domingo, 22 de setembro de 2024

Autodeterminação e Dignidade dos palestinos


Autodeterminação e Dignidade dos palestinos tem a ver com a sua resistência à ocupação israelita, sobretudo no que diz respeito aos colonatos da Cisjordânia. Qualquer grupo, seja ele palestino, israelita ou outro, tem o direito de buscar autodeterminação e dignidade. A ideia de que um povo deve "aceitar" a supremacia ou inteligência de outro é problemática, pois pode ser interpretada como uma forma de paternalismo ou imperialismo. Cada grupo tem o direito de tomar decisões sobre o seu futuro e buscar o seu próprio caminho para o desenvolvimento.

O conflito entre israelitas e palestinos está profundamente enraizado em décadas de história, marcada por deslocamentos, guerras e ocupações. Israel é um Estado democrático e altamente desenvolvido a vários níveis da ciência e tecnologia, para além da sofisticação dos seus serviços de informações e inteligência que lhe tem garantido um bom desempenho na sua luta pela sobrevivência, como Estado, num Médio Oriente de uma dezena de países de filiação árabe e islâmica que lhe são hostis. A fama da inteligência do povo judeu e da sua resistência às adversidades é por demais conhecida pelos historiadores e não só, mas simplificar a situação em termos de superioridade intelectual pode ignorar as feridas e os traumas que ambos os lados sofreram.

Tanto os judeus como os palestinos têm culturas ricas e complexas. Reduzir o conflito a uma questão de "aceitar a supremacia do outro" desconsidera as nuances culturais, as diferentes formas de vida e as tradições que ambos os povos prezam. Para que uma solução para o conflito seja duradoura e justa, ela deve ser baseada no respeito mútuo, na justiça e na igualdade. Qualquer solução que envolva a submissão ou a renúncia de direitos de um grupo em favor do outro provavelmente não será sustentável a longo prazo e pode perpetuar o ciclo de violência e ressentimento. Ora, do lado dos palestinos, grupos como o Hamas também não têm ajudado à pacificação quando nos estatutos da sua génese está a extinção do Estado de Israel na região. É essa também a doutrina do Irão, razão por que ajuda o Hamas na sua luta, mesmo que na contenda xiismo/sunismo entre países islâmicos o Irão seja xiita e a filiação do Hamas seja sunita.

A resolução de conflitos geralmente requer empatia e disposição para ouvir e entender as preocupações do outro lado. Considerar as aspirações e os medos de ambos os lados é crucial para encontrar um caminho para a paz. Portanto, mesmo que se possa admirar a inteligência ou o sucesso de um dos lados, e ter empatia e compaixão pelo sofrimento dos inocentes palestinos, mais pobres e mais fracos, é importante lembrar que a paz e o desenvolvimento verdadeiro vêm de soluções que respeitem todos os envolvidos e que promovam a dignidade, a justiça e a coexistência pacífica. O conflito entre israelitas e palestinos é, de facto, um dos mais complexos e duradouros da história moderna, com consequências trágicas para ambos os lados. A postura que cada grupo adota, tanto em termos de estratégia política como de resistência, é muitas vezes influenciada por décadas de desconfiança, violência, e tentativas falhadas de diálogo e negociações.

Em qualquer conflito, quando há perda significativa de vidas civis, especialmente entre populações vulneráveis, é natural que surjam acusações de genocídio ou crimes de guerra. A violência, independentemente de sua origem, muitas vezes resulta em consequências humanitárias severas, que podem ser interpretadas e rotuladas de diferentes maneiras dependendo da perspectiva. É possível argumentar que algumas estratégias adotadas por líderes palestinos, como a resistência violenta ou o não reconhecimento de Israel, podem ser vistas como contraproducentes para a causa palestina. A história mostra que a resolução duradoura de conflitos geralmente vem através de negociações e compromissos, em vez de confrontos contínuos. Para que ambos os lados possam avançar, é necessário um esforço significativo para encontrar pontos comuns e soluções que respeitem os direitos e aspirações de todos os envolvidos.

Em suma, tanto israelitas como palestinos têm responsabilidades na escalada e na resolução do conflito. Acusar unilateralmente um lado ou outro sem considerar o contexto mais amplo pode obscurecer a compreensão dos fatores que perpetuam o conflito e dificultar a busca por uma solução justa. A história nos ensina que posturas intransigentes e o uso contínuo da força raramente levam a soluções sustentáveis. A paz exige compromisso, entendimento mútuo e, muitas vezes, sacrifícios de ambas as partes para construir um futuro onde ambos os povos possam coexistir em segurança e dignidade.

A situação na Palestina pode ser vista como um exemplo da tese de Hobbes sobre a natureza do conflito e a necessidade de uma autoridade central para evitar o caos e a violência. Thomas Hobbes, em sua obra "Leviatã", argumentou que, no estado de natureza, onde não há uma autoridade central ou um poder soberano para impor a ordem, os seres humanos vivem em uma condição de "guerra de todos contra todos" (bellum omnium contra omnes). Segundo Hobbes, sem um poder central para manter a paz, a vida é "solitária, pobre, sórdida, brutal e curta". Essa visão pode ser aplicada ao conflito Israel/Palestina de várias maneiras. Nos territórios palestinos, especialmente em Gaza e na Cisjordânia, há uma fragmentação da autoridade. Gaza é governada pelo Hamas, enquanto a Cisjordânia é administrada pela Autoridade Palestina, que tem uma legitimidade limitada e enfrenta desafios internos. Hamas e Autoridade em Ramallah não apenas não se entendem como se guerreiam. Essa divisão e a falta de uma autoridade soberana forte dificultam a criação de uma paz duradoura e estável, algo que Hobbes sugeriria como necessário para evitar o caos.

A ausência de um acordo definitivo de paz e de uma autoridade que ambos os lados reconheçam e respeitem contribui para o ciclo de violência e instabilidade. A situação lembra o estado de natureza hobbesiano, onde, sem um poder capaz de impor a paz, os conflitos persistem e a segurança das pessoas está constantemente ameaçada. Hobbes propôs que os indivíduos devem fazer um pacto social, entregando parte da sua liberdade a um soberano em troca de segurança e ordem. No contexto do conflito Israel/Palestina, isso poderia ser visto como a necessidade de um acordo negociado, onde ambos os lados concordam em ceder certos pontos para alcançar a paz e a estabilidade. Sem um "Leviatã" ou uma autoridade reconhecida para impor esse acordo, o conflito continua.

Historicamente, muitos estados e impérios se formaram através de conflitos e guerras. A criação de fronteiras, a unificação de territórios e a formação de governos centrais muitas vezes ocorreram após períodos de conquista e guerra. Esses processos de centralização de poder e formação de estados ajudaram a estabelecer leis e sistemas administrativos que, em alguns casos, contribuíram para períodos de estabilidade e paz relativa dentro desses estados. Em alguns casos, conflitos resultaram na criação de sistemas políticos e instituições que, eventualmente, promoveram a paz. Por exemplo, o fim da Segunda Guerra Mundial levou à criação da Organização das Nações Unidas e a uma série de tratados e instituições internacionais que buscavam prevenir futuros conflitos e promover a cooperação global. A guerra também tem sido um catalisador para inovações tecnológicas e sociais. Muitas vezes, o desenvolvimento de novas tecnologias e métodos de organização resultantes de conflitos tiveram impactos positivos em tempos de paz, contribuindo para o progresso social e económico. No entanto, é importante reconhecer que a guerra tem um custo humano e social imenso. A destruição, a perda de vidas, o deslocamento de pessoas e os traumas causados pelos conflitos muitas vezes superam os benefícios de qualquer ordem estabelecida posteriormente. Além disso, a ideia de que a guerra é um "caminho" para a paz pode ser vista como uma racionalização para a violência, ignorando alternativas como diplomacia, negociação e desenvolvimento de mecanismos de resolução de conflitos.

A situação na Palestina é extremamente complexa e tem raízes históricas, políticas e sociais profundas. A culpa pelo estado atual da Palestina pode ser atribuída a uma combinação de fatores e atores ao longo de mais de um século. Portanto, enquanto é verdade que a guerra desempenhou um papel significativo na formação de algumas sociedades e sistemas políticos, a crueldade e o sofrimento causados pelos conflitos levantam questões éticas e práticas sobre a eficácia e a moralidade de usar a guerra como um meio de alcançar a paz. A busca por métodos alternativos de resolução de conflitos continua sendo um objetivo crucial para a construção de um mundo melhor.

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