Nietzsche, ao contrário dos filósofos clássicos que privilegiavam a razão fria (como Kant ou Descartes), faz da vida, do corpo e da emoção as fontes verdadeiras do conhecimento. Ele dizia: "Só o que foi escrito com o próprio sangue é digno de ser lido." Ou seja: O verdadeiro pensamento não vem só do cérebro. Vem do sofrimento, da experiência vivida, da paixão intensa. Aqui está o Pathos de Nietzsche: A sabedoria vem de sofrer, desejar, lutar - não de teorizar friamente sobre o mundo. Nietzsche detestava a ideia de "verdades eternas" e "valores absolutos". Para ele, tudo o que é vivo é dinâmico, tudo o que é verdadeiro é instável, tudo o que é bom é em construção constante. Essa é a raiz da sua ideia de Vontade de Poder (Wille zur Macht).
A Vontade de Poder é o impulso criador da vida. Não tem nada a ver com o "querer dominar os outros", como às vezes se interpreta mal. É a força de superar a si mesmo, de criar novos valores e sentidos. É o movimento vital de quem sente pathos e age com autenticidade - ethos. Um povo que, mesmo na miséria ou na opressão, encontra ditados, provérbios, danças e formas de expressão para afirmar que ainda está vivo. Nietzsche valorizava os poetas trágicos gregos (como Ésquilo e Sófocles); músicos como Wagner (antes da ruptura). E mesmo os indivíduos marginais que criavam os seus próprios caminhos. Ele via neles o triunfo da vida verdadeira sobre a vida domesticada. Num ponto mais profundo, Nietzsche possuía a intuição trágica, via que a vida humana, no fundo, é sofrimento. Não há redenção final, não há sentido último garantido.
Em vez de negar o sofrimento (como o cristianismo), Nietzsche preconizava abraçar a vida tal como ela é: com a dor, o erro, a queda, o desassossego. Essa aceitação profunda e criativa do sofrimento é a sabedoria intuitiva trágica. Para Nietzsche, isso é grandeza de espírito: transformar a dor em força criativa. Nietzsche vê o conhecimento real como vindo do corpo, do sofrimento, da paixão (pathos) e da autenticidade da vida (ethos). É o impulso vital que cria novos sentidos a partir do caos da existência.
Nietzsche apresenta a ideia do Eterno Retorno [die ewige Wiederkehr des Gleichen] de maneira provocadora: "E se um dia ou uma noite um demónio se esgueirasse furtivamente até ti, na mais solitária das solidões, e te dissesse: 'Esta vida, como agora a vives e já a viveste, terás de vivê-la ainda mais vezes, e incontáveis vezes mais; e não haverá nela nada de novo, mas cada dor e cada prazer, cada pensamento e suspiro, cada coisa indizivelmente pequena ou grande em tua vida, terá de voltar a ti - tudo na mesma sequência e ordem...'" (A Gaia Ciência, §341).
O que Nietzsche propõe aqui não é uma doutrina "mística" sobre o tempo. É uma experiência de pensamento, um teste radical de amor à vida. Se tivesses de viver tua vida exatamente como ela foi, para sempre, inúmeras vezes - dirias “sim” ou desesperar-te-ias? No Eterno Retorno, como teste do Pathos e do Ethos, o Pathos entra aqui no modo como sentimos a nossa vida. O Ethos entra no modo como escolhemos viver com essa consciência. Em todos estes casos, não se vê a vida como algo que devesse ser "corrigido" ou "purificado" pela razão idealizadora. A vida é o que é: trágica, imperfeita, mas também grandiosa porque existe.
Sem comentários:
Enviar um comentário