terça-feira, 15 de outubro de 2019

É dinheiro em bits, mas não é bitcoins



Neste artigo de opinião de Ricardo Costa do Expresso, a propósito da pretensão de Zuckerberg, o dono do Facebook, de criar uma moeda global, diz que, Assim como era evidente que os políticos não iam gostar de perceber que as “suas” eleições podiam ser manipuláveis por terceiros, também era previsível que não iam aceitar que alguém com um poder mundial pudesse lançar uma moeda teoricamente global e dominante. Vendo o que estava a acontecer, a PayPal saltou do barco. Esta segunda-feira, foi a vez da Visa, da Mastercard e do Ebay, entre outros. A fila de empresas prontas a desistir – ou a esperar para ver – engrossa todos os dias. E as razões são simples: perceberam que os governos, os bancos centrais e os reguladores estatais vão fazer tudo para impedir que possa haver uma moeda virtual lançada por uma empresa tão poderosa.

Do dinheiro que gastei o mês passado, 90% não foi pago em papel ou metal. Foi pago em bits. Escusado será dizer que já há muito que o recebo todo em bits e nunca houve nenhum problema por causa disso. Que eu saiba, ainda ninguém conseguiu entrar no sistema bancário e colocar no saldo da sua conta mais dois ou três zeros antes da vírgula. Mas agora imagine o seguinte. Imagine que o Governo mandava a expensas do Estado depositar na conta de cada cidadão com saldo inferior a mil euros uma quantidade de bits equivalente a mais um zero antes da vírgula. Assim, tendo eu um saldo de 921,45 euros, passaria a dispor de 9210,45 euros. Ao mesmo tempo recebíamos um SMS a dizer: “Caro concidadão, por ordem do Governo o saldo da sua conta bancária foi reforçado para que possa gastar mais. Gaste à vontade, porque enquanto se diverte está a reanimar a economia, e com isso a criar mais postos de trabalho”. 

Fui à Wikipédia ver o que é Bitcoin: 

Bitcoin (símbolo: ₿; abrev ISO 4217: BTC ou XBT) é uma criptomoeda descentralizada ou um dinheiro eletrónico para transações ponto-a-ponto (peer-to-peer electronic cash system) apresentada em 2008, na lista de discussão The Cryptography Mailing por um programador ou grupo de programadores sob o pseudónimo Satoshi Nakamoto. É considerada a primeira moeda digital mundial descentralizada, constituindo um sistema económico alternativo (peer-to-peer electronic cash system), e responsável pelo ressurgimento do sistema bancário livre.
Percebeu? Eu não! 

No tempo em que o dinheiro era tangível


É o que esta tabuinha de argila, frente e verso, representa, declarando que Amil-mina pagará 330 medidas de cevada ao portador da tabuinha na época da colheita. É uma promissória do II milénio a.C., encontrada na atual Tell Abu Habbah, Iraque, numa cidade que na altura da Mesopotâmia se chamava Sippar, reinado de Ammi-ditana, 1683-1647 a.C.

Em termos de representação, não há diferença entre uma tabuinha destas e uma nota de banco dos dias de hoje. Não é mais do que uma promessa de pagamento. As notas bancárias, que foram inventadas pelos chineses no século VII, quando começaram a circular no ocidente chamavam-se “notas promissórias”.

Quando alguém troca bens tangíveis como uma galinha, ou a força do seu trabalho por uma ou duas notas de banco, o que está a fazer é a confiar que o governador do Banco Central não faça o que os espanhóis fizeram no tempo das conquistas: fabricar tantas notas ao ponto de acabarem por valerem nada.

É claro que hoje nem sequer é preciso ver o papel. O dinheiro, ao ser transferido entre contas bancárias suportadas em máquinas de silício chamadas computadores, é virtual. O que os espanhóis do tempo das conquistas não entenderam foi que o dinheiro era uma questão de confiança. Não é a tabuinha ou a nota, ou a moeda que é dinheiro. Dinheiro é a confiança registada sobre um qualquer suporte, que pode ser raro quando é de ouro ou prata.



Shekel e libra esterlina

A raiz dos nomes das moedas respetivamente de Israel e Inglaterra remontam a um tempo com cerca de quatro mil anos. Mais propriamente ao tempo em que os metais ascenderam ao poder e em que a vida em Eshunna era próspera, cidade situada onde o que é hoje Tell Asmar, Iraque, naquele tempo era Mesopotâmia


Eshunna dispunha de um corpo de leis, O Código de Eshunna, que se pensa ter precedido e dado origem a um outro código mais famoso e conhecido por Código de Hamurabi. Por exemplo, um cidadão que numa briga mordesse o nariz do outro semelhante era condenado ao pagamento de uma ‘Libra Esterlina’, que correspondia a meio quilo de prata da boa. Esterlina significa pura. Mas se a contenda se ficava por um par de estalos, quem os desse ficava obrigado a pagar apenas um sexto de uma libra esterlina, ou seja, um shekel.

É claro, uma libra dos dias de hoje, ou um shekel, não valem o que valia antigamente.



O Caso Sólon

Quando Sólon teve de optar em 594 a.C. pela injeção de dinheiro na economia, o dinheiro moeda ainda era uma invenção recente. Mas uma crise financeira em tudo semelhante às de hoje, obrigou-o a tomar medidas que naquela altura só homens de génio as podiam tomar.

Foi o comércio do trigo vindo do nordeste da Grécia a preços imbatíveis por troca de azeite e vinho gregos que provocou a ruína nos produtores de cereal na Grécia e a riqueza aos possuidores de terrenos com vinha e olival. Os lavradores endividaram-se de tal modo que tornou impraticável a solvência. E para que não se gerasse o caos em Atenas, porque os pobres queriam o perdão total das dívidas, e uma reforma agrária que lhes desse um pouco de terra com vinha e olival tirada ao outro lado, Sólon teve de atuar.




Sólon em Baixo relevo, na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos

É claro que Sólon não foi na conversa dos devedores porque sabia que ia criar problemas no lado dos donos de vinha e olival. Então optou por injetar dinheiro na economia apesar de saber que o Estado não tinha tanto dinheiro assim. E foi neste cenário que teve a ideia de génio: cunhar dinheiro falso, isto é, moedas de ouro e prata com mistura de cobre. E podia? Bem, poder poder, não podia, mas como o povo tinha uma confiança à prova de fogo nas moedas cunhadas por ele, não fazia diferença que as moedas não fossem totalmente “esterlinas”.

O plano de Sólon resultou num sucesso. Atenas surgiu não só mais forte e rica do que antes, como ganhou o caminho para a democracia que Sólon havia pavimentado.

Estação arqueológica de Dolni Vestonice


Os misteriosos três corpos do paleolítico superior, sepultados há 26.000 anos e descobertos em 1986 num já conhecido sítio arqueológico perto da moderna cidade de Brno na região da Morávia, são de um interesse extraordinário porque mostram que a Revolução Cognitiva humana começou muitos anos antes da Revolução da Agricultura há aproximadamente dez a doze mil anos.

As interpretações daquela sepultura são diversificadas quanto ao significado dos rituais funerários ali evidenciados. Mas como acompanham outros vestígios arqueológicos da mesma época, mais avançados do que a tradicional ciência até aqui supunha, indica que há 26 mil anos esta sociedade era muito avançada para os padrões de referência do desenvolvimento humano.

Foram encontrados desde restos de edifícios construídos em pedra e madeira, até milhares de estatuetas de barro junto a ossos de mamute também aos milhares a sugerir um cemitério natural de mamutes. Perto daqui também foi encontrado um forno em forma de ferradura, o que explica como as ossadas serviram de combustível necessário para o forno cozer a argila com que eram feitas as estatuetas.

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