segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Questões à volta do antirracismo


O debate sobre o impacto das ações antirracistas promovidas por setores da extrema esquerda americana é complexo e multifacetado. Mas o excessivo alarido antirracista por parte da extrema esquerda americana, em vez de ajudar, pode prejudicar. Existem argumentos por parte de quem é acusado de racista, de forma injusta, que vale a pena considerar. Abordagens agressivas, e às vezes punitivas, polarizam ainda mais a sociedade. Isso pode criar uma resistência ainda maior entre aqueles que se sentem atacados injustificadamente, dificultando o diálogo construtivo. Alguns argumentam que a ênfase excessiva nas narrativas de vitimização pode enfraquecer a autonomia e a agência daqueles que verdadeiramente são discriminados. A promoção de uma mentalidade de dependência não é benéfica para quem do que precisa é de resiliência e autossuficiência. Além de que a retórica extremista desvia a atenção de questões práticas e imediatas que afetam as comunidades mais desfavorecidas. Essas comunidades precisam de mais integração no sistema escolar e de educação, proteção do emprego e segurança, e de menos discussões ideológicas pouco tangíveis.

Tudo isso não significa que os governos não tenham de utilizar certos meios para trazerem mais visibilidade desta questão para a discussão pública. Isso pode ajudar a criar uma maior consciência na opinião pública que ainda há muita coisa que é necessário mudar para que o processo de integração de algumas comunidades se faça de uma forma mais saudável. Tais mudanças podem até ter de passar por certas medidas legislativas. A pressão por parte da manifestação pública desses grupos pode facilitar o trabalho das instituições que têm de se confrontar com a sua intervenção na esfera das suas competências, mesmo que inicialmente seja desconfortável devido aos conflitos de interesses que possa gerar. 

Muitas pessoas acabam por se sentir mais empoderados se sentirem que as suas experiências e lutas estão a ser reconhecidas e validadas em espaços públicos e políticos. Essa constatação acaba por fortalecer o sentido de comunidade e solidariedade. É importante reconhecer que o impacto das ações antirracistas pode variar amplamente dependendo do contexto e da execução. Enquanto algumas abordagens podem ser vistas como excessivas ou contraproducentes, outras têm gerado avanços significativos. A chave pode estar em encontrar um equilíbrio que permita a defesa dos direitos e dignidade das pessoas sem alienarem potenciais aliados.

A forma paternalista como a extrema esquerda tem abordado a luta contra o racismo, arvorando-se detentora da sua exclusividade, tem sido criticada por alguns comentadores por a considerarem arrogante e intolerante. Esse perfil faz lembrar outros tempos de má memória. Tempos de dogmatismos que desqualificavam
 qualquer dissidência como sendo imoral e ignorante. Eram dogmatismos que impunham um conjunto rígido de crenças e práticas como sendo moralmente superiores. E todos aqueles que não aderissem a essas crenças podem estar cientes que mais tarde ou mais cedo se iriam ver confrontados com problemas nas suas vidas. 

Os extremistas tendem a argumentar que a urgência das questões sociais e raciais justifica uma abordagem mais direta e inflexível. Que a história mostra que mudanças significativas muitas vezes exigem pressão constante e estratégias disruptivas. Considerando o longo histórico de injustiças e opressões, a assertividade e a firmeza na defesa dos direitos podem ser vistas como uma resposta necessária e proporcional à gravidade dos problemas enfrentados. Que a criação de uma identidade coletiva forte, e a mobilização em torno de símbolos e práticas comuns, pode ser a estratégia mais eficaz para engajar e manter a coesão entre ativistas para sustentar os movimentos a longo prazo.

As desigualdades socioeconómicas, historicamente enraizadas, afetam de forma desproporcional as comunidades. Fatores como pobreza, acesso limitado à educação de qualidade e oportunidades de emprego, está demonstrado há muito que influenciam as taxas de criminalidade. Daí que seja em determinadas áreas urbanas que os agentes policiais tenham de intervir mais vezes. As estatísticas mostram que é nos bairros mais pobres que a guerra contra o tráfico da droga é mais intenso. Ora, esse facto conduz inexoravelmente a taxas de detenções e encarceramentos mais elevadas. Embora não seja o único fator, não é de descartar que a discriminação racial possa ter aqui algum viés. É de presumir que haja preconceitos, conscientes ou inconscientes, entre os agentes da lei. O padrão repetitivo produz sistema. Daí que as estatísticas mostrem que os indivíduos mais frequentemente parados na estrada por parte da polícia sejam negros. Independentemente de tudo o que se disse, não invalida que ainda haja discriminação racial, e que ainda haja numerosos relatos e evidências anedóticas de práticas discriminatórias por parte das forças policiais, incluindo violência desproporcional.

Políticas baseadas em dados incompletos ou distorcidos são menos propensas a serem eficazes. Intervenções mal direcionadas podem falhar em abordar as causas reais dos problemas, desperdiçando recursos e tempo. Deve-se evitar polarizar ainda mais a sociedade, o que dificulta o diálogo para a obtenção das soluções mais construtivas e eficazes. É importante que se faça uma reflexão sobre os estereótipos que se criam, sejam de forma consciente ou inconsciente. E que se analisem as distorções que acabam por provocar os tais dilemas quando se tentam abordar de forma séria os problemas socioeconómicos subjacentes aos aspetos raciais. Abordar as questões de forma honesta é crucial para a identificação e a solução dos problemas. Varrer "o lixo para debaixo do tapete", como se costuma dizer, certamente que não resolve; apenas os oculta temporariamente. Políticas e intervenções eficazes dependem de uma compreensão precisa da realidade. Se as análises se enviesam para evitar estereótipos, então perder-se-á a oportunidade de desenvolver as melhores soluções de forma eficaz. 

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