quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Dinastia Shang



Dinastia Shang (c. 1600 a.C. – 1045 a.C.) foi a segunda dinastia registada pela historiografia tradicional chinesa, e também um influente estado no qual o registo mais antigo do passado da China foi escrito, possivelmente no século XIII a.C. na forma de inscrições divinatórias em ossos ou carapaças de animais. A Dinastia Shang tinha influência desde o norte do rio Amarelo a sul do rio Han e Yangtzé, do Shandong ao sul do Henan, do mar Amarelo a Banpo. Os Shang já eram poderosos antes de suplantarem os Xia e coexistiram com a Dinastia Zhou e a Dinastia Xia. Antes dos Shang, houve a China pré-histórica e a Dinastia Xia.



Mapa (traço verde) da Dinastia Shang dos Anais de Bambu
Sec. XVII - XI

Na Dinastia Shang, houve uma série de capitais, das quais a mais importante era Zhengzhou, capital durante o período inicial e intermédio da Dinastia. Ela tinha uma muralha com cerca de 6,4 Km de comprimento e 10 metros de altura, que protegia um grande povoado. Os edifícios e a muralha usavam a técnica de terra calcada. Já a cidade de Anyang foi ocupada entre 1300 e 1050 a.C. e descoberta na década de 1830. 
No âmbito dos rituais religiosos, os Shang costumavam organizar cerimónias onde a realização de sacrifícios humanos era recorrente. Sua organização política era monárquica e contava com um peculiar sistema sucessório. Usualmente, o trono era herdado do irmão mais velho para o irmão mais novo.



Carrilhão em forma de porco - instrumento de percussão

Em Zhengzhou, as casas e oficinas descobertas indicam que a sociedade Shang era incrivelmente organizada, governada rigidamente e socialmente estratificada. Nos arredores de Anyang, em Xiaotun, foram descobertos indícios do que teria sido o centro cerimonial e administrativo do estado Shang na sua fase tardia. Em Xibeigang, 3 quilómetros a norte foram descobertos 11 grandes túmulos cruciformes que podiam pertencer aos 11 monarcas Shang, que segundo os registos existentes teriam reinado em Anyang.




Os Shang, que dominaram a região do vale do rio Amarelo antes dos Zhou, tinham uma religião centrada no culto aos antepassados e na adoração de espíritos e deuses, com um foco particular no Shangdi, o "Senhor no Alto", que era visto como a divindade suprema que controlava os destinos humanos e as forças da natureza.

Os autores ocidentais muitas vezes não destacam suficientemente a importância da China no desenvolvimento precoce de instituições estatais. No entanto, a China tem uma das mais antigas tradições de governo centralizado e de formação de um Estado institucionalizado, o que pode ser observado na dinastia Zhou (1046-256 a.C.), que estabeleceu a base para o que viria a ser o Estado chinês centralizado. 
Quando os Zhou assumiram o poder, eles introduziram um novo conceito religioso e filosófico que viria a ter uma influência duradoura na história chinesa: o Mandato do Céu (Tianming). Segundo essa ideia, o direito de governar não era hereditário ou concedido por linhagem divina, como na religião Shang, mas sim baseado na virtude e na moralidade do governante. O Céu (Tian) concedia seu mandato ao governante justo, que deveria governar em benefício do povo, mantendo a harmonia e a justiça. Se um governante se tornasse tirânico ou corrupto, ele poderia perder o Mandato do Céu, justificando a sua remoção ou substituição. Essa mudança introduzida pelos Zhou representou uma evolução ética na política e na religião da China antiga. A legitimidade do governo passou a ser ligada ao comportamento moral e à justiça, e não apenas ao poder ou à herança. Essa visão ética do poder teria profundas implicações no desenvolvimento da filosofia chinesa, influenciando escolas de pensamento posteriores, como o confucionismo.

Depois veio a dinastia Qin (221-206 a.C.), que foi responsável por unificar a China e por implementar um sistema de administração estatal que centralizou o poder e estabeleceu instituições que viriam a perdurar ao longo das dinastias subsequentes. A criação de um corpo burocrático profissional, baseado no confucionismo e em exames meritocráticos, também é um exemplo notável do desenvolvimento institucional chinês. Esse foco histórico na China como pioneira na formação de instituições estatais tem sido subvalorizado em parte pela predominância de uma perspectiva eurocêntrica na historiografia ocidental, que tende a valorizar mais as tradições políticas do Ocidente, como a Grécia e Roma, em detrimento de outras civilizações. No entanto, essa perspectiva tem mudado ao longo dos anos, com um reconhecimento crescente do papel significativo que a China desempenhou na história global.

Sem comentários:

Enviar um comentário