O Médio Oriente é muito confuso quando queremos saber quem apoia quem, quem são os inimigos, as fações de conveniência, as famílias árabes. Por exemplo, quem foi Abdul-Aziz Al Saud [1875 – 1953], também conhecido como Ibn Saud? Ele foi o fundador e primeiro rei da Arábia Saudita, uma figura central na história moderna do Médio Oriente, responsável pela unificação das várias tribos e regiões da Península Arábica no início do século XX, estabelecendo o Reino da Arábia Saudita em 1932.
Abdul-Aziz Al Saud pertencia à dinastia Al Saud, que teve várias fases de poder e declínio antes de sua ascensão. A família Saud já havia governado partes da Arábia no século XVIII e XIX, mas havia sido expulsa pelos rivais. Abdul-Aziz conseguiu unificar a região do Négede (sua terra natal) com o Hejaz (onde ficam as cidades sagradas de Meca e Medina) e outras áreas adjacentes, consolidando um reino vasto e rico em petróleo.
O Négede, literalmente "serra", "terra alta", é a região central da Península Arábica. Corresponde a um planalto com elevações entre 762 e 1525 m acima do nível do mar. A porção oriental da região é habitada por beduínos. A cidade mais importante da região do Négede é Riade, capital da Arábia Saudita.
O Rei Khalid (1975–1982) foi uma figura mais passiva em termos de política interna, mas ele teve sucesso em manter a estabilidade e continuidade do governo saudita. Ele manteve a aliança fundamental entre a família Saud e os líderes religiosos wahhabitas. Durante o seu reinado, ocorreram eventos importantes como a ocupação da Grande Mesquita de Meca por extremistas islâmicos em 1979, que abalou o reino. A crise foi resolvida, e Khalid, juntamente com outros líderes, conseguiu preservar a legitimidade do regime. Sua morte em 1982 levou à ascensão pacífica de Fahd, seu meio-irmão.
O Rei Fahd, que reinou entre 1982 e 2005, é lembrado por promover a modernização do reino e por fortalecer laços com o Ocidente, particularmente com os Estados Unidos. Ele adotou o título de Guardião das Duas Mesquitas Sagradas, reforçando a importância da Arábia Saudita no mundo islâmico. O seu reinado viu a Guerra do Golfo de 1991, quando a Arábia Saudita permitiu que tropas americanas se estacionassem no país para repelir a invasão iraquiana do Kuwait. Isso provocou críticas de setores islamitas radicais, mas Fahd conseguiu manter o controlo. Nos últimos anos de seu reinado, devido a problemas de saúde, Fahd transferiu muitas de suas competências para seu meio-irmão Abdullah, preparando uma sucessão suave e sem conflitos.
O Rei Abdullah, que reinou de 2005 a 2015, embora conservador, introduziu reformas importantes no sistema económico e social saudita, tentando equilibrar a modernização com as expectativas tradicionais. Ele foi responsável por iniciativas como a criação da Universidade Rei Abdullah de Ciência e Tecnologia (KAUST) e algumas reformas limitadas em áreas como a educação e o papel das mulheres na sociedade. Durante a Primavera Árabe (2011), Abdullah conseguiu manter a Arábia Saudita estável ao lançar um grande pacote de subsídios e benefícios económicos para acalmar possíveis descontentamentos internos. Após a sua morte em 2015, a transição para Salman ocorreu de maneira tranquila, refletindo a eficácia do sistema de sucessão saudita.
A estabilidade da Arábia tem sido bem gerida com estratégias que se prendem com a sucessão e com alianças com os líderes religiosos Wahhabitas. Desde o reinado de Abdul-Aziz, a família Saud tem mantido uma aliança estratégica com os líderes religiosos wahhabitas, que dão legitimidade ao regime em troca de manter uma política interna conservadora. Isso ajudou a neutralizar muitos desafios de legitimidade religiosa. A Arábia Saudita estabeleceu uma tradição de compartilhar poder entre diferentes ramos da família Al Saud, mantendo um equilíbrio entre os filhos de Abdul-Aziz e seus descendentes. Isso foi fundamental para evitar conflitos internos significativos. Por outro lado, a abundância de recursos petrolíferos tem permitido que os monarcas sauditas comprem lealdades internas e externas, assegurando o apoio das tribos, elites políticas e militares, além de oferecer benefícios à população, especialmente durante as crises. Os monarcas sauditas sempre foram cuidadosos em manter boas relações com potências ocidentais, especialmente os Estados Unidos, enquanto vão tentando ao mesmo tempo não antagonizar demais os vizinhos regionais.
Recapitulando, Salman bin Abdulaziz Al Saud é o atual rei da Arábia Saudita, desde 2015, guardião dos Lugares Santos e chefe da Casa de Saud. Foi vice-governador de Riade e mais tarde, governador de Riade, de 1963 a 2011. Foi então nomeado ministro da Defesa. Ele também foi nomeado príncipe herdeiro em 2012, após a morte de seu irmão Nayef bin Abdulaziz. Salman sucedeu a seu meio-irmão, Abdullah. Suas principais iniciativas como rei incluem a intervenção saudita na Guerra Civil do Iémen. Um decreto de 2017 permite que as mulheres sauditas conduzam automóveis. Seu filho, o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman, é considerado o governante de facto da Arábia Saudita, e liderou muitas reformas no país, além de se ter envolvido em várias controvérsias, incluindo a prisão de membros da família real saudita, em 2017, e o assassinato de Jamal Khashoggi.
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