domingo, 11 de maio de 2025

Porque será que o espaço é escuro, apesar de o Sol estar lá?


No espaço, não há atmosfera nem partículas suficientes para espalhar a luz. Na Terra, a luz do Sol bate nas moléculas do ar e espalha-se em todas as direções. Isso é o que ilumina o céu e o faz parecer azul durante o dia. Mas no espaço a luz viaja em linha reta. Se não houver nada no caminho (como poeira, gases, superfícies sólidas), ela não se espalha. Logo, ainda que o Sol esteja lá, o espaço vazio à volta dos planetas e das estrelas é completamente escuro. De qualquer modo o Sol no espaço é extremamente brilhante e perigoso para os olhos dos astronautas, até mais do que na Terra. Os astronautas usam visores especiais nos capacetes, com filtros como óculos escuros, por causa disso. Os sensores e câmaras das sondas e naves também têm filtros para não serem "cegados" pela luz solar direta. Quando os astronautas olham para a Terra vêm a luz solar refletida no planeta. E isso é bem mais suave que olhar diretamente para o Sol. Por conseguinte, se estivéssemos no espaço e olhássemos para uma superfície iluminada (como a Terra, a Lua ou uma nave), ela estaria muito brilhante contra um fundo negro total, sem céu azul, sem nuvens. Apenas contrastes extremos entre luz e escuridão.

O espaço entre os planetas - o chamado espaço interestelar ou interplanetário - é muitas vezes descrito como vácuo, mas não é um vácuo perfeito. Há, sim, alguma coisa lá, embora seja incrivelmente rarefeita. Ele contém átomos dispersos (sobretudo hidrogénio e hélio). Partículas subatómicas como protões, electrões e neutrões livres (vindos, por exemplo, do vento solar). Poeira cósmica (pequeníssimas partículas de rocha ou gelo). Radiação eletromagnética (luz visível, raios gama, micro-ondas etc.). Campos magnéticos e gravitacionais. Neutrinos, que praticamente não interagem com nada. E possivelmente matéria escura, que ainda não compreendemos bem.

Para termos uma ideia. No ar que respiramos há cerca de 10²⁵ moléculas por metro cúbico. No espaço entre planetas, talvez dezenas a centenas de partículas por metro cúbico (ou menos). Ou seja, é biliões de vezes mais vazio que o melhor vácuo que conseguimos produzir na Terra. As naves e sondas não colidem com essas partículas porque a densidade é tão baixa que não há resistência nem atrito perceptível. Mas, ao longo de muitos anos, partículas energéticas podem danificar circuitos electrónicos. Por isso as sondas são blindadas. O vento solar, por exemplo, é um fluxo constante de partículas carregadas emitidas pelo Sol. Enche o sistema solar inteiro, afetando auroras, satélites e até a cauda dos cometas. Essas "rochas espaciais" não são como o granito ou o calcário que encontramos na Terra. Elas tendem a ser condritos - que são rochas primordiais compostos por silicatos, óxidos metálicos, ferro e níquel. Têm grãos redondos, os côndrulos, formados por fusão rápida no início do sistema solar. São os blocos primitivos de onde se formaram os planetas rochosos.

Algumas são ricas em compostos orgânicos, como aminoácidos simples. Isso fascina os cientistas porque pode estar relacionado com a origem da vida. Muitos corpos são uma mistura de gelo de água, amónia, metano e pó de rocha como os cometas. O famoso “gelo espacial” não é só água congelada: é uma mistura química congelada complexa. Essas partículas formaram-se num disco de gás e poeira ao redor do Sol primitivo. Ao colidir aglutinam-se, formando pedrinhas, depois rochas maiores (os planetesimais). Algumas nunca chegaram a formar planetas e continuam a vaguear como meteoroides, asteroides ou partículas soltas. Quando essas partículas entram na atmosfera da Terra, são os meteoros ou "estrela cadentes". Se resistirem e caírem no solo, então são os meteoritos, que os cientistas vulgarmente estudam, ou seja, leem literalmente páginas da história do sistema solar.

O Sol também gira. E é um facto fascinante que muitas pessoas nem imaginam! O Sol gira sobre si mesmo em torno do próprio eixo, tal como a Terra. Mas como é feito de plasma (gás muito quente e ionizado) e não é sólido, ele gira de forma diferente em várias partes. Velocidades diferentes dependendo da latitude. No equador solar, ele dá uma volta completa em cerca de 24 a 25 dias. Nas regiões polares, essa rotação é mais lenta: cerca de 35 dias. Isso chama-se rotação diferencial, típica de corpos gasosos. E o Sol também se move pelo espaço. O Sol não está parado no centro do universo nem mesmo do sistema solar. Gira em torno do centro da galáxia, a nossa Via Láctea. Leva cerca de 225 a 250 milhões de anos para dar uma volta completa (chamado ano galáctico). Move-se a uma velocidade de aproximadamente 828.000 km/h (230 km/s) nesse percurso. Além disso, o Sol oscila fazendo pequenos "bamboleios" por causa da influência gravitacional dos planetas, especialmente Júpiter e Saturno. Isso desloca ligeiramente o centro de massa do sistema solar. Por isso, tecnicamente, o Sol também gira em torno desse centro (e não apenas os planetas ao redor dele).

Mas o Big Bang será uma realidade objetiva ou uma construção da mente humana? Aqui tocamos um tema tão delicado quanto fascinante. O Big Bang é uma teoria, a mais aceite hoje para explicar a origem do espaço, do tempo, da matéria e da energia. É sustentada por observações: a radiação cósmica de fundo, o desvio para o vermelho das galáxias, a abundância de elementos leves. Mas ao mesmo tempo, é uma construção interpretativa por parte do cérebro humano. A mente humana procura causas, inícios, lógica. Mesmo que a realidade em si seja mais misteriosa do que qualquer teoria possa captar.

O que havia "antes" do Big Bang? A física moderna responde com uma certa humildade: a própria ideia de "antes" pode não fazer sentido. O tempo e o espaço, tal como os conhecemos, nasceram com o Big Bang. Antes disso, se é que existe esse "antes", não havia nem “quando” nem “onde”. O "nada" não era um vazio com espaço e tempo lá dentro. Não havia dentro, era um "não-ser" radical. Mas esse nada… não se parece com o "nada" dos teólogos cristãos, dos antigos gregos, ou dos místicos. Não era nem o vazio, nem o caos. Era uma ausência até da própria ausência. Mas tudo isso está ainda mais perto da filosofia do que da física experimental.

Os povos semitas (hebreus, babilónios, árabes) criaram uma ideia de Deus anterior à criação, eterno, criador do espaço e do tempo. Em Génesis não se diz de onde veio Deus, porque Ele já é anterior ao tempo. É uma ideia absolutamente revolucionária: um ser fora da natureza, criador da natureza. Enquanto outros povos (gregos, hindus, egípcios) pensavam o mundo como eterno ou cíclico. Os semitas propõem uma criação com ponto de partida, e um criador fora do próprio fluxo do tempo. Sem telescópios nem equações, esses semitas chegaram a uma concepção parecida com o que hoje se diz do “nada antes do Big Bang”. O que havia antes do Big Bang? A resposta mais sincera talvez seja esta: Não sabemos. Mas o espanto diante dessa pergunta é talvez a coisa mais humana, e mais divina que temos: “Sabemos que vamos morrer, e ainda assim cantamos.” “Sabemos que há um princípio, mas talvez ele não nos pertença.” “Sabemos que há luz, e ainda assim há noite.”

Há uma coisa que não sabemos o que é, mas chamemos-lhe eternidade. E parece nascer do mesmo sopro filosófico que animou Heráclito, Platão, Agostinho, Spinoza ou Simone Weil. Há algo eterno, sem princípio nem fim, onde nada falta, nada é criado, nada morre, e, de repente (ou melhor, fora de qualquer tempo), dá-se uma explosão, e nasce o nosso universo. Um universo com tempo, espaço, matéria, galáxias, olhos que olham para o céu… e perguntas. Mas então… o que causou essa explosão? A ciência, até agora, não consegue responder o “porquê” metafísico. Mas pode formular hipóteses sobre o “como” físico. A hipótese quântica: flutuação do vácuo no campo da mecânica quântica. O chamado “vácuo quântico” não é o nada absoluto - é um campo fervilhante, instável. Uma “flutuação” aleatória poderia ter criado uma bolha de energia, o nosso universo. Isso poderia acontecer espontaneamente, sem causa exterior, como se o próprio nada tivesse “potência de ser”.

A teoria do Big Bang parte da ideia de uma singularidade. Um ponto com densidade e temperatura infinitas. Essa singularidade não tem antes, não tem fora. O espaço e o tempo começam ali. A física tal como a conhecemos deixa de funcionar antes daquele ponto. Ou seja: o Big Bang não é uma explosão dentro de algo, mas a origem do próprio algo.

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