo. Reilly é um cientista político, autor e professor conhecido por suas críticas ao que ele considera ser a histeria em torno de questões raciais e à cultura do politicamente correto nos Estados Unidos. Seu trabalho desafia muitas das premissas aceites por ativistas e intelectuais que, como DiAngelo, defendem a ideia de que o racismo sistémico é um problema central na sociedade americana. Alguns pontos de controvérsia em torno de Wilfred Reilly incluem críticas ao conceito de racismo sistémico. Reilly argumenta que o racismo sistémico não é o problema central que muitos ativistas afirmam ser. Ele sugere que os Estados Unidos fizeram grandes progressos em termos de igualdade racial e que muitas das percepções atuais sobre racismo são exageradas ou incorretas.

Em seu livro Hate Crime Hoax: How the Left is Selling a Fake Race War (2019), Reilly discute casos de supostos crimes de ódio que, segundo ele, foram fabricados ou exagerados. Ele argumenta que esses incidentes são usados para promover uma narrativa de um país profundamente racista, o que ele considera falso. Reilly critica figuras como Robin DiAngelo e Ibram X. Kendi, argumentando que suas abordagens ao racismo são contraproducentes porque dividem a sociedade. Ele vê o movimento antirracista moderno como uma forma de dogma que sufoca o debate honesto e promove uma visão pessimista das relações raciais.

Reilly é um crítico vocal da "cultura do cancelamento", vendo-a como uma ameaça à liberdade de expressão e ao debate intelectual. Essas posições também fazem de Reilly uma figura controversa, especialmente entre aqueles que estão mais alinhados com as perspectivas de DiAngelo e outros defensores do antirracismo mais agressivo. Ao mesmo tempo, ele é visto como um defensor da liberdade de expressão e do debate académico por aqueles que compartilham de suas críticas ao progressismo na questão racial.

Em 2020, um grupo de mais de 350 académicos de Princeton, conhecidos como "Eleitos da Universidade de Princeton", enviou uma carta aberta à Administração da Universidade, acusando a instituição de racismo sistémico e exigindo reformas significativas. A carta foi uma resposta ao clima social e político que se seguiu à morte de George Floyd e ao ressurgimento do movimento Black Lives Matter. Os signatários afirmaram que Princeton tinha um histórico de desigualdade racial e que práticas racistas estavam profundamente enraizadas na estrutura da Universidade. Eles argumentaram que, apesar dos avanços em algumas áreas, havia uma necessidade urgente de mudanças para combater o racismo na universidade. A carta exigia: a revisão das políticas de contratação e promoção para garantir maior diversidade racial entre os professores e administradores; criação de um comité de justiça racial; revisão curricular para incluir mais estudos críticos de raça e etnicidade, e maior ênfase na história e cultura de grupos marginalizados; reconhecimento das contribuições de académicos e alunos negros bem como de outras minorias na universidade.

Esse episódio foi significativo porque envolveu uma das instituições de ensino mais prestigiadas dos Estados Unidos, trazendo à tona questões sobre racismo e desigualdade racial no contexto académico. Em resposta, o presidente da Universidade de Princeton, Christopher L. Eisgruber, reconheceu a necessidade de refletir sobre as críticas e prometeu uma análise e ação em relação às preocupações levantadas. Esse incidente exemplifica o clima de debate acirrado sobre questões de raça e racismo que permeava muitas instituições americanas em 2020.


John McWhorter é outro académico afro-americano que se tem destacado por suas críticas ao que ele vê como os excessos do movimento antirracista contemporâneo. McWhorter é linguista, professor na Universidade de Columbia e autor de vários livros e artigos que abordam questões de raça, linguagem e política nos Estados Unidos. McWhorter argumenta que o movimento antirracista atual assumiu uma forma quase religiosa, onde certas ideias são tratadas como dogmas inquestionáveis. Em seu livro Woke Racism: How a New Religion Has Betrayed Black America (2021), ele critica essa abordagem, afirmando que ela se baseia em uma moralidade rígida e punitiva, que silencia o debate e promove uma visão simplista das relações raciais.

Embora McWhorter reconheça a existência de racismo e desigualdade, ele é cético em relação à noção de que o racismo sistêmico seja o principal obstáculo enfrentado pelos afro-americanos hoje. Ele defende que outros fatores, como a educação e a cultura, têm um impacto maior no sucesso ou fracasso dos indivíduos. McWhorter defende uma abordagem baseada no liberalismo clássico, que valoriza o debate aberto, a liberdade de expressão e o individualismo. Ele acredita que o foco excessivo em raça e identidade racial pode ser contraproducente e perpetuar divisões ao invés de promover a verdadeira igualdade. McWhorter é crítico de algumas políticas de ação afirmativa, argumentando que elas podem reforçar estereótipos negativos e criar uma sensação de vitimização em vez de promover a igualdade de oportunidades de forma genuína.

Por essas razões, McWhorter é frequentemente visto como uma voz dissidente no debate sobre raça nos Estados Unidos. Enquanto muitos o consideram um defensor do bom senso e da razão em um campo cheio de polarização, outros o acusam de minimizar os problemas de racismo que ainda persistem na sociedade americana. Sua postura crítica, no entanto, continua a atrair atenção e a provocar reflexões profundas sobre como abordar as questões raciais de maneira construtiva e equilibrada. Daí a pergunta: "Devemos confiar na nossa racionalidade e não ceder às definições excêntricas de racismo que fanáticos nos querem impor?" Confiar na própria racionalidade e manter um pensamento crítico são princípios fundamentais em qualquer debate, incluindo aqueles sobre questões tão complexas como o racismo. Em discussões sobre racismo, é importante buscar um equilíbrio entre a compreensão das experiências históricas e sociais que moldaram as questões raciais e a avaliação crítica das ideias e propostas que surgem no discurso público.

Pensamento crítico e diálogo aberto é essencial para estar disposto a ouvir diferentes perspectivas. Isso não significa aceitar todas as ideias como válidas, mas sim avaliá-las com base em evidências, lógica e consistência. Em um debate tão emocional como o do racismo, é fácil que posições polarizadas dominem, mas é justamente nesse contexto que o pensamento crítico é mais necessário. O conceito de racismo pode variar dependendo do contexto e da abordagem teórica. Definições mais tradicionais podem focar em preconceito ou discriminação baseada em raça, enquanto definições mais recentes podem incluir aspectos estruturais e sistémicos, considerando como instituições e normas sociais podem perpetuar desigualdades raciais. Avaliar essas definições com base na sua coerência interna, aplicabilidade prática e impacto social é uma parte importante do debate. Tanto o extremismo quanto o dogmatismo, de qualquer lado, podem ser prejudiciais. Fanatismo e definições extremas que não toleram o dissenso podem sufocar o diálogo e impedir soluções práticas. Ao mesmo tempo, ignorar totalmente as preocupações levantadas por aqueles que discutem racismo estrutural também pode limitar a compreensão de problemas reais. 

É importante reconhecer que o racismo é uma questão que afeta tanto indivíduos quanto sociedades. Abordá-lo de maneira racional envolve considerar tanto as responsabilidades pessoais quanto as necessidades de mudanças estruturais, sempre com um olho na justiça e na equidade. Portanto, confiar na racionalidade significa estar disposto a questionar, a refletir e a encontrar um equilíbrio entre diferentes perspectivas, sem ceder cegamente a qualquer forma de extremismo, mas também sem ignorar as realidades que moldam as experiências das pessoas.

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