quinta-feira, 17 de outubro de 2019

O renascimento das cidades a partir dos séculos XII e XIII


Em 1300 a Europa atinge a plenitude do período medieval. Impunha-se um novo conceito artístico que se conjugasse com uma nova maneira de viver a cidade. A grande mudança que se verificou na sociedade europeia nos séculos XII e XIII teve como corolário o renascimento das cidades. É preciso reparar que em 1300 já tinham sido fundadas 44 universidades na Europa: Bolonha em 1119; Paris em 1155; Oxford em 1167; Salamanca em 1243; Coimbra em 1290. Isto para além da criação de novas praças públicas, palácios, conventos e hospitais.

Entre todos os modelos artísticos, a catedral tornou-se uma condição essencial de uma nova espiritualidade que acompanhasse dignamente a outra face da cidade e que tinha a ver com a fisionomia da universidade. E algumas provas desta afirmação são o estilo gótico cujo início é exemplificado aqui: Chartres em 1145; Paris em 1163; Cantuária em 1174; Reims em 1211; Amiens em 1220; Iorque em 1220; Burgos em 1221; Toledo em 1226; Westminster em 1245; Colónia em 1248. A arquitetura gótica, juntamente com o desenvolvimento urbanístico, alcançava, devido às grandes transformações económicas e sociais, um progresso jamais pensável nos séculos da segunda metade do 1° milénio d.C. 




Mas para este dinamismo arquitetónico impressionante eram precisos arquitetos e construtores altamente especializados em cantaria. Isso não teria sido possível sem cooperativas de pedreiros (passe a lembrança da Cooperativa dos Pedreiros do Porto, que foi fundada em 1914 por 10 operários especializados que trabalhavam na construção do edifício da Estação de São Bento). Eram congregações de construtores que já vinham do período das construções românicas espalhadas por toda a Europa.

É evidente que estes grupos de artistas e artífices acabariam por amadurecer plenamente quer no que respeita à sua organização, quer no que respeita ao seu pensamento. Ao contrário das demais corporações de artes e ofícios que estavam sujeitas ao controlo das autoridades municipais, os pedreiros e outras artes dedicadas à construção, por serem considerados homens-livres, não tinham a mesma submissão. Faziam parte de uma corporação cuja integração estava sujeita a uma cerimónia juramentada. Tanto em francês (maçon) como em inglês (mason), se esta palavra não for precedida da palavra “franc”, refere-se apenas a pedreiro e não tem nada a ver com qualquer ordem maçónica. Convém esclarecer que a guilda foi uma instituição que muito contribuiu para o desenvolvimento da cidade durante a época medieval. Esta era uma organização económica na qual estavam integrados vários grémios e federações, associações livres compostas por trabalhadores agrupados em diferentes disciplinas ou ofícios.

Desde tempos imemoriais que a construção de edifícios implicava uma observação precisa da natureza dos elementos materiais e dos seus comportamentos. Assim, número, medida e peso eram conceitos ligados à arte da construção que implicava, por um lado ensino e aprendizagem, mas por outro lado obrigava a guarda de segredo, porque o segredo era a alma do ofício. Daí a necessidade das lojas operativas, que quem lá entrasse era obrigado a guardar obediência a uma ordem hierárquica estável, a qual conferiria a competência numa determinada etapa profissional. Portanto, estas lojas, para ficarmos um pouco mais esclarecidos, são uma outra coisa, independentemente de terem sido ou não uma inspiração para a formação das 
lojas de maçons especulativas. As lojas operativas de pedreiros perde-se no tempo, muito para lá do tempo dos Romanos. As lojas transmitiam os conhecimentos necessários às construções, por sinal bastante complexos, relacionados com o traçado de plantas, conceitos geométricos, matemáticas que tinham sido afinal preservados por meio de uma longa e esmerada tradição. É claro que não há tradição que seja eternamente resistente ao desgaste e mudança dos tempos. E, por conseguinte tornou-se inevitável um novo alinhamento do ensino da arquitetura com a criação das universidades, cujo papel não se ficava apenas pelo diletantismo, mas que serviu de preparação para outras profissões de caráter científico. Estava-se a entrar na revolução científica da Idade Moderna. 

A partir do século XVIII a arquitetura na Europa perdeu a importância que tivera noutros tempos. E assim as lojas operativas de pedreiros perderam a sua relevância. Depois há coisas que não se sabe muito bem como acontecem, mas o que aconteceu a partir de 1717, foi um grupo de gente ilustre, culta e erudita, em Londres, ter-se apaixonado pelo espírito das antigas confrarias de construtores ao ponto de se lembrarem de manter vivas essas lojas. Assim nasceu a Maçonaria especulativa. Especulação essa (espelhamento) das práticas ritualizadas dos antigos construtores, costumes e tradições, obviamente já nada tendo a ver com construção de edifícios, mas com a modelação do espírito e das almas. E isto é como a moda, em pouco tempo começaram a acudir às lojas homens de todas as profissões e ofícios. E com o tempo proliferaram, de uma forma febril, novas interpretações filosóficas dos símbolos e ritos que as tinham caracterizado até aí.

Quando se diz que os sinais dos tempos recolocavam certas atividades – como a política, as ciências naturais e suas afiliadas, a economia e suas parentes sociais, e por aí fora como a medicina – no seu devido lugar, que era a ciência das universidades, incluía obviamente aquelas artes esotéricas cuja alquimia e magia eram paradigmáticas. Agora vejamos nomes famosos das ciências e das artes, que nos séculos XVIII e XIX aderiram participar nessas lojas maçónicas com a designação de maçons aceites, isto é, adotados, num processo de transformação da maçonaria operativa em maçonaria especulativa, correspondendo aliás ao próprio processo histórico em curso na cultura ocidental: Frédéric Auguste Bartholdi - que concebeu
 a Estátua da Liberdade que está em Nova Iorque, e o Leão de Belfort, a escultura monumental de um leão que está na cidade de Belfort, que simboliza a resistência heróica framcesa durante o cerco d Belfort no assalto prussiano de 103 dias de dezembro de 1870 a fevereiro de 1871, um evento da Guerra Franco-Prussiana; William Thornton, que projetou o Capitólio em Washington; Jean Honoré Fragonard , pintor francês do estilo rococó, exuberante e hedonista, produziu mais de dez mil pinturas; Marc Chagall, pintor e ceramista surrealista judeu russo e francês; Mozart, e a sua ópera a Flauta Mágica ; Charles Dickens, Goerhe, Condorcet, Laplace, Lavoisier, Santiago Ramón y Cajal . . .


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