sábado, 5 de outubro de 2019

Micenas



Micenas - sítio arqueológico a 90 quilómetros sudoeste de Atenas, do monte onde se localiza o palácio, avista-se a Argólida. Cerca de 2.000 anos a.C. Micenas era o maior centro de uma civilização e potência militar que dominou a maior parte do sul da Grécia. É um dos muitos locais pré-Gregos herdados pelos povos Helenos que para aí imigraram vindos do nordeste da Ásia. As línguas pré-gregas mantêm-se desconhecidas, mas não há evidências que permitam excluí-las da família indo-europeia.

Durante a Idade do Bronze, o padrão na ocupação do espaço de Micenas era o de um monte fortificado rodeado de pequenos povoados rurais, em contraste com a densa urbanização da costa. Como Micenas era a capital de um estado que governou, ou dominou, grande parte do mundo mediterrânico oriental, os seus governantes terão colocado as suas fortalezas características em regiões mais remotas e menos povoadas devido ao seu valor defensivo. Já que existem poucos documentos datáveis nos sítios estudados pensa-se que, neste período, tal como o resto do território continental grego, Micenas tenha sido ocupada por povos de língua não indo-europeia que praticavam a agricultura e a pecuária entre 3.000 a.C. e 2000 a.C. Há evidências arqueológicas de ocupação do sítio, de 3.500 a 2100 a.C., ainda que deficientemente estratificados, tal como acontece para o período Neolítico.

À data convencional de 1350 a.C., as fortificações da acrópole, e dos outros montes circundantes, foram reconstruídas num estilo que ficou conhecido como ciclópico devido aos blocos de pedra usados, de tão grandes dimensões que se julgou posteriormente só poderem ter sido manejadas pelos míticos gigantes de um só olho, conhecidos como Ciclopes. Dentro destas muralhas, grande parte das quais ainda é visível, foram construídos sucessivos palácios monumentais. O palácio final, cujos vestígios podem ser admirados actualmente na acrópole, datam do início do período, terão sucedido a palácios anteriores, mas ou foram destruídos ou serviram de base para a construção de outros.

Foram encontrados em torno do mar Egeu mais vestígios, geralmente apenas o chão, de palácios construídos com características arquitectónicas semelhantes, como a existência do megaro, ou sala do trono, apresentando uma lareira central sob uma abertura no tecto, suportada por quatro colunas dispostas quadrangularmente à sua volta. O trono, contra o centro da parede ao lado da lareira, permitia uma visão desobstruída do governante a partir da entrada. As paredes de gesso e o chão eram adornadas por frescos coloridos.

A construção mais conhecida de Micenas é o Portal do Leão, que foi erguido em aproximadamente 1.250 a.C. Nesta época, Micenas provavelmente era uma cidade próspera, cujo poder político, militar e económico se estendia até Creta, Pilos, e até mesmo Tebas e Atenas. Entretanto, cerca de 1.200 a.C. o poder de Micenas declina. Durante o século XII a.C. o domínio micénico entra em colapso. Tradicionalmente, isto é atribuído a uma invasão dos Dórios, gregos do norte, embora atualmente alguns historiadores duvidem que tal invasão tenha acontecido.

A lembrança do poder de Micenas manteve-se nas mentes dos gregos durante os séculos seguintes - a Idade das Trevas. Os poemas épicos atribuídos pelos gregos de gerações posteriores a Homero preservam memórias do período micénico. 





O povo de Micenas tinha sido aconselhado por um oráculo a escolher o novo rei de entre alguém dos Pelópidas. Os dois pretendentes eram Atreu e o seu irmão Tiestes. Este foi o inicialmente escolhido. Mas, na sequência desta escolha, o sol percorreu o céu em sentido inverso, pondo-se a Este. Atreu aproveitou o fenómeno para argumentar que, tal como o caminho do sol tinha sido invertido, também a eleição o deveria ser. O argumento foi tido em conta e Atreu tornou-se rei. O seu primeiro acto foi perseguir Tiestes e toda a sua família - isto é, os seus próprios familiares, mas Tiestes conseguiu escapar. Segundo a lenda, Atreu tinha dois filhos: Agamémnon e Menelau, conhecidos por Atridas. Egisto filho de Tiestes, matou Atreu e restaurou o reinado de seu pai. Com a ajuda do Rei Tíndaro de Esparta, os Atridas conseguiram, contudo, levar Tiestes de novo para o exílio. Tíndaro, por sua vez, tinha duas filhas: Helena e Clitemnestra, que casaram, respectivamente, com Menelau e Agamémnon. Este último herdou Micenas e Menelau tornou-se rei de Esparta.

Pouco depois destes acontecimentos, Helena foi raptada por Páris, de Troia. Agamémnon conduziu, então, uma guerra de 10 anos contra Troia no intuito de a reaver para seu irmão. Devido à falta de vento, o navio de guerra onde deveria seguir a Troia não saía praticamente do porto, o que levou-os a chamar um oráculo para esclarecer o que estava acontecendo. O oráculo esclarece que quando Agamémnon matou um cervo numa floresta sagrada e se gabou de ser o melhor caçador, desagradou  Artemis e como punição Agamémnon deveria sacrificar a sua filha mais velha Ifigénia em seu altar. Climemnestra é enganada para trazer a filha com a promessa de que ela casaria com Aquiles. Ao descobrir a trama Ifigénia, diante da revolta do exército, aceita se sacrificar. A deusa da caça Artemis substituiu-a, sobre ao altar, no último momento, por uma corça levando Ifigénia para Taurida para ser sua suma sacerdotisa. Tendo as divindades ficado satisfeitas com tal sacrifício, os ventos começaram a soprar de novo e a frota partiu para Troia. 




Na Mitologia Grega Micenas teria sido fundada por Perseu, neto do rei Acrísio de Argos, pela sua filha Danae. Tendo matado acidentalmente o seu avô, Perseu não herdou o trono de Argos. Em contrapartida, procedeu à troca de domínios com o seu primo Megapentes, que ficou com Argos enquanto que Perseu passou a reinar em Tirinte. Posteriormente procedeu à fortificação de Micenas.

Perseu, casado com Andrómeda, depois de ter tido dela vários filhos, entrou em guerra com Argos, onde foi morto por Megapentes. O seu filho Electrião viu a sucessão disputada pelos Táfios, filhos de Ptérelas. Estes reclamavam para si o trono por pertencerem à linhagem dos Perseidas através do seu bisavô Mestor, irmão de Eléctrion. Como este último não abdicou aos interesses dos Táfios, estes vingaram-se procedendo ao roubo de grande parte dos rebanhos reais, que levou os filhos de Eléctrion a entrar num combate que resultou na morte de todos os contendores. Eléctrion decidiu, então, seguir para a guerra, confiando a sua filha Alcmena ao seu sobrinho Anfitrião, que lhe havia resgatado as cabeças de gado. Anfitrião, contudo, mata acidentalmente o seu tio e é obrigado a purificar-se do seu acto, seguindo para o exílio.


Conta ainda a lenda que a longa e árdua Guerra de Troia, ainda que tivesse sido, nominalmente, uma vitória para os Gregos, trouxe consigo a anarquia, pirataria e ruína para os povos envolvidos. Mesmo antes da partida da frota grega para Troia, o conflito provocou divisões entre os próprios deuses, acarretando consigo maldições e actos de vingança em torno dos heróis gregos. Depois da guerra, Agamémnon, no seu regresso, foi recebido com todas as honras, sendo de seguida morto durante o banho por Clitemnestra, que o odiava desde a altura em que este tinha ordenado o sacrifício da sua filha, Ifigénia, ainda que esta se tenha salvo posteriormente. Clitemnestra foi ajudada no seu crime por Egisto, que reinou em seguida. Mas Orestes filho de Agamémnon, conseguiu fugir para a Fócida, de onde voltou, já adulto, para assassinar Egisto e Clitemnestra. De seguida, fugiu para Atenas para fugir da justiça devido ao matricídio, passando por uma fase de loucura. Entretanto, o trono de Micenas passou para Aletes, filho de Egisto, mas não por muito tempo. Ao recuperar a sanidade, Orestes voltou a Micenas e matou-o, recuperando o trono.

Orestes construiu, então, um dos maiores estados do Peloponeso, mas morreu com a dentada de uma cobra, na Arcádia. O seu filho, Tisameno, o último da dinastia Átrida, foi morto pelos Heráclidas no seu regresso ao Peleponeso. Estes reclamavam o direito dos Perseidas de herdar os vários reinos do Peloponeso e sortear o seu domínio. Quaisquer que sejam as realidades históricas reflectidas nestas histórias, os Átridas estavam firmemente estabelecidos na época próxima do fim da Era Heróica, com a chegada dos Dórios. Não existem histórias estabelecidas sobre qualquer casa real em Micenas depois dos Átridas, o que pode refletir o facto de que não terão passado pouco mais que cinquenta a sessenta anos desde a queda de Troia VII, que teria inspirado a Troia homérica, e a queda de Micenas.

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