segunda-feira, 23 de setembro de 2024

A Integração da morfogénese com a Fenomenologia em Jean Petitot



Jean Petitot, ao dar continuidade ao trabalho de René Thom, aprofundou a compreensão da relação entre a matemática das formas e os fenómenos naturais, particularmente no contexto da fenomenologia e da morfodinâmica. Petitot introduziu uma nova abordagem para lidar com as transições qualitativas em sistemas complexos, levando a teoria das catástrofes de Thom a uma nova direção, ao integrar ideias da física e da fenomenologia, especialmente a fenomenologia de Merleau-Ponty. Isso ampliou o escopo da teoria das formas e transições, conectando-a não apenas à biologia, mas também à perceção e à cognição.

Jean Petitot ampliou o escopo da Teoria das Catástrofes de René Thom ao aplicar seus conceitos de maneira inovadora à percepção, à cognição e à formação de formas no desenvolvimento biológico. A física da fenomenalidade e a morfodinâmica trazem uma compreensão mais ampla de como formas e estruturas emergem, mudam e são percebidas. Ao combinar as ferramentas da matemática com a fenomenologia e a biologia, Petitot ofereceu uma abordagem multidimensional para entender tanto a realidade objetiva quanto a subjetiva, mostrando que há uma continuidade formal entre a maneira como o mundo é estruturado e como ele é experimentado.

Jean Petitot explorou a ideia da física da fenomenalidade, que envolve a aplicação de modelos matemáticos para descrever a experiência fenomenal — ou seja, a maneira como percebemos o mundo e a forma como a experiência se estrutura. Ao adotar a perspetiva da fenomenologia de Merleau-Ponty, Petitot defendeu que os fenómenos perceptuais têm uma base estrutural que pode ser modelada matematicamente. Isso significa que a forma como percebemos as coisas, como a continuidade de um objeto ou a transição de cores, não é apenas uma questão subjetiva, mas segue padrões que podem ser descritos de maneira formal. Petitot argumenta que a percepção humana tem uma geometria própria, e que as estruturas que emergem na consciência podem ser descritas de maneira similar às transições que Thom descreveu em sistemas físicos e biológicos. Dessa forma, a percepção de um objeto ou uma forma é vista como uma transição qualitativa, onde padrões invariantes surgem da interação entre o observador e o mundo. Aqui, a matemática das catástrofes é usada para descrever como pequenas mudanças no estímulo sensorial podem resultar em uma reorganização drástica na percepção — como quando um objeto ambíguo subitamente "muda" de forma na nossa mente.

A morfodinâmica é uma extensão da teoria de Thom que Petitot elaborou para lidar com a complexidade das formas vivas em evolução e desenvolvimento. Ela se concentra em como formas emergem e se transformam dinamicamente ao longo do tempo. Em vez de focar apenas nos estados finais de uma forma ou estrutura, Petitot estava interessado nos processos contínuos de mudança que moldam as formas. A morfodinâmica é essencialmente a matemática das formas em movimento — descreve como uma forma se desenvolve a partir de uma configuração inicial e se transforma em outra ao longo do tempo. Petitot argumenta que essas transições são regidas por princípios físicos e matemáticos que podem ser modelados como campos de forças e fluxos. Ele estudou esses processos no contexto da biologia, mostrando como as forças de crescimento e de desenvolvimento atuam de maneira similar às transições catastróficas de Thom.

Petitot aplicou essas ideias para explicar como organismos desenvolvem suas formas de maneira robusta, apesar de perturbações, e como esses processos podem ser descritos por equações diferenciais e modelos geométricos. A morfodinâmica não só descreve as formas finais, mas também o "caminho" que as formas percorrem em seu desenvolvimento — tanto no nível dos organismos quanto dos processos perceptivos.

Petitot foi pioneiro ao tentar construir uma ponte entre a fenomenologia — a ciência que estuda a experiência subjetiva da percepção — e a matemática das catástrofes. Ele propôs que muitos fenómenos perceptuais, que antes eram entendidos como exclusivamente subjetivos, podem ser descritos em termos de geometria e topologia. Ele argumentou que a estrutura da percepção tem uma base formal que é parcialmente independente das variáveis puramente psicológicas ou neurológicas. Aqui, a fenomenologia se conecta diretamente com a morfogénese. A formação de uma percepção não é uma "imagem" simples do mundo, mas sim o resultado de processos dinâmicos que podem ser descritos usando as ferramentas da física e da matemática. Petitot buscou capturar esses processos em termos formais, sugerindo que há uma continuidade entre a maneira como as formas emergem no mundo físico e a forma como as percebemos subjetivamente.

Assim como na morfogénese, onde a forma de um organismo se desenvolve ao longo do tempo, Petitot sugeriu que a própria experiência perceptual tem uma estrutura temporal dinâmica. Ou seja, nossa percepção das coisas no mundo também passa por transições qualitativas e pode ser descrita por modelos similares aos da morfodinâmica. Jean Petitot foi um dos primeiros a explorar o uso da matemática para descrever não só fenómenos físicos, mas também processos cognitivos e perceptivos. A ideia de que a cognição segue padrões dinâmicos que podem ser modelados matematicamente representa uma nova abordagem na tentativa de descrever a mente. Petitot propôs que a cognição humana, como a percepção, envolve transições qualitativas, onde mudanças pequenas em um input sensorial ou conceptual podem resultar em reorganizações cognitivas significativas.

Um dos aspetos mais inovadores da obra de Petitot foi a tentativa de aplicar a Teoria das Catástrofes a fenómenos psicológicos, como a resolução de ambiguidade perceptual. Ele usou os modelos catastróficos para descrever como a mente pode, por exemplo, alternar abruptamente entre duas interpretações de um estímulo ambíguo (como as famosas figuras de ilusão óptica). Esses "saltos" na percepção são analogias das catástrofes físicas descritas por Thom, mas aplicados ao campo da psicologia da percepção. Em última instância, a obra de Jean Petitot reflete uma tentativa de unir a física, a biologia, a fenomenologia e a matemática – A Continuidade da Forma no Mundo Natural – para entender melhor como formas e estruturas emergem e se transformam no mundo natural e na mente humana. A morfodinâmica serve como uma estrutura para entender a continuidade e a mudança, tanto nos sistemas vivos quanto nos processos cognitivos. Ao integrar as abordagens de Thom e Merleau-Ponty, Petitot trouxe uma nova luz sobre a emergência da forma como um fenómeno fundamental, tanto no mundo físico quanto no domínio da experiência.

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