quinta-feira, 26 de setembro de 2024

A divisão entre sunitas e xiitas


A divisão entre sunitas e xiitas é uma das principais fontes de tensão no Médio Oriente, complicando as alianças e relações entre países da região, especialmente no Golfo Pérsico. Essa divisão remonta a um cisma no Islão no século VII, logo após a morte do Profeta Maomé, e continua a influenciar profundamente a política, conflitos e alianças regionais. Sunitas representam a maioria dos muçulmanos, aproximadamente 85-90% da população islâmica global. Acreditam que o sucessor legítimo de Maomé deveria ser escolhido entre seus companheiros (califas), e não necessariamente alguém de sua linhagem. Xiitas são uma minoria, concentrada no Irão, Iraque, e partes do Líbano, Síria e Bahrein. Eles acreditam que o sucessor legítimo de Maomé deveria ser Ali, seu primo e genro, e seus descendentes, formando uma linha de imãs que têm autoridade religiosa.

Essa divisão sectária se entrelaça com disputas políticas, económicas e territoriais, transformando o Médio Oriente em um campo de rivalidades entre países sunitas e xiitas. Arábia Saudita (Sunita): Como o principal país sunita e guardião das cidades sagradas do Islão – Meca e Medina – a Arábia Saudita se considera o líder do mundo islâmico sunita. Irão (Xiita): Após a Revolução Islâmica de 1979, o Irão xiita assumiu um papel de liderança no mundo xiita, promovendo uma ideologia de resistência contra o imperialismo ocidental e tentando exportar a sua revolução para outros países de maioria xiita.

Essa rivalidade regional entre os dois países tem repercussões profundas em vários conflitos no Médio Oriente onde ambos apoiam fações opostas. Síria: O Irão apoia o governo de Bashar al-Assad, um alauita aliado dos xiitas. Enquanto a Arábia Saudita apoiou grupos rebeldes sunitas. Iémen: A Arábia Saudita está envolvida diretamente na guerra contra os rebeldes houthis (xiitas) no Iémen, que são apoiados pelo Irão. Líbano: O Irão apoia o Hezbollah, uma poderosa milícia xiita no Líbano, enquanto a Arábia Saudita apoia fações sunitas dentro da política libanesa.

Bahrein: É um exemplo clássico da tensão entre xiitas e sunitas. O Bahrein tem uma população xiita maioritária, mas é governado por uma monarquia sunita, apoiada pela Arábia Saudita. Durante os protestos da Primavera Árabe em 2011, a Arábia Saudita enviou tropas para o Bahrein para ajudar o governo a reprimir os protestos da maioria xiita, temendo que o Irão pudesse influenciar o movimento.

Iraque: Após a invasão dos EUA em 2003 e a queda de Saddam Hussein, um sunita, o Iraque passou por um processo com cada vez mais xiitas a fazerem parte do poder, com o poder a ser transferido para a maioria no Iraque que é xiita. Isso levou a conflitos sectários, com insurgências sunitas como o surgimento do ISIS (Estado Islâmico), um grupo extremista sunita, combatendo o governo xiita apoiado pelo Irão.

Embora o Qatar seja um país de maioria sunita, ele mantém uma política externa independente. Mas o Qatar tem uma história pregressa de conflitos com a Arábia Saudita. O Qatar tem estabelecido maiores laços de proximidade com o Irão, e compartilha um campo de gás com ele. Além disso mantém diálogo com grupos islâmicos como a Irmandade Muçulmana, que a Arábia Saudita considera uma ameaça. Esse desentendimento levou ao bloqueio diplomático de 2017, quando a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, Bahrein e o Egito cortaram laços com o Qatar, acusando-o de apoiar o terrorismo e se alinhar ao Irão.

O Hezbollah, apoiado pelo Irão, é uma poderosa milícia xiita que exerce enorme influência política e militar no Líbano. A Arábia Saudita, por outro lado, apoia fações sunitas no país e tenta limitar a influência iraniana por meio de alianças com políticos libaneses. Além do mais protagoniza sanções contra o Hezbollah.

A Turquia, embora sunita e tradicionalmente alinhada ao bloco sunita, também segue uma política externa independente, sem que , contudo, não consiga evitar as tensões geradas com países do Golfo. O apoio turco à Irmandade Muçulmana, bem como a sua intervenção na Síria e na Líbia, complicou as relações com a Arábia Saudita e com os Emirados Árabes Unidos.

Omã: Adota uma postura neutra e mantém boas relações tanto com o Irão como com os países sunitas. É frequentemente visto como um mediador nas tensões regionais. E o Kuwait, apesar de ser sunita, mantém relações relativamente equilibradas com o Irão, principalmente devido à sua própria minoria xiita e às preocupações com a estabilidade regional.

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