Pascal Bruckner é um filósofo e ensaísta francês, conhecido por suas críticas ao multiculturalismo com os seus excessos acerca da culpa ocidental por todos os males da humanidade. Ele vem da tradição da esquerda, mas, ao longo do tempo, tornou-se um dos principais intelectuais a questionar os excessos dos progressistas contemporâneos. Bruckner é um dos poucos intelectuais europeus que confrontam abertamente as contradições em que caiu a esquerda ocidental. Por isso, ele é ao mesmo tempo alvo de elogios por parte dos liberais e conservadores, e abominação por parte dos esquerdistas progressistas.
No livro que publicou em 2006 - O Sangue dos Culpados (La Tyrannie de la Pénitence - Bruckner escalpeliza essa obsessão pela própria culpa histórica (colonialismo, escravidão, guerras) dos académicos do pensamento correto. Essa autoflagelação tem tornado essa elite académica de esquerda incapaz de enaltecer a sua identidade ligada ao valor civilizacional dos europeus na era moderna. E é essa autoflagelação derrotista que Pascal Bruckner critica. E que é fautora desta Europa decadente cada vez mais irrelevante na senda internacional. Ele não se opõe ao multiculturalismo em si, mas a ideia de que o Ocidente se deve dobrar perante as exigências e reivindicações de os estrangeiros implantarem as suas culturas na Europa ainda que contrárias à Carta dos Direitos Humanos. Ele denuncia como certas políticas identitárias estão a promover um novo tipo de discriminação disfarçada de justiça social.
Bruckner critica a tendência estratégica de grupos sociais minoritários se vitimizarem com o estigma da perseguição racista e xenófoba. Ora isso o que evidencia é uma desresponsabilização dos seus atos e das suas vidas ao arrepio do Estado de Direito. Isso criou uma cultura de ressentimento, que em vez de criar hábitos de emancipação, criou hábitos de dependência crónica. No livro que editou em 2014, com o título: "O Novo Amor" - Bruckner critica as correntes feministas que veem os homens como opressores. Ele considera que este tipo de feminismo vai no mesmo sentido da vitimização das minorias. Bruckner é um dos poucos intelectuais que conseguem manter uma crítica firme ao progressismo radical sem cair no reacionarismo puro. Ele vê os excessos identitários como sintomas de um Ocidente que perdeu a confiança em si mesmo, o que se encaixa bem na visão de tantos outros que falam sobre o atual declínio por que está a passar a civilização ocidental.
Há uma tensão crescente na sociedade ocidental, especialmente entre os valores tradicionais de liberdade individual, liberdade de expressão e as novas concepções de identidade e justiça social. Para muitos críticos, como os que acabamos de visitar, essa ênfase na identidade, muitas vezes alinhada com uma agenda progressista, acaba por cair numa forma de autoritarismo ideológico e numa distorção da liberdade: em primeiro lugar individual, e consequentemente, académica. A questão da identidade racial, tal como ela está a ser politicamente manipulada por movimentos sociais, representa o ponto de choque mais intenso da atualidade por causa dos movimentos migratórios. O desejo de corrigir injustiças históricas, e sociais, no fim de contas, exclui qualquer hipótese de escolha livre e fundamentada sem dissensão.
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