terça-feira, 1 de outubro de 2019

A Religiosidade na Grécia Antiga e a Tradição Mítica



A religião na Grécia Antiga diz respeito a um conjunto de crenças que atravessa um longo período histórico: pelasgos, minoicos e micénicos, até ao período helenístico passando pelo período clássico. Cada polis tinha preferência por certas divindades em seus cultos e ritos, mas compartilhavam com outras polis algumas práticas em comum, como a realização de grandes festas, como as DionisíacasA religião era uma cosmogonia em que a vivência espiritual dos gregos se sustentava em crenças formuladas a partir de fenómenos que o homem não conseguia explicar. Nessa cosmogonia, os deuses não teriam criado o universo, mas seriam parte dele. O início do universo teria acontecido com o surgimento espontâneo do Caos, da Terra, do Tártaro (deus inferior) e de Eros (força que possibilitava a união entre os seres). 

Convém compreender que a religião na Grécia Antiga possuía conexão e ligação com todos os aspectos da vida das pessoas: um papel para o indivíduo e outro para a vida coletiva. Nesse sentido, a religião contribuiu para a construção de santuários e o desenvolvimento da literatura.A transmissão do mundo dos deuses entre os gregos, principalmente no período Arcaico era feito pelo canto dos poetas, com apoio musical de um instrumento. O poeta pode fazer modificações ou interpretar de várias formas a revelação que recebe dos deuses, mas não faz isso de maneira aleatória, segue uma coerência imaginativa no âmbito do mito. Assim, a mitologia insere-se na sua complexa e ampla explicação do mundo e da natureza, que envolve rituais, ensinamentos morais e factos políticos.

Os gregos valorizavam os rituais em torno dos altares em ar festivo, pois acreditavam que deles dependia a sorte dos humanos. A palavra sacrifício, em grego antigo, significava também festa religiosa. Eram acompanhados de música, cânticos, jogos e competições. As relações de poder também se manifestavam nos rituais. Todavia, não estavam estruturadas num único catálogo de crenças, e organizadas de maneira homogénea. 

O mito é o discurso capaz de explicar fenómenos, trazendo-os para uma concepção concreta, contribuindo para um sistema de figuração do mundo. 
Mas a noção de sagrado existiu na Grécia muito antes de haver uma sistematização das crenças através do mito. A cultura do mito trouxe os templos, os cultos da polis e os cultos privados. Além disso, formou-se uma nova relação entre o homem e o sagrado, ou divino, à medida que o grego caminhava para uma melhor compreensão do mundo.  

Hieros significa “sagrado” em grego antigo, e pode ser traduzido como “aquilo que não se pode tocar”. O sagrado é concebido após o homem se deparar com as forças da natureza e as que a superam, para, a partir daí, dividir a realidade entre terrena e transcendente. A partir dessa divisão, o mundo se divide entre hieros (sagrado) e não-hieros (profano). O hieros nasce como algo presente na natureza, representava as forças presentes no mundo e não estava ligado com a ideia de deuses ou pessoas. Afinal, o hieros não se tratava de uma divindade e sim de uma força presente no todo. Depois do aparecimento do mito, o hieros acaba por ser limitado e definido, o sagrado passa a ter valor simbólico concreto, como, por exemplo, em Hesíodo ao citar o monte Hélicon como algo sagrado.

O período entre os século XI a.C. e o século VIII a.C. é caracterizado pelas mudanças em diversos segmentos da vida quotidiana na Grécia, que é a Idade das Trevas Grega, precedeu o surgimento da polis, trazendo influência direta sobre a religião, que passou a possuir um caráter cívico. Este caráter cívico caracterizou-se na união das pessoas em um único espaço e no desenvolvimento de uma literatura épica, além de um fortalecimento no plano religioso através de tradições lendárias e rituais festivos. Neste tempo, que remete ao período arcaico, há o nascimento dos templos, que passam a ser considerados as primeiras construções aos deuses para além da morada do humano; a relação entre público e privado acaba tornando explícita a delimitação entre um espaço sagrado e outro profano.

Segundo as descrições de Vitrúvio, principal fonte escrita da arquitetura da Antiguidade, sabe-se que a Ordem Dórica se originou nos primeiros templos construídos em madeira, representando a força, a graça e a proporção do corpo masculino. Assim, os elementos desta ordem seriam um equivalente escultórico de uma representação esculpida em madeira, pois, gradativamente, os templos de madeira de elevada importância em relação ao sagrado, foram sendo reconstruídos em mármore. Notadamente, viu-se a necessidade de preservar as formas que julgavam estar “carregadas de santidade” e, mais tarde, ao surgirem novos templos de pedra, as cópias foram novamente transcritas, criando-se uma fórmula comum a ser seguida.


Os 
Mistérios Gregos foram tão numerosos que, para nós, é difícil enumerá-los. Cerca de 2.000 a.C., os Mistérios egípcios passaram à Grécia. Os primeiros a recebê-los foram os habitantes da ilha de Samotrácia. Desses Mistérios destacam-se as figuras dos poderosos Kabires. Esses Mistérios foram levados à Frígia pelo Iniciado Darmanus, e logo alcançaram a Itália, onde foram confiados às Vestais. Em Elêusis existiam os Maiores e os Menores. Os Iniciados desses Mistérios eram conhecidos como Eumólpides. A base dos Mistérios de Elêusis consistia de Tradições, Ritos e Princípios sagrados. Seus deuses principais foram Dionísius e Deméter. O ensinamento superior era divulgado na forma da Arte: teatro, música, poesia, dança, escultura etc. Com o passar dos tempos, esses Mistérios entraram em decadência e a maior parte dos filósofos-iniciados aderiram aos Mistérios de Mênfis, que originou os Mistérios Órficos. Orfeu, diz a tradição esotérica, foi o civilizador da Grécia. Nasceu no século VI a.C. como príncipe dos Siciones, na Trácia. Filho de Eazzo e da ninfa Calíope. A ele é atribuída a invenção da Lira, a qual aumentou o número de sete para nove cordas, pois eram nove a Musas veneradas por ele. A lenda diz que Orfeu participou da expedição dos argonautas juntamente com Teseu, Hércules e Jasão, entre outros, cujo objetivo era o de apoderarem-se do Tosão de Ouro. Com sua arte, movimentou Argos (o navio dos argonautas), impediu esses navegadores de ouvirem o canto das sereias e encorajou os seus companheiros a continuarem na aventura. 

Orfeu desceu ao Inferno para buscar a sua amada eterna Eurídice, morta pela picada de uma serpente. Com o seu canto mágico, convenceu Plutão e Perséfone a devolverem-lhe a amante. Durante o tempo que permaneceu no Hades, esta região se transformou, cessando ali seus sofrimentos. A permissão para Eurídice voltar à luz do dia tinha uma condição: que Orfeu em hipótese alguma podia ver a amada até eles abandonarem o Reino dos Mortos. Não conteve sua ansiedade e projetou o seu olhar sobre Eurídice. O que foi fatal, tendo desaparecido para sempre. Chorando a ausência de sua querida, Orfeu desconsolado, atira pelo ar a sua Lira mágica. Lá se foram os seus poderes.

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