segunda-feira, 23 de setembro de 2024

África hoje perante as mudanças climáticas





Muitos países africanos já enfrentam dificuldades económicas, o que limita a sua capacidade de se adaptar às mudanças climáticas. A falta de recursos financeiros, tecnológicos e institucionais significa que esses países podem não ter os meios para implementar soluções como irrigação eficiente, agricultura sustentável ou infraestrutura urbana resiliente ao clima.

Com o aumento das temperaturas, a agricultura — que é uma fonte de subsistência para grande parte da população africana — será gravemente impactada. Secas prolongadas podem levar à perda de colheitas, à desertificação de terras agrícolas e à escassez de água potável. Isso resultará em insegurança alimentar e migrações em massa, exacerbando conflitos já existentes.

O stresse causado pelas mudanças climáticas pode intensificar os conflitos internos e regionais. A luta por recursos como água e terras férteis pode levar a guerras civis, deslocamento de populações e crises humanitárias em grande escala. A instabilidade política em algumas regiões pode dificultar ainda mais a implementação de medidas de mitigação e adaptação ao clima. A África será uma das regiões mais afetadas pela migração climática. Milhões de pessoas podem ser forçadas a deixar suas terras devido à degradação ambiental, buscando refúgio em áreas urbanas ou mesmo em outros continentes. Isso pode gerar novas tensões sociais e políticas, tanto nas áreas de origem como nos destinos dos migrantes.

Apesar do foco crescente nas mudanças climáticas em fóruns globais, muitas vezes as promessas de ajuda financeira e tecnológica para regiões como a África não se materializam da forma necessária. Países mais ricos, historicamente responsáveis por maior parte das emissões de gases de efeito estufa, têm uma responsabilidade moral de ajudar as nações mais vulneráveis a se adaptarem, mas essa ajuda pode ser insuficiente e lenta. Dado o impacto desigual das crises, será crucial observar como as políticas internacionais podem tentar mitigar essas tragédias, especialmente através de financiamento climático e iniciativas de adaptação. No entanto, é trágico que muitas populações possam enfrentar grande sofrimento enquanto os países mais desenvolvidos conseguem superar suas crises.

As boas vontades em ajudar surgirão, mas para sermos realistas não há possibilidade de produzir riqueza de uma dimensão incomensurável A avaliação realista resulta de um entendimento claro das limitações globais. Embora as boas vontades e os compromissos internacionais certamente surjam — e já existem em iniciativas como o Acordo de Paris e promessas de financiamento climático —, a verdade é que os recursos globais são finitos, e a produção de riqueza em uma escala necessária para enfrentar as crises em países vulneráveis, como os da África, é praticamente impossível de ser alcançada com a rapidez e intensidade exigidas.

Mesmo que as economias dos países desenvolvidos cresçam e continuem a criar riqueza, a redistribuição dessa riqueza em uma escala suficiente para compensar as disparidades globais seria politicamente difícil. O apoio financeiro às nações mais vulneráveis pode esbarrar em interesses nacionais, desacordos políticos e resistências domésticas, especialmente em tempos de recessão ou crises internas nos próprios países ricos. A produção de riqueza global, mesmo quando bem-intencionada, frequentemente não chega àqueles que mais precisam devido à ineficiência institucional, corrupção e má gestão em vários países recetores. Além disso, a infraestrutura necessária para distribuir ajuda de forma eficaz pode não estar presente em regiões remotas e empobrecidas. O fluxo de riqueza não é suficiente sem estruturas sólidas de governança e transparência.

Com o agravamento da crise climática, haverá uma competição ainda maior pelos recursos globais, tanto nos países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos. A escassez de água, alimentos e energia afetará Norte e Sul global, e isso pode levar a uma priorização dos interesses nacionais e regionais. A tendência será que cada nação cuide de si própria antes de expandir recursos em ajuda internacional. Mesmo quando os países mais ricos oferecem ajuda, essa assistência frequentemente vem com condições, que podem ser políticas ou económicas. Além disso, a ajuda financeira e o desenvolvimento dependente tendem a criar uma dependência crónica em vez de soluções sustentáveis para a criação de riqueza e desenvolvimento local. Essa armadilha da dependência pode, a longo prazo, limitar a capacidade das populações mais vulneráveis de superar suas crises.

Estamos num ponto em que o próprio modelo de crescimento económico está sendo questionado, dado o impacto ambiental e as limitações dos recursos naturais. O "crescimento infinito" em um planeta com recursos finitos é uma contradição que se torna cada vez mais evidente. Isso significa que, mesmo que as economias mais ricas tentem gerar mais riqueza, elas o farão dentro de limites ambientais que podem restringir o volume de recursos disponíveis para ajudar outros países. A divisão económica entre o Norte global (países desenvolvidos) e o Sul global (países em desenvolvimento) é um desafio estruturante que torna qualquer redistribuição de riqueza uma tarefa gigantesca. As crises ambientais, políticas e sociais na África e em outras regiões vulneráveis exacerbam essa desigualdade, dificultando a construção de uma solução inclusiva.

No final, as boas intenções são importantes, mas insuficientes. A solução não virá simplesmente de uma enorme injeção de riqueza global, até porque essa riqueza é limitada e a competição por recursos se intensifica. O mais provável é que vejamos iniciativas regionais, soluções locais e adaptações comunitárias se tornarem cada vez mais cruciais para a sobrevivência e para uma forma de mitigação das tragédias climáticas e sociais. O caminho será de adaptação e acomodação progressiva, mas com limitações severas.

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