Em 1300 a Europa atinge a plenitude do período medieval. Impunha-se um novo conceito artístico que se conjugasse com uma nova maneira de viver a cidade. A grande mudança que se verificou na sociedade europeia nos séculos XII e XIII teve como corolário o renascimento das cidades. É preciso reparar que em 1300 já tinham sido fundadas 44 universidades na Europa: Bolonha em 1119; Paris em 1155; Oxford em 1167; Salamanca em 1243; Coimbra em 1290. Isto para além da criação de novas praças públicas, palácios, conventos e hospitais.
Entre todos os modelos artísticos, a catedral tornou-se uma condição essencial de uma nova espiritualidade que acompanhasse dignamente a outra face da cidade e que tinha a ver com a fisionomia da universidade. E algumas provas desta afirmação são o estilo gótico cujo início é exemplificado aqui: Chartres em 1145; Paris em 1163; Cantuária em 1174; Reims em 1211; Amiens em 1220; Iorque em 1220; Burgos em 1221; Toledo em 1226; Westminster em 1245; Colónia em 1248. A arquitetura gótica, juntamente com o desenvolvimento urbanístico, alcançava, devido às grandes transformações económicas e sociais, um progresso jamais pensável nos séculos da segunda metade do 1° milénio d.C.
É evidente que estes grupos de artistas e artífices acabariam por amadurecer plenamente quer no que respeita à sua organização, quer no que respeita ao seu pensamento. Ao contrário das demais corporações de artes e ofícios que estavam sujeitas ao controlo das autoridades municipais, os pedreiros e outras artes dedicadas à construção, por serem considerados homens-livres, não tinham a mesma submissão. Faziam parte de uma corporação cuja integração estava sujeita a uma cerimónia juramentada. Tanto em francês (maçon) como em inglês (mason), se esta palavra não for precedida da palavra “franc”, refere-se apenas a pedreiro e não tem nada a ver com qualquer ordem maçónica. Convém esclarecer que a guilda foi uma instituição que muito contribuiu para o desenvolvimento da cidade durante a época medieval. Esta era uma organização económica na qual estavam integrados vários grémios e federações, associações livres compostas por trabalhadores agrupados em diferentes disciplinas ou ofícios.
Desde tempos imemoriais que a construção de edifícios implicava uma observação precisa da natureza dos elementos materiais e dos seus comportamentos. Assim, número, medida e peso eram conceitos ligados à arte da construção que implicava, por um lado ensino e aprendizagem, mas por outro lado obrigava a guarda de segredo, porque o segredo era a alma do ofício. Daí a necessidade das lojas operativas, que quem lá entrasse era obrigado a guardar obediência a uma ordem hierárquica estável, a qual conferiria a competência numa determinada etapa profissional. Portanto, estas lojas, para ficarmos um pouco mais esclarecidos, são uma outra coisa, independentemente de terem sido ou não uma inspiração para a formação das lojas de maçons especulativas. As lojas operativas de pedreiros perde-se no tempo, muito para lá do tempo dos Romanos. As lojas transmitiam os conhecimentos necessários às construções, por sinal bastante complexos, relacionados com o traçado de plantas, conceitos geométricos, matemáticas que tinham sido afinal preservados por meio de uma longa e esmerada tradição. É claro que não há tradição que seja eternamente resistente ao desgaste e mudança dos tempos. E, por conseguinte tornou-se inevitável um novo alinhamento do ensino da arquitetura com a criação das universidades, cujo papel não se ficava apenas pelo diletantismo, mas que serviu de preparação para outras profissões de caráter científico. Estava-se a entrar na revolução científica da Idade Moderna.
A partir do século XVIII a arquitetura na Europa perdeu a importância que tivera noutros tempos. E assim as lojas operativas de pedreiros perderam a sua relevância. Depois há coisas que não se sabe muito bem como acontecem, mas o que aconteceu a partir de 1717, foi um grupo de gente ilustre, culta e erudita, em Londres, ter-se apaixonado pelo espírito das antigas confrarias de construtores ao ponto de se lembrarem de manter vivas essas lojas. Assim nasceu a Maçonaria especulativa. Especulação essa (espelhamento) das práticas ritualizadas dos antigos construtores, costumes e tradições, obviamente já nada tendo a ver com construção de edifícios, mas com a modelação do espírito e das almas. E isto é como a moda, em pouco tempo começaram a acudir às lojas homens de todas as profissões e ofícios. E com o tempo proliferaram, de uma forma febril, novas interpretações filosóficas dos símbolos e ritos que as tinham caracterizado até aí.
Quando se diz que os sinais dos tempos recolocavam certas atividades – como a política, as ciências naturais e suas afiliadas, a economia e suas parentes sociais, e por aí fora como a medicina – no seu devido lugar, que era a ciência das universidades, incluía obviamente aquelas artes esotéricas cuja alquimia e magia eram paradigmáticas. Agora vejamos nomes famosos das ciências e das artes, que nos séculos XVIII e XIX aderiram participar nessas lojas maçónicas com a designação de maçons aceites, isto é, adotados, num processo de transformação da maçonaria operativa em maçonaria especulativa, correspondendo aliás ao próprio processo histórico em curso na cultura ocidental: Frédéric Auguste Bartholdi - que concebeu a Estátua da Liberdade que está em Nova Iorque, e o Leão de Belfort, a escultura monumental de um leão que está na cidade de Belfort, que simboliza a resistência heróica framcesa durante o cerco d Belfort no assalto prussiano de 103 dias de dezembro de 1870 a fevereiro de 1871, um evento da Guerra Franco-Prussiana; William Thornton, que projetou o Capitólio em Washington; Jean Honoré Fragonard , pintor francês do estilo rococó, exuberante e hedonista, produziu mais de dez mil pinturas; Marc Chagall, pintor e ceramista surrealista judeu russo e francês; Mozart, e a sua ópera a Flauta Mágica ; Charles Dickens, Goerhe, Condorcet, Laplace, Lavoisier, Santiago Ramón y Cajal . . .
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