terça-feira, 1 de outubro de 2019

Petra – Um périplo por sítios ao encontro de cidades desaparecidas [1]



Ao longo desta série de ensaios, vou percorrer sítios onde outrora floresceram cidades e civilizações que depois declinaram, restando agora apenas património arqueológico. Para estas narrativas inspirei-me em Miguel Portas e no seu Périplo Mediterrânico. Miguel Portas, no livro que publicou em parceria com o fotógrafo Camilo Azevedo Périplo 2009 – diz o seguinte: "Os bons livros no sítio certo, adquirem as cores, os cheiros e os encantos dos lugares. É assim que a narrativa é a da própria leitura, que veste a pele e o olhar do outro”. Assim, faço como ele nestas viagens imaginárias, levando na mochila um ou dois livros alusivos, dando primazia aos clássicos: Homero, Heródoto, Tucídides, Platão, Camões, Fernão Mendes Pinto…

As cidades são construídas em certos pontos porque esses locais apresentam vantagens ambientais, estratégicas ou económicas, ou porque têm algo muito forte que desperta o apelo espiritual pelo mistério, pelo sagrado. Uma grande e florescente cidade pode desaparecer de muitas maneiras. As causas podem ser humanas e/ou naturais. Se acontece alguma coisa que lhes retire a sua razão de ser, seja por fatores de ordem física e da natureza, seja por fatores de ordem humana, a cidade pode entrar, de modo mais ou menos imediato e inexorável, num processo de decadência. São os fatores de ordem humana que se verificam na maior parte dos casos, e destes, são os económicos os que mais pesam. Muitas das cidades desaparecidas têm a ver com as rotas comerciais. Um bom exemplo disso é Petra. Era um local muito importante porque, para além das condições naturais como a existência de água, originalmente combinava a facilidade das defesas naturais com as rotas comerciais que por lá passavam.

Ultimamente os historiadores estão a tomar consciência cada vez mais clara da importância dos fatores ambientais no declínio urbano. As cidades com alta densidade populacional necessitam de recursos que acabam por ter um grande impacto ambiental – água, combustíveis, matérias primas e materiais de construção – ou seja, culturas que durante milénios viveram de forma sustentável, rapidamente se depararam com problemas de ordem ambiental que se agravaram desde a 1ª Revolução Industrial, devido à adoção de modos de vida urbano altamente poluentes. 


A História nos mostra como os dias civilizatórios se sucedem às noites civilizatórias, e assim cíclica e sucessivamente segundo o princípio dos sistemas auto-organizadores, em que uma cultura ou uma civilização segue as mesmas regras de um organismo vivo. Por isso, a ideia de progresso contínuo e interminável não pode estar certa. É um mito da nossa modernidade. Estas ruinas de cidades que podemos saber como existiram, mercê de esmerados trabalhos arqueológicos, estão de novo a sofrer destruição com o risco de desaparecerem para sempre sem deixar rasto, seja por novos ataques provocados pelas alterações climáticas, seja pela negligência e maldade humana, como aliás sempre aconteceu, e continua a acontecer nos dias de hoje, como é o caso de Palmira e das estátuas gigantes de Buda às mãos do terrorismo fundamentalista islâmico.

Petra, localizada no sul da Jordânia, era originalmente conhecida como Raqmu pelos nabateus, o povo árabe que lhe deu origem. A cidade é famosa por sua arquitetura esculpida em rocha e pelo seu sistema de canalização de água. Outro nome para Petra é Cidade Rosa, devido à cor das pedras do local, nome dado por quem a descobriu em 1812, depois de um longo período de esquecimento. Em 312 a.C. era já uma cidade estabelecida, sendo a capital dos árabes nabateus


Com a designação de Mosteiro, acredita-se que o Mosteiro de Petra foi um túmulo erigido para o rei nabateu Obodas I. A semelhança com um túmulo gigante é notória, pela sua grandeza. A extensão do átrio, outrora rodeado de colunas, sugere que o espaço era usado para cerimónias sagradas. O templo com a designação atual de Mosteiro, deve o nome às cruzes esculpidas no seu interior, prova da presença de cristãos na era bizantina.

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