terça-feira, 22 de outubro de 2019

Jesuitas portugueses no teto do mundo



A 30 de março de 1624, António de Andrade e Manuel Marques, padres jesuítas, partem de Agra, da corte do Mogol no norte da Índia, em direção aos Himalaias para o encontro com um reino que julgavam existir no extremo ocidental do Gugue, um dos reinos que na época formavam o império tibetano. Após uma duríssima viagem de três meses alcançam Tsaparang, designada por Andrade por Chaparangue, capital do pequeno reino.

Dentro de uma complexa teia política que opunha o rei e seu irmão, o lama principal, a entrada dos portugueses em cena agravou ainda mais as relações, pelas intrigantes questões religiosas que Andrade ali introduziu. Seja como for, a dada altura Andrade viu-se numa situação interessante, ao ser eleito pelo rei, precisamente por razões políticas, Lama Maior.




O teto do mundo

Convido-vos a dar azo à vossa imaginação, e empreendam uma viagem imaginária ao remoto Ladakh. Nestas fotos mostro-vos o Palácio de Leh, um antigo palácio real que domina a cidade de Leh, a capital histórica da região tibetana de Ladakh, atualmente parte do estado de Jammu e Caxemira, na Índia. Localizada a grande altitude, mais de 99% deste território é constituído por um deserto montanhoso. 


E apesar disso, ou por causa disso, a gente que aqui habita é detentora de um profundo sentido espiritual. Aqui estão localizados muitos dos mosteiros que tradicionalmente têm dominado a vida espiritual dos budistas de Ladakh. Leh é como se fosse uma cidade, com não mais do que 12.000 habitantes. Os outros ladakhis vivem em aldeias, alguns deles pastores nómadas, que fazem parte do chamado “mundo tibetano” que abrange cerca de seis milhões de pessoas. Atualmente Ladakh é o último reduto do Budismo Tibetano Ocidental, que tem sobrevivido na sua forma pura. 

Bardo-Thödol


Bardo-Thödol – um pequeno livro que se tem tornado nos últimos anos objeto de muitas discussões, tanto para os ocidentais como para os tibetanos. Tem sido ultimamente abordado muito a partir do ponto de vista psicológico, dado que, entre todas as religiões do globo, o Budismo é aquela que mais está direcionada para a psicologia.

Estritamente falando, segundo a tradição Budista, o termo “bardo” refere-se aos seis estados intermédios de perceção, mas também se refere ao último estado intermédio a partir da morte de uma pessoa até ao seu renascimento várias semanas depois. Daí o facto de no Ocidente este livro ser designado por “O Livro Tibetano dos Mortos”.

Várias linhagens ou escolas do Budismo vajrayano estão representadas em Ladakh e no Tibete (região autónoma chinesa do Tibete, cuja capital é Lhasa), enfatizando as diferentes divindades, textos e rituais para os mortos. Alguns mosteiros incorporam certas práticas mágicas que remontam a tempos históricos muito recuados da cultura hindu.

É claro que, como em toda a parte, nem todas as pessoas são dotadas ou vocacionadas a especulações metafísicas, pelo que se ficam pelo mais básico popular. Mas estes mosteiros trabalham com sofisticadas e intrincadas metafísicas de especulação abstrata sobre a natureza última da mente e da realidade. O Budismo, a este nível, só é completamente percebido por um pequeno escol de monges mais treinados de Ladakh.


Um agricultor que nos seus tempos de juventude cultivava nos vales batatas, nabos, cevada e trigo mourisco, agora ocupa o seu tempo a fazer as suas orações, girando a sua roda de orações murmurando mantras, e enviando a santa invocação “Omu! Mani padme hum!” à divindade compassiva protetora do Tibete. Como a sua vida, que foi boa, já vai longa, afastou-se deste mundo de ilusão e prepara-se para a inevitável “mudança de corpo” que se aproxima. Tem a ajuda do rinpoche (abade) e dos monges do mosteiro próximo, para esvaziar a sua mente e assim se soltar das amarras que ainda o ligam à “Eterna Roda da Vida”. Wangchuck não aprendeu a meditar, mas tem ido em diversas peregrinações a lugares sagrados na intenção de obter mérito religioso e melhorar o seu karma. Todavia, não acredita que após a morte seja capaz de penetrar na calma felicidade de um “Nirvana” – para além da dor.do mal, do tempo e da morte – pelo que espera por um bom renascimento.

Quando morrer, o Lama será informado e o astrólogo rapidamente se preparará para trabalhar e estabelecer o horóscopo da morte e calcular a data da cremação. Ajudá-lo-á na sua perigosa viagem através do bardo. Para isso o astrólogo realizará uma série de rituais durante esses dias para assegurar um bom resultado da jornada. A família pagar-lhe-á bem pelos seus esforços.

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