domingo, 25 de maio de 2025

A ideia de Spinoza – “Deus sive Natura”


Spinoza (1632–1677) é talvez o primeiro grande pensador ocidental a romper, de forma sistemática, com a ideia de um Deus pessoal, criador e separado do mundo. No lugar disso, ele propõe que Deus é a própria Natureza - Deus sive Natura. Ou seja, Deus não é uma mente fora do mundo que cria o mundo. Deus é o conjunto de tudo o que existe - a substância infinita e todas as suas leis. Para Spinoza, não há criação no sentido de um início - a substância existe necessariamente, eternamente.

O Universo ou a Natureza é determinado por suas próprias leis, não há milagres, não há vontades externas. Não há "antes" do ser, nem necessidade de uma inteligência pessoal "criadora". Spinoza no seu tempo, foi por isso considerado um ateu, mesmo usando a palavra "Deus". O seu Deus não era o Deus tradicional. Deus, como necessidade no sentido filosófico, tinha o mesmo sentido que: dois mais dois ser igual a quatro (2 + 2 = 4). Não há espaço para um Deus voluntarista. E também não há espaço para o Nada (absoluto). Necessariamente (por necessidade) sempre existiu algo.

Spinoza foi muito fino, muito profundo, na filosofia da mente e da epistemologia. O cérebro humano não percebe a realidade tal como ela é. Ele modela uma realidade, a partir dos seus próprios mecanismos internos – evolução, sobrevivência, medo, desejo, linguagem, cultura. "Deus", então, é uma criação mental, uma projeção: uma resposta simbólica a medos profundos, sobretudo ao medo do caos, do sofrimento, da morte. O facto de termos criado a ideia de Deus não implica em absoluto que Deus exista objetivamente fora das nossas categorias mentais. Schopenhauer, por exemplo, dizia: "O mundo é uma representação." Ou seja, tudo o que conhecemos – inclusive as grandes categorias metafísicas: Deus; Alma; Causalidade; Tempo – são modos de organização mental, não janelas puras para uma realidade em si.

E isso está em sintonia com descobertas recentes da neurociência: o nosso cérebro prefere explicações causais lineares, porque fomos moldados evolutivamente para sobreviver (não para conhecer a verdade última). Quando confrontados com a vastidão, o vazio, o absurdo, nós projetamos sentido. Deus, nesse contexto, surge como a máxima projeção de sentido, estabilidade e segurança. No fundo, Deus é uma resposta emocional estruturada, antes de ser um conceito lógico necessário. Não precisamos de Deus para explicar o Universo. Precisamos apenas de coragem para viver sem um "fundamento" exterior.

Nietzsche (1844–1900) mais tarde, dá um passo ainda mais radical: Ele declara a "morte de Deus", isto é, a morte do conceito de Deus como suporte da realidade e da moralidade. Para ele, o Universo carece de sentido, não tem nenhuma finalidade imposta. O Mundo é um eterno fluxo de forças e formas. Em alguns escritos tardios, como nas anotações sobre o Eterno Retorno, Nietzsche ensaia a ideia de um Cosmos eternamente recorrente: tudo o que acontece já aconteceu infinitamente e acontecerá novamente infinitamente. Embora o Eterno Retorno seja apresentado mais como um teste - "você suportaria viver a sua vida infinitamente?" - há nele uma intuição cosmológica. O universo é cíclico, sem começo nem fim, sem criador, sem causa primeira. Assim como no budismo e em certos modelos físicos modernos - o Ser é simplesmente um facto bruto, um dado, não algo que pede explicação através de uma vontade superior.

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