quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Platão e a Atlântida




Um discípulo de Platão conta uma história que o mestre lhe contou, que lhe havia sido contada por um tal fulano e que dizia respeito a um relato de Sólon que por sua vez ouvira de um respeitável sacerdote egípcio: Que há muito tempo, dizia onze mil anos antes, uma ilha que ficava para lá das Colunas de Hércules (olhemos para a imagem do Estreito de Gibraltar) a que chamavam Atlântida, havia desaparecido no fundo do Oceano da noite para dia devido a um grande cataclismo. E, de facto, circulava na oralidade de Atenas que a Atlântida tinha sido no passado longínquo uma poderosa civilização de homens gigantes possuidores de riquezas incomparáveis. Quem sabia bem como isso se passou eram os navegadores fenícios ancorados no delta do Nilo, que nos périplos que faziam pelo ocidente ouviam contar às gentes de lá. 

Algo de muito especial teria havido no oceano tenebroso que ficava para lá daquele estreito entre dois colossos de rocha: de um lado a Espanha, do outro Marrocos. Porquê o misterioso mito da AtlântidaEm Atenas, no tempo de Platão, apesar de ser depois do tempo áureo de Péricles, ainda se cultivavam superstições e costumes muito estranhos. E Platão, embora detestasse o mito e a poesia, era dado aos MistériosOs mitos têm mais que se lhe diga, do que a mera fantasia positivista quer crer. Desde a Tula mexicana até aos cavalos de Fão no Atlântico junto a Esposende, que chamam a atenção para uma ilha tão abundante e tamanha em terras e rica em cavalos, que é conhecida por Atlântida. A Lenda do Reino da Atlântida e os Açores é uma lenda dos Açores que tenta dar uma explicação para a existência do arquipélago. Alguns dos habitantes da Atlântida teriam, segundo a lenda, sobrevivido à catástrofe e fugido para vários locais do mundo, onde deixaram descendentes.
O realizador canadiano James Cameron é um dos produtores executivos de “A Ascensão da Atlântida”. Foi preciso descer ao lugar mais profundo dos oceanos para fazer um documentário fascinante, que passa também pelos Açores, pelos mistérios que revelam uma ocupação humana do arquipélago muito antes da chegada oficial dos portugueses à ilha de Santa Maria em 1431. As descobertas arqueológicas que apontam para essa ocupação humana pré-portuguesa têm-se multiplicado nos últimos anos, em especial nas ilhas Terceira e do Pico, e os estudos no campo da biologia animal e vegetal entretanto publicados em revistas científicas internacionais reforçam ainda mais esta tese. 





Segundo a lenda, os atlantes civilizaram com as suas tradições, conhecimento e impulso espiritual não só a Grécia, como também o território da Itália, a Ibéria primitiva e a Ásia Menor. Se a lenda tiver um fundo de verdade, isto permitia-nos compreender a semelhança impressionante dos signos de escrita encontrados em lugares arqueológicos e culturas antigas dos mais variados pontos do planeta tais como: Glozel, em França; Alvão, em Portugal; na escrita tartéssica, ibera, fenícia, parte da cretense, etrusca, grega; nas cerâmicas de Tiawanaku, na Bolívia, nas cerâmicas funerárias das civilizações do Vale do Indo (Mohenho Daro e Harappa) e numa pirâmide Maia pré-colombiana. De acordo com a datação de alguns destes lugares arqueológicos esta escrita, com mais de seis mil anos, supera em antiguidade todas as que conhecemos. Transmitiram o seu saber das artes da agricultura, fundaram oráculos (especialmente o de Dodona) e foram cultores do Raio (Zeus) e do Fogo (Hefaístos).

«Eurínome (a Grande Peregrina) existia desde o princípio. Surgiu do Caos e ao não encontrar onde se apoiar separou o Firmamento das Águas Primordiais e começou a dançar sobre elas. Ao deslocar-se em direcção ao sul provocou o Vento Norte, que ao ser aquecido por entre as suas mãos gerou a Grande Serpente Ofion. Continuando, Eurínome provocou com a sua dança o desejo de Ofion, a qual se enroscou no corpo da Deusa envolvendo-a. De seguida, esta converteu-se numa ave e, depois de um tempo, deu à luz o Ovo Universal. Eurínome pediu então a Ofion que se enroscasse sete vezes à volta do Ovo para o incubar. A seu momento, o Ovo dividiu-se em dois, formando o Céu e a Terra, e dele nasceram todas as coisas que existiam. Eurínome e Ofion retiraram-se nesse momento para o Monte Olimpo (ou o Centro do Mundo). Ali, Eurínome, depois de arrancar-lhe os dentes e pisar-lhe a cabeça, expulsou Ofion, agastada por esta serpente ter pretendido ser a autora do Universo e desterrou-a para o Submundo. No seguimento, Eurínome criou as sete Potências planetárias custódias da Lei e a cada uma conferiu um par de guardiães: um Titã e uma Titânida.» 

Este é um fragmento da teogonia pelásguica, muito vinculada à de Orfeu e à cidade de Mênfis, do antigo Egipto. Inclui, por exemplo, os conceitos de Vida ou do Espírito universal e humano como Grande Peregrina. E a dança ritual – que também encontramos na Índia, por exemplo, no culto a Shiva – que permite a ordem no mundo.

A religião dos Pelasgos estava muito vinculada à magia dos números e às letras sagradas, com uma tríade formada por Axieros, o omnipotente, Axiokersos, o Homem Celeste, e Axiokersa, a Grande Mãe. Os Anactotelestos ou chefes dos mistérios protegiam os iniciados das tempestades, desgraças e doenças. E, nas suas cerimónias, para além da transmissão dos ensinamentos esotéricos, buscava-se a purificação e santificação da alma humana. O aspirante à iniciação nos mistérios, depois de uma preparação rigorosa e duras provas, era entronizado, rito simbólico da vitória sobre a natureza, e ao seu redor os iniciados realizavam danças circulares, evocando o movimento dos astros e da vida à volta do Eu-Consciência. Era co­roa­do com folhas de oliveira em ouro e recebia uma faixa púrpura.

O mito é uma realidade psicológica, vive numa dimensão invisível e imaterial, a dos nossos sonhos, anseios, esperanças e recordações, um cenário comum a toda a humanidade, onde os símbolos têm vida e luz própria. Ao falar de mitologia, Platão faz referência ao relato propriamente dito. Introduz a palavra logos e utiliza-a em diferentes ocasiões como se significasse o mesmo que mytus, fazendo-nos ver que existem dois modos de falar dos seres divinos e dos deuses. Há ensinamentos que Platão não considera prudente revelar abertamente nos seus livros. Mas mesmo os textos de mais fácil compreensão incluem enigmas e significados encobertos. Na República, Platão manifesta-se avesso a acreditar nas narrativas mitológicas e a fazer delas um modelo de vida, ou a deduzir delas uma moral. Platão declara-se, pois, inimigo de Homero e de Hesíodo na educação dos jovens. A filosofia platónica, que incorpora a razão e o mytus no seu sistema holístico influenciou bastante o cristianismo nascente, nomeadamente através da Escola Neoplatónica de Alexandria fundada por Amónio Sacas, no século II d.C. Além do mais Platão era um iniciado nas Escolas de Mistérios do Antigo Egito.

Volta e meia “vem-nos à memória” a Atlântida. Platão, no Crítias, um dos seus últimos diálogos cujo conteúdo descreve a guerra entre a Atenas pré-helénica e Atlântida, hipotético império ocidental e ilha misteriosa. O sofista Crítias argumenta que a Atlântida existiu num período remoto, algures "muito além dos Pilares de Hércules". Ilha mitológica que foi engolida pelo mar e se perdeu para sempre. Pouco mais se sabe da Atlântida. Alguns teóricos sugerem que Atlântida seria uma ilha sobre a Dorsal Oceânica que teria sido destruída por movimentos bruscos da crosta terrestre naquele local. Essa teoria baseia-se em supostas coincidências, como a construção de templos em forma de pirâmide na América, semelhantes às pirâmides do Egito, facto que poderia ser explicado com a existência de um povo no meio do oceano que separa estas civilizações, suficientemente avançado tecnologicamente para navegar até à África e à América para disseminar os seus conhecimentos. Esta posição geográfica explicaria a ausência concreta de vestígios arqueológicos sobre este povo. Através de diversos estudos, alguns investigadores chegaram à conclusão que Tiwanaku, localizada no planalto boliviano, seria a antiga Atlântida. Foram encontrados portos de embarcações em Tiwanaku, faltando escavar 97,5% do local.

Para alguns arqueólogos e historiadores, Atlântida poderia ser uma mitificação da cultura minoica que floresceu na ilha de Creta. Os ancestrais dos gregos, os micénicos tiveram contacto com essa civilização culturalmente e tecnologicamente muito avançada no início do seu desenvolvimento na península Balcânica. Com os minoicos, os micénicos aprenderam arquitetura, navegação e o cultivo de oliveiras, elementos vitais da cultura helénica posterior. No entanto, dois fortes terremotos e maremotos no mar Egeu assolaram as cidades e os portos minoicos, e a civilização de Creta rapidamente desapareceu. É possível que as histórias sobre este povo tenham ganho proporções míticas ao longo dos séculos, culminando com o conto de Platão.

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