quinta-feira, 29 de maio de 2025

A Social-democracia está a chegar ao fim


Os nossos concidadãos acabaram por se desencantar da social-democracia (de espetro alargado) capturada pela permissividade pós-moderna. Daí o colapso da autoridade simbólica e o esvaziamento moral do discurso político. O “estou farto” é o grito de um cansaço civilizacional. Hoje, muitos europeus votam na extrema-direita, não por adesão ideológica, mas por uma raiva visceral. Durante décadas, a social-democracia equilibrou liberdade com responsabilidade, mercado com redistribuição, progresso com coesão. Mas, nas últimas décadas, rendeu-se à cultura da culpa do “si” para desculpar o “Outro” (“coitadinho estrutural” na gíria do metaforista). E assim cresceu o ressentimento.

Sentindo-se órfão e inseguro da sua própria identidade, fartou-se da erosão das suas instituições que abandonaram os valores do esforço e da responsabilidade individual; da importação acrítica de modelos identitários desconectados da sua própria realidade; que a extrema-direita hoje instrumentaliza com destreza. Porque a esquerda, refugiando-se no “politicamente correto” abdicou da coragem normativa, deixando que as bases sociais se desagregassem. Não é sede de fascismo, mas voto de protesto. Um grito: “Se não posso confiar nas elites que abdicaram de me proteger e representar, então vou confiar em quem me ouça e me proteja, mesmo que isso seja feito à bruta.”

Como o chavão “anda tudo ligado” tem, de facto, muito que se lhe diga, “não é por acaso” que ‘coincidências e nexos de causalidade’ sempre deixaram os seres humanos – os que pensam e meditam com o cérebro – perplexos com os paradoxos dos que pensam com os pés e as mãos. Mas quem leia História Universal todos os dias, ou a Bíblia de vez em quando, sabe que sempre houve migrações, êxodos e viajantes. E que estes movimentos nunca foram pacíficos em lado nenhum. Moisés ou Eurico o Presbítero que o digam. Ou os Romenos.

A empatia é boa, mas quando em excesso é bloqueadora da ação eficaz da proatividade em benefício da sociedade. De certo modo, paradoxal, a empatia, em sua essência, é fundamental para a coesão social e a justiça. Ela permite que compreendamos o sofrimento alheio e que sejamos movidos a ajudar. No entanto, quando levada ao excesso ou mal direcionada, pode tornar-se um obstáculo à ação eficaz. Isso ocorre por algumas razões.

Uma empatia excessiva pode gerar sofrimento vicário tão intenso que a pessoa se torna incapaz de agir. Fica paralisada emocionalmente. Sente tanto a dor do outro que entra em estado de angústia ou impotência. A empatia excessiva pode fazer com que alguém se perca em casos particulares e não consiga priorizar ações mais amplas e sistémicas, necessárias ao bem comum. Há um desvio da racionalidade por dissonância cognitiva. A dissonância cognitiva tem a ver com um mal-estar provocado por um conflito entre o que uma pessoa pensa, o que sente e o que faz. É o caso da pessoa que se vê como honesta, mas se pega mentindo para não ter de dar maiores explicações, e depois acaba se sentindo mal por isso.

Às vezes, a empatia pode levar a decisões contraproducentes do ponto de vista social, como proteger alguém próximo mesmo quando isso prejudica outros ou a sociedade como um todo (por exemplo, decisões judiciais ou políticas lenientes motivadas por comoção). Cansaço moral: Excesso de empatia em contextos cronicamente dolorosos – desastres, guerras, miséria – pode esgotar a capacidade de reação e gerar um tipo de "fadiga empática". Nesse sentido, muitos pensadores como Paul Bloom, em Against Empathy defendem que a empatia deve ser equilibrada com racionalidade, justiça e responsabilidade. Um agente verdadeiramente proativo age não só por empatia, mas por um sentido ético mais amplo, que inclui compaixão organizada, análise estratégica e prioridades claras.

Quando sofremos demais as dores do próximo ficamos de tal maneira angustiados que só nos apetece desaparecer. Essa é uma constatação profunda e humana. Quando sentimos demasiado as dores do outro, a angústia torna-se tão insuportável que não resta em nós impulso de ajudar, apenas o desejo de desaparecer. Não devemos ser obstinados em calçar os sapatos dos outros. O excesso de identificação pode desfigurar tanto o caminho alheio como o nosso.

Tropeça não por falta de empatia, mas por excesso dela. Empatia não é mimetismo. Calçar os sapatos dos outros, se feito com obstinação, descalça-nos da lucidez. E quando for preciso dar corda aos cordões dos sapatos, ficamos paralisados. Quem vive nos sapatos dos outros, tropeça nos próprios cordões.

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