terça-feira, 6 de maio de 2025

O açambarcamento de papel higiénico é mais um sintoma da fragilidade psicológica humana em situações de incerteza do que uma resposta racional às necessidades básicas.





Um dos fenómenos intrigantes da pandemia SARS-CoV-2 foi nas primeiras horas do confinamento as pessoas correm para o supermercado a açambarcar resmas de papel higiénico. Agora com o "Apagão" na Península Ibérica aconteceu o mesmo, menos, mas aconteceu. O fenómeno do açambarcamento de papel higiénico (e de outros bens básicos) em situações de crise, como o confinamento do SARS-CoV-2 ou agora o medo do Apagão na Península Ibérica, pode ser explicado por vários fatores que se entrelaçam. Medo da escassez: Quando as pessoas percebem que uma crise pode afetar o fornecimento de bens essenciais, antecipam-se a uma possível rutura no abastecimento. O papel higiénico, embora não seja vital como a comida ou a água, é um item básico de conforto e higiene. A ideia de ficar sem ele causa desconforto desproporcional.




Há nisto o chamado comportamento de manada. Quando algumas pessoas começam a comprar em grandes quantidades, outras, ao verem as prateleiras vazias ou filas, sentem-se compelidas a fazer o mesmo. Trata-se de um mecanismo psicológico profundo — "se todos estão a fazer, é porque deve ser importante". Este é um comportamento de contágio social. Em tempos de incerteza, quando muita coisa escapa ao nosso controlo (vírus, falta de energia, instabilidade social), as pessoas tentam agarrar-se ao que podem controlar. Fazer um grande stock de papel higiénico, encher a despensa, ou garantir baterias e velas, é uma forma prática de "fazer alguma coisa", de sentir que se está a agir para proteger a família. Curiosamente, o papel higiénico tornou-se um sucedâneo de um adágio ou provérbio. No caso recente do Apagão, apesar de ser uma situação diferente (não era propriamente um vírus, mas um risco de colapso elétrico e logístico), os mesmos mecanismos psicológicos foram ativados, embora de forma menos intensa — talvez porque as pessoas já passaram por 2020 e agora têm alguma memória recente de que o sistema, mesmo em crise, tende a se reorganizar.

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