domingo, 22 de setembro de 2024

Muitos dos problemas enfrentados pela Palestina derivam da falta de soberania plena

 

Após a Primeira Guerra Mundial, a Palestina foi colocada sob mandato britânico. Entretanto, estávamos em 1917, e o Reino Unido, com a Declaração Balfour, expressava o apoio à criação de um "lar nacional" para o povo judeu na Palestina sem considerar adequadamente os direitos da população de etnia árabe que ali vivia, na Palestina desde o tempo do Império Otomano. Mal os judeus declaravam a criação do Estado de Israel em 1948, e os países árabes ali à volta encetavam uma guerra com a invasão dos territórios onde hoje é Israel. Os israelitas no fim saíram vencedores, o que subsequentemente levou à expulsão e deslocação de centenas de milhares de palestinos refugiados que ficou conhecido como Nakba. 

A ocupação israelita dos territórios, onde anteriormente viviam palestinos, incluía a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental, que se consolidou depois com a Guerra dos Seis Dias em 1967, guerra essa também iniciada por pare dos países árabes. Depois de muitos anos com Arafat, a OLP e a Fatah, só muito mais tarde os palestinos se viram divididos com duas lideranças - os herdeiros da Fatah de Arafat na Cisjordânia com sede em Ramallah com a sua Autoridade Palestiniana; e o Hamas governando a Faixa de Gaza de forma efetiva desde 2006, após um escrutínio eleitoral, que ganhou, mas não reconhecido por Israel, nem pela União Europeia, nem pelos EUA. Essa divisão interna obviamente enfraqueceu a capacidade dos palestinos negociarem a soberania plena, e resistir à ocupação de maneira unificada, tanto mais porque o Hamas era reconhecido como uma organização terrorista com o apoio do Hezbollah do Líbano e a conivência do Irão e mais alguns proxies. 

A comunidade internacional tem desempenhado papéis variados ao longo do conflito. Enquanto alguns países, como os EUA, têm historicamente apoiado Israel, outros têm defendido os direitos palestinos. No entanto, as várias tentativas de mediação, incluindo os Acordos de Oslo, não conseguiram levar a uma solução duradoura, e muitos criticam a falta de ação efetiva para resolver a situação. A violência de ambos os lados, incluindo ataques terroristas contra civis israelitas e a repressão militar de Israel contra palestinos, tem alimentado o ciclo de ódio e retaliação, dificultando qualquer avanço em direção à paz. Assim, a "culpa" pelo estado atual da Palestina é difusa e deve ser entendida como o resultado de uma série de decisões, ações e inações ao longo de décadas por parte de diversos atores, tanto locais como internacionais.

A ideia de que o "Outro" que compete por território é um inimigo é uma perspectiva que tem raízes profundas na história da humanidade. Desde tempos antigos, grupos humanos competem por recursos limitados, como terra, água e alimentos, o que muitas vezes leva a conflitos. Esse instinto de sobrevivência e competição pode levar à visão de que só pode haver um vencedor, especialmente quando se trata de disputas territoriais. No entanto, a história também mostra que não precisa ser sempre assim. Existem exemplos de cooperação, negociação e coexistência pacífica entre diferentes grupos, mesmo quando há competição por recursos. A capacidade de resolver conflitos de maneira pacífica, por meio de diálogo e compromisso, é também parte da natureza humana. Daí que muitos ainda não tenham desistido de advogar a existência de dois Estados como a melhor solução para o atual conflito entre palestinos e israelitas. Será a solução mais digna para a coexistência pacífica de dois povos numa região de passagem de impérios ao longo de três milénios, e onde nunca existiu paz de forma duradoura. O desafio é encontrar um caminho que reconheça e respeite as aspirações e direitos de todos os envolvidos, algo que é difícil, mas não impossível.

Em última análise, a visão de que "só dá para um" é um reflexo de uma abordagem competitiva e muitas vezes limitada, enquanto existem alternativas que podem ser exploradas para criar um futuro mais inclusivo e pacífico. Historicamente, a esquerda, especialmente a esquerda mais radical, tem mostrado mais simpatia pela causa palestiniana. Isso se deve a fatores como a oposição ao colonialismo, ao imperialismo e ao apoio a movimentos de libertação nacional. Muitos na esquerda veem o conflito da Palestina sob a lente da opressão e da luta do povo palestiniano contra um ocupante, que é Israel. Por outro lado, a direita, particularmente nos Estados Unidos e na Europa, tende a apoiar Israel. Isso pode ser atribuído a razões religiosas (especialmente entre os evangélicos cristãos), alianças estratégicas e a percepção de Israel como um aliado na luta contra o extremismo islâmico e o terrorismo. Além disso, setores da direita veem Israel como um exemplo de um Estado democrático de cariz ocidental em uma região maioritariamente árabe e muçulmana.

A Palestina é reconhecida como um Estado por mais de 130 países nas Nações Unidas. No entanto, a Autoridade Palestiniana não possui controlo total sobre o seu território, que está dividido entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, com significativas porções sob ocupação militar israelita. Além disso, a Palestina não possui controlo efetivo sobre as suas fronteiras, espaço aéreo ou recursos naturais. De modo que, por tudo isso, a governança palestiniana é complexa e fragmentada. A Autoridade Palestiniana governa partes da Cisjordânia, enquanto o Hamas controla a Faixa de Gaza. Esta divisão interna, combinada com a ocupação por parte de Israel, e as restrições económicas e políticas, dificulta a criação de um governo unificado e eficiente. A economia palestiniana é extremamente dependente de ajuda internacional e da economia protagonizada por Israel. A ocupação, as barreiras ao movimento e a falta de controlo sobre recursos vitais limitam o desenvolvimento económico, criando desafios adicionais para a construção de um Estado funcional. É por isso que muitos vaticinam que um Estado Palestino será sempre um estado falhado.

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