quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Quo Vadis União Europeia

 

A situação da União Europeia (UE) não deve ser vista separada dos Estados Unidos, ainda que a sua relação seja complexa, mas interdependente. Se os EUA enfrentarem uma crise significativa, isso afetará imediatamente a UE devido à interconexão económica e política entre as duas potências. É verdade que a relevância da UE não pode ser reduzida apenas à sua relação com os EUA, uma vez que tem de valer pelas suas próprias políticas internas. Mas cada vez mais a globalização veio demonstrar quão dependente está a União Europeia das suas relações externas, e das capacidades que terá de apresentar para enfrentar os desafios da Nova Ordem Mundial. A UE pode, na verdade, ganhar relevância em algumas áreas se conseguir adaptar e fortalecer a sua posição global em resposta às mudanças no cenário internacional. Como poderá? Se a nível interno está a ser corroída pela ascensão dos nacionalismos identitários de extrema-direita.

A ascensão dos nacionalismos identitários e de extrema-direita pode representar um desafio significativo para a União Europeia, especialmente em termos de coesão interna e estabilidade política. No entanto, a UE tem várias ferramentas e estratégias que pode usar para mitigar esses riscos e reforçar a sua relevância. A UE pode implementar reformas para responder às preocupações dos cidadãos e abordar questões como desigualdades económicas e sociais que alimentam o descontentamento. Reforçar a cooperação entre os estados membros e promover iniciativas de solidariedade para ajudar a superar divisões e fortalecer a unidade. Aumentar a transparência e o engajamento com os cidadãos pode ajudar a restaurar a confiança na UE e combater a influência de narrativas dos eurocéticos. A UE pode continuar a desempenhar um papel ativo na política externa, promovendo valores democráticos e participando de iniciativas globais que reforcem a sua influência e relevância no cenário internacional. Investir em setores chave como tecnologia, sustentabilidade e economia digital.

Embora a ascensão dos nacionalismos represente um desafio, a capacidade da UE de se adaptar e responder a esses desafios determinará a sua trajetória futura e a sua relevância global. No entanto, é verdade que a crise migratória em massa dos últimos anos proveniente do mundo muçulmano não tem ajudado a essa coesão. A crise migratória dos últimos anos, particularmente proveniente de regiões de maioria muçulmana, tem tido um impacto profundo na coesão da União Europeia. 

A chegada em massa de migrantes tem exacerbado tensões políticas e sociais dentro da UE. Diferenças sobre como gerir a imigração e integrar os novos estrangeiros têm contribuído para divisões entre os estados membros e alimentado o crescimento de movimentos nacionalistas e de extrema-direita. A crise levou a uma série de respostas políticas, que variam desde políticas de controlo de fronteiras mais rigorosas até iniciativas de integração. As políticas e abordagens divergentes entre os países da UE têm dificultado a formulação de uma estratégia unificada.

 A percepção de ameaças à segurança e mudanças na identidade cultural têm sido exploradas por partidos populistas para ganhar apoio. Isso, por sua vez, tem enfraquecido a coesão social e política dentro da UE. Apesar das dificuldades, a UE também tem tentado implementar programas para ajudar na integração dos migrantes e distribuir a responsabilidade entre os estados membros. Algumas iniciativas têm sido bem-sucedidas, mas a falta de consenso continua a ser um problema.

 A crise migratória não é o único fator que influencia a coesão da UE, mas é um dos elementos significativos que exacerba as tensões e desafia a unidade. A forma como a UE lida com esses desafios pode afetar a sua coesão interna e a sua capacidade de manter uma posição forte no cenário global. Seja como for, a Rússia tem patrocinado todas as forças políticas e partidos que repudiem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Há evidências de que a Rússia tem procurado influenciar e apoiar forças políticas e partidos que se opõem ao pensamento alinhado com o Ocidente. Algumas formas de envolvimento incluem o financiamento a partidos e campanhas de desinformação.

 Muitos movimentos e partidos populistas e nacionalistas que se opõem à NATO e à UE têm recebido apoio indireto ou direto da Rússia. Esses partidos frequentemente compartilham uma visão crítica em relação à integração europeia e às alianças ocidentais. A Rússia também pode explorar divisões internas dentro dos países ocidentais e dentro da UE, amplificando as vozes que criticam a política externa e as instituições ocidentais. Este envolvimento tem implicações significativas para a política internacional, já que a Rússia busca criar um ambiente mais favorável a seus próprios interesses estratégicos, enfraquecendo a unidade e a influência do Ocidente. A resposta a essas táticas requer uma abordagem coordenada e uma vigilância constante para proteger a integridade dos processos políticos e a coesão das instituições ocidentais.

A dicotomia russófilos/russófobos é um aspecto importante nas relações internacionais e na percepção pública da Rússia. De um lado, alguns críticos da ordem ocidental, muitas vezes russófilos, veem na Rússia um bastião de valores tradicionais que contrastam com as mudanças culturais e sociais promovidas no Ocidente, como questões de identidade de género e normas familiares. Por outro lado, russófobos, ou críticos mais acentuados da Rússia, denunciam o regime autocrático de Vladimir Putin, que corta a liberdade de imprensa com repressão política. Todas estas percepções contrastantes refletem as complexidades das relações internacionais e das ideologias políticas.

Os valores democráticos no ocidente do pós-Segunda Guerra Mundial andam hoje pelas ruas da amargura. Paira no ar uma percepção de crise que desafia os decisores políticos das democracias ocidentais. Embora não seja uma visão universalmente aceite, há vários sinais de que as democracias enfrentam dificuldades. Em muitos países ocidentais, há um aumento da polarização política, que pode paralisar processos legislativos e enfraquecer a coesão social. Existe uma crescente desconfiança nas instituições democráticas, incluindo governos e sistemas eleitorais. Escândalos, corrupção e a sensação de que o sistema não representa adequadamente os interesses das pessoas contribuem para essa desconfiança. A ascensão de movimentos populistas e nacionalistas tem desafiado os princípios democráticos tradicionais, muitas vezes promovendo agendas que podem enfraquecer o pluralismo e os direitos fundamentais.

Em alguns países ocidentais, há preocupações sobre a erosão da liberdade de imprensa e o aumento do controlo estatal ou a censura, o que pode comprometer a transparência e a responsabilização. A crescente desigualdade económica pode minar a coesão social e a confiança nas instituições democráticas, com a percepção de que as elites dominam em detrimento dos interesses da maioria. No entanto, as democracias ocidentais também têm mecanismos internos de resiliência e adaptação. Muitos países estão enfrentando essas questões com reformas políticas, fortalecimento das instituições democráticas e esforços para restaurar a confiança pública. A resiliência das democracias ocidentais dependerá de sua capacidade de abordar esses desafios e manter os princípios fundamentais do Estado de Direito. 

Países da Europa de Leste, com a Hungria na dianteira, criticam a má política da União Europeia ao permitir a imigração em massa de não europeus. Países como a Hungria, Polónia e República Checa têm-se oposto fortemente às políticas de imigração da UE, argumentando que a entrada de migrantes não europeus representa uma ameaça à identidade cultural e à segurança nacional. Esses países frequentemente usam termos como "etnomasoquismo" para descrever o que veem como uma política de auto-sacrifício cultural por parte da UE. Têm criticado o sistema de quotas de redistribuição de migrantes da UE, que visa equilibrar a carga entre os estados membros. Esses países alegam que as quotas são injustas e não levam em conta as capacidades e preferências locais. Esses países frequentemente argumentam que a imigração em massa compromete a segurança nacional e a soberania, e que a UE está impondo políticas que não respeitam as prioridades e as preocupações dos estados.

Sem comentários:

Enviar um comentário