quarta-feira, 18 de setembro de 2024

A vitória dos ortodoxos sunitas (As Salaf) sobre os mutazilitas



A viragem foi significativa, quando os ortodoxos sunitas (particularmente os seguidores da tradição salaf) ganharam predominância sobre os mutazilitas. Isso ocorreu durante o reinado do califa Al-Ma'mun, e seus sucessores, no início do século IX. Este período marcou uma transformação crucial na política e na teologia islâmica. Os mutazilitas faziam parte de uma escola teológica islâmica que promovia o racionalismo, pondo ênfase na razão e na lógica. Eles acreditavam no livre-arbítrio, e na importância da razão para a boa interpretação dos textos islâmicos.

Durante o reinado de Al-Ma'mun (813 - 833) os mutazilitas dominavam o cenário intelectual e teológico do Império AbássidaAl-Ma'mun [786 - 833], foi o sétimo califa abássida. Ele havia sucedido o meio-irmão Al-Amin após uma guerra civil, durante a qual a coesão do califado abássida foi enfraquecida por rebeliões e pela ascensão de homens fortes locais; Grande parte de seu reinado doméstico foi consumido em campanhas de pacificação. Bem-educado e com um interesse considerável em erudição, Al-Ma'mun promoveu o Movimento de Tradução, o florescimento das ciências em Bagdade e a publicação do livro de al-Khwarizmi agora conhecido como "Álgebra". Ele é conhecido por ter aprisionado o imã Ahmad ibn Hanbal, e aumentado a perseguição religiosa (mihna), e pela retoma da guerra em larga escala com o Império Bizantino.

O movimento atingiu o auge político durante o período de 18 anos (833-851) onde os estudiosos religiosos eram punidos, presos ou até mortos, a menos que se conformassem com a doutrina Mutazila, até que foi revertida por al-Mutawakkil. Os aglábidas (800-909 dC) também aderiram ao mutazilismo, que impuseram como a doutrina estatal de Ifríquia. Da mesma forma, as principais figuras da elite do movimento de tradução greco-árabe durante o reinado de al-Hakam II (r. 961–976) eram seguidores do Mutazila. O mutazilismo também floresceu até certo ponto durante o governo dos buídas (934-1062) no Iraque e na Pérsia.

A vitória dos ortodoxos sunitas consolidou a visão tradicional do islamismo, que enfatizava a adesão aos ensinamentos e práticas dos primeiros muçulmanos (salaf) e a importância da tradição (hadith) e da jurisprudência sunita. Esse período de mudança também teve um impacto duradouro na teologia e na filosofia islâmica, com a ortodoxia sunita estabelecendo-se como a principal corrente dentro do Islão, enquanto os mutazilitas e outras escolas racionalistas perderam o seu prestígio e influência. Em resumo, a viragem em favor dos ortodoxos sunitas sobre os mutazilitas ocorreu principalmente durante o início do século IX, com a mudança de políticas dos califas abássidas e a subsequente restauração da ortodoxia sunita sob os califas de finais do século IX.

Al-Ghazali condenou todos aqueles como Avicena que queriam ler o Alcorão de forma racionalista e crítica, e não literalista. O filósofo e teólogo islâmico Al-Ghazali (1058-1111) desempenhou um papel crucial na crítica ao racionalismo e à abordagem filosófica que se distanciava da ortodoxia islâmica, particularmente a que era promovida por filósofos como Avicena (Ibn Sina). Al-Ghazali é conhecido por sua oposição ao racionalismo e à interpretação filosófica do Corão, que ele via como uma ameaça à ortodoxia islâmica.

"Tahafut al-Falasifa" (A Incoerência dos Filósofos) é a obra mais famosa de Al-Ghazali neste contexto de crítica ao Racionalismo e à Filosofia de matriz helenística. É uma crítica aos filósofos, em especial 
Avicena e Al-Farabi. Al-Ghazali argumentou que suas abordagens racionalistas e filosóficas levavam a conclusões que eram incompatíveis com os ensinamentos do Corão e da Sunnah (tradição do Profeta Muhammad). Avicena e outros filósofos da época usavam a filosofia aristotélica e a lógica para interpretar e analisar questões teológicas e metafísicas. Al-Ghazali contestava essa abordagem, alegando que ela comprometia a fé islâmica ao aplicar a razão humana de uma maneira que podia contradizer ou reinterpretar os princípios fundamentais do Islam.

A abordagem ortodoxa era literalista, o que se perpetuou até aos nossos dias. Al-Ghazali defendia uma interpretação mais ortodoxa e literalista do Corão e dos hadiths. Ele acreditava que a verdadeira compreensão do Islam deveria ser baseada na revelação divina e na tradição, não na razão filosófica. Para ele, a filosofia e o racionalismo poderiam levar a erros teológicos e heresias. Al-Ghazali teve um impacto profundo na teologia islâmica, ajudando a reforçar a ortodoxia sunita e influenciando o desenvolvimento do pensamento islâmico ao enfatizar a importância da fé e da tradição sobre a razão filosófica. A sua influência foi duradoura. O trabalho de Al-Ghazali teve uma influência duradoura no pensamento islâmico. Ele ajudou a moldar a direção da teologia sunita e desencorajou a influência da filosofia racionalista nas escolas de pensamento islâmico. Seus escritos continuaram a ser estudados e discutidos no mundo islâmico por séculos.




O edifício Harouniya em Tus, onde uma placa de mármore foi encontrada em sua entrada com a inscrição em persa "Bayad Bud Imam Muhammad Ghazali", que significa "Lembrança do Imam al-Ghazali". Tus é uma cidade histórica e arqueológica no Irão hoje chamada Mashhad al-Reza. Foi uma das maiores cidades antigas de Khorasan até ao ataque e demolição mongol, e depois nunca mais voltou ao que era antes; A área chamada hoje Tus era a maior cidade de toda a área circundante no século V.

Portanto, Al-Ghazali condenou as interpretações filosóficas e racionalistas do Corão que se afastavam da tradição ortodoxa, representada por Avicena e outros filósofos. Seu trabalho foi um ponto de inflexão significativo na teologia islâmica, sublinhando a importância de uma abordagem que valorizava a revelação e a tradição acima da razão filosófica.

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