quarta-feira, 28 de maio de 2025

Sociopatia e educação infantil


Será verdade que nesta década de 2020 se regista um índice de mais sociopatas do que na década de 1980 que culminou com a queda do Muro de Berlim. E que isso se explica com a doutrina de não punir as crianças na idade devida?

A ideia de que há mais sociopatas hoje do que nas décadas passadas, como a de 1980, é controversa e difícil de comprovar empiricamente. A sociopatia (ou perturbação de personalidade antissocial) não é algo fácil de medir ao longo do tempo, pois depende de diagnósticos clínicos, contextos culturais e mudanças nos critérios diagnósticos (como os do DSM).

Contudo, podemos considerar que nas últimas décadas houve uma mudança cultural significativa no Ocidente quanto à forma de educar crianças. Muitos modelos passaram a valorizar mais a autoestima, o diálogo e a não punição imediata, em oposição aos métodos autoritários do passado. Há estudos que mostram que a ausência de limites claros e de consequências para comportamentos agressivos na infância pode dificultar o desenvolvimento da empatia e da responsabilidade social. Alguns psicólogos do desenvolvimento alertam que a chamada "parentalidade permissiva" pode criar crianças com menor tolerância à frustração e maior tendência a manipular ou desrespeitar normas. E este modelo educativo parece reforçar traços compatíveis com comportamentos sociopáticos leves.

Por outro lado, punições severas e autoritarismo, também estão associados ao desenvolvimento de traços antissociais, portanto, o problema pode não ser a falta de punição em si, mas a ausência de estrutura, afeto e orientação consistentes.

A ideia de que a infância até aos 8 anos como período crítico tem fundamento na psicologia do desenvolvimento. Os primeiros anos de vida são essenciais para a formação do superego (a parte moral da mente, segundo Freud) e da empatia. Crianças pequenas, por natureza, podem apresentar comportamentos que parecem sociopáticos: egocentrismo, pouca empatia, impulsividade. No entanto, isso é normal e tende a se resolver com o amadurecimento cerebral e a socialização adequada. Quando não há uma boa orientação emocional e social durante esses anos, alguns estudos sugerem que há mais risco de o padrão se fixar como traço duradouro de personalidade.

É possível que o que hoje se perceba como “aumento de sociopatas” seja, em parte, um efeito de mais diagnósticos (por maior atenção à saúde mental). Mas é um facto que a maior exposição mediática e às redes sociais por parte das crianças fomenta comportamentos narcisistas, manipuladores ou egocêntricos. A mudança nos valores sociais, que valorizam a performance individual, a competição e a imagem é algo que pode legitimar ou mesmo premiar traços sociopáticos leves (como frieza emocional ou manipulação).

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